quarta-feira, 20 de julho de 2011

Volta a França de alto risco!

Quem atacará, quem responderá e quem irá ceder?
Volta a França de loucos! Depois das quedas criarem as primeiras diferenças entre pretendentes à vitória neste Tour e de uns Pirenéus atacados a medo, ontem e hoje não faltaram ataques, inclusive a descer. Alberto Contador foi um dos que mais atacou (a subir e a descer), Thomas Voeckler tanto arriscou que quase deixou a sua camisola amarela na descida para Pinerolo e os noruegueses já levam mais duas vitórias.

Nos próximos dois dias haverá uma contagem de primeira categoria e cinco de especial categoria. A partir de agora, não há mais espaço para os irmãos Schleck olharem para trás e vão ter que atacar, Alberto Contador e Samuel Sánchez estão na mesma situação, Cadel Evans terá que se defender e, claro, Thomas Voeckler.

A descer também vale

Ainda a etapa de terça-feira não tinha começado e já Andy Schleck cometera o se primeiro erro, ao criticar estes dois finais a descer e alertando para o perigo que seria em caso de chuva. Os dois luxemburgueses nunca mostraram grande inteligência a correr e voltaram a não mostrar com estas declarações. Estavam em muito boa posição, apenas com Voeckler e Evans pela frente e com a vantagem de poderem jogar em equipa, e deram a conhecer a toda a gente os seus pontos francos e, mais grave, os seus receios. Foi como se namorassem com a mulher mais bonita da cidade e dissessem a toda a gente que ela está chateada, desiludida e carente.

Aproveitando isto, Contador atacou na subida para o Col de Manse, ao contrário do que eu esperava. Ainda não consegui perceber se Contador é um humano ou uma máquina. Depois de dois dias de Pirenéus tão justo de força, bastou uma etapa mais fácil e um dia de descanso e aí está ele, ao seu melhor nível. Dar um dia de descanso a Contador, quando está mal é como levar um electrodoméstico para a reparação… volta novinho em folha. The show must go on!

Andy Schleck respondeu muito bem aos primeiros dois ataques de Contador mas ao terceiro abriu para o lado, dando a ideia de uma quebra dos níveis de açúcar ou algo semelhante. Felizmente para ele, a subida era curta, infelizmente, ainda havia uma descida onde perdeu mais tempo que a subir. O que teve o mais novo da família Schleck não foi falta de forma, mas sim algo repentino.

Cadel Evans foi quem mais ganhou ontem na luta pela camisola amarela: distanciou muito Andy Schleck, para Frank Schleck ganhou 21 segundos e aguentou os ataques de Contador.

Onde certamente houve grande festa foi na Noruega. Thor Hushovd e Edvald Boasson Hagen protagonizaram grandes exibições e discutiram entre eles a vitória, com o mais veterano a levar a melhor. Se já aqui elogiei a atitude de Hushovd sobre a bicicleta, hoje chamo especial atenção para a de Hagen. Hagen queria a sua segunda vitória neste Tour, não a conseguiu ontem e hoje voltou a lutar para marcar presença na fuga do dia. Conseguiu lá estar e, com mais uma grande exibição, venceu. Segundo triunfo para a sua conta pessoal nesta Volta a França, quarta para noruegueses, havendo ainda para acrescentar sete dias de camisola amarela para Hushovd. Se continuarem assim nos próximos tempos, o ciclismo ainda se torna mais popular por aquelas bandas que os desportos de inverno.

18ª