sábado, 23 de julho de 2011

À terceira, o Tour de Cadel Evans, um Evans de topo

À terceira vez que vai para o contra-relógio final com o objectivo de chegar à camisola amarela, Cadel Evans consegue e vence a Volta a França! De 2007 até hoje, Evans mudou muito. Deixou de ser um corredor de ir na roda para se tornar um ciclista ofensivo, foi campeão do mundo e fez tudo o que estava ao seu alcance para ganhar este Tour.

Andy Schleck não fez um mau contra-relógio, talvez até o melhor da sua carreira, terminando entre os 20 melhores. Mas a vitória no Tour é de Evans, um Evans que hoje foi um minuto mais forte do que no Dauphiné Libéré, um Evans que não teve equipa ao seu nível mas que soube arriscar a descer para Gap, soube assumir a responsabilidade a subir para o Galibier e soube ser frio a caminho do Alpe d’Huez.

Um Tour vencido em 21 dias

Só um grande incidente (que esperamos que não aconteça) poderá impedir que Cadel Evans se coroe amanhã, no tão ambicionado pódio de Paris, vencedor da Volta a França de 2011. A carreira de Cadel Evans no mundo das bicicletas e todas as suas mudanças (do BTT para a estrada, de modo de correr, de modo de preparar a época, de equipa, etc) merecem um artigo à parte. Aliás, a partir de amanhã, Cadel Evans merecerá ser tratado como um ciclista especial, como um dos que tiveram o “privilégio” de vencer a Volta a França. Deixará de ser um grande ciclista de Tour para se tornar um vencedor de Tour.

Para ganhar esta Volta a França, Evans apostou em entrar nela a todo o gás. Segundo na primeira etapa, a rebocar a sua equipa para mais um segundo lugar no contra-relógio colectivo, vencedor no Mûr-de-Bretagne, 3º em Super Besse e 6º em Saint-Flour, passou as primeiras etapas à frente dos seus adversários para a classificação geral. Não chegar à camisola amarela logo na primeira semana poderá ter sido decisivo para esta vitória. Deste modo, poupou a pouca força colectiva que tinha.

Nos Pirenéus defendeu-se e nos Alpes voltou a defender-se o máximo que pôde, como se viu na chegada ao Galibier, quando assumiu a perseguição para Andy Schleck e conseguiu retirar dois minutos ao luxemburguês. Evans ainda não é um ciclista para vencer chegadas ao alto, mas muito tem evoluído desde 2007 e defende-se muito, muito bem.

À partida, pensava-se que 57 segundos entre Andy Schleck e Evans deixariam a discussão da corrida em aberto até aos quilómetros finais, mas Evans contrariou essas expectativas. O contra-relógio de Andy Schleck não foi muito mau. Sim, foi mau para quem quer vencer a Volta a França, mas foi o melhor (ou um dos melhores) da sua carreira, perdendo 1’32’’ para Contador, 1’08’’ para Richie Porte, 54’’ para Candellara, 35’’ para Peter Velits e 30’’ para Tom Danielson, todos eles bons contra-relogistas. Hoje, Evans não beneficiou de um dia mau de Andy Schleck. Evans criou o seu grande dia!

Este contra-relógio já tinha sido disputado em Junho, no Critérium du Dauphiné, com Tony Martin a vencer, tal como hoje. Na altura, ao quarto dia de prova, Tony Martin gastou 55’27’’, menos 6 segundos do que hoje. Naturalmente, hoje os tempos seriam mais fracos (com mais tempo despendido), provocados pelo desgaste de 20 dias, mesmo para homens como Tony Martin, que se pouparam durante os Alpes a pensar no dia de hoje. Entre os que estiveram nos primeiros lugares em ambas as vezes que disputaram este contra-relógio, Rein Taaramae piorou 13 segundos, Adriano Malori 40’’, Jérôme Coppel 49’’ e Christophe Riblon piorou 1’08’’. Isto para não falar de Boasson Hagen, que piorou 1’33’’ mas teve um problema mecânico, o nosso Rui Costa que hoje esteve muito longe dos primeiros lugares e piorou 2.45 minutos ou Geraint Thomas que esteve 2’54’’ mais lento comparativamente a Junho.

Se não me falham as contas, apenas dois dos homens que disputaram os primeiros lugares do CdD conseguiram estar hoje melhores do que a 8 de Junho… e de que maneira! Mesmo com 19 dias de competição, ultrapassado Pirenéus e Alpes a fundo, Thomas Voeckler melhorou 48 segundos e Cadel Evans melhorou 1.07 minutos!!! Choque? Para mim, confesso, algum. Ciclistas que em Junho já andavam bem (respectivamente 10º e 2º no Critérium du Dauphiné), conseguiram andar ainda melhor após 19 dias de competição. De qualquer forma, parece claro. Não foi um medíocre Andy Schleck que perdeu hoje a camisola amarela. Foi um enorme Cadel Evans que a conquistou!

À falta da Paris…

Em Paris, apenas a classificação dos pontos estará em disputa (além da etapa, claro). Andy Schleck e Frank Schleck (20º hoje) estarão no pódio final, Voeckler conseguiu segurar o seu quarto lugar, apesar da excelente prestação de Alberto Contador hoje, terceiro na etapa. Damiano Cunego caiu de 5º para 7º mas conseguiu a sua melhores prestação na Volta a França desde sempre, o que lhe poderá dar uma nova motivação e certamente o fará pensar sobre o tipo de provas em que deverá apostar em 2012. Ivan Basso fica-se pelo oitavo lugar, quebrando nos últimos dias, o que leva a crer que já não tem capacidades para chegar ao pódio do Tour e se deverá centrar no Giro e na Vuelta. Tom Danielson, estreante no Tour, é 9º, alcançando o seu objectivo de terminar entre os dez melhores. O décimo é Jean-Christophe Peraud, outro estreante na prova, veterano que apenas no ano passado se começou a dedicar ao ciclismo de estrada e em 2008 tinha sido medalhado nos Jogos Olímpicos de Pequim… no BTT. Pierre Rolland ficou fora do top-10 mas com a camisola branca, o que enche os franceses de esperança para os próximos anos. Rein Taaramäe ficou a 46 segundos da branca, no 12º posto da geral.

A camisola verde, no corpo de Cavendish, é a única que poderá mudar de dono. Para isso, Rojas terá que ganhar com Cavendish fora dos três primeiros. Se Rojas for 2º, a Cavendish basta ser 6º, se o espanhol for 3º, basta ao britânico ser 8º. Isto, sem contar com o que poderá acontecer no sprint intermédio. De qualquer forma, é muito improvável que Cavendish, vencedor em Paris em 2009 e 2010, perca a camisola que por poucos pontos lhe fugiu nos dois últimos anos.

*****
Tal como disse no começo deste artigo, Evans e a sua carreira merecem um outro só para ele, que virá já no começo da próxima semana. Desde já, todos os parabéns para ele e o ciclismo australiano, que tanto tem evoluído.

Ah, e sabiam que Cadel Evans já ganhou em Portugal?

5 comentários:

  1. Boa tarde,

    Boa análise, apenas com um reparo nem uma menção ao Samuel Sanchez que, em minha opinião, fez uma excelente volta conquistando a camisola da montanha venceu 1 etapa, fez 2º noutra e hoje surpreendeu no TT.

    Cumprimentos

    PL

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  2. Boas, PL.
    Completamente de acordo. Não o referi nas contas da geral por completa distracção, mas concordo que foi uma grande prestação por parte do Samuel Sánchez ;)

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  3. Ganhou em Silves numa prova da taça do mundo de XC, no final dos anos 90! :)

    Parabéns pelo artigo e pelo blog, do qual sou um atento leitor.

    cumprimentos

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  4. Obrigado pelo comentário, Breites.
    Exactamente ;) Foi em 98.

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  5. Dei uma olhada no contra-relógio do ano passado e vi o quanto Cadel Evans foi mal. Mas acho que foi porque ele estava fora da briga, quando vi seu resultado de 2007 e 2008 mudei completamente minha opinião ... lembrou a vitória de Greg LeMond de 1989.

    Net Esportes - http://netesporte.blogspot.com

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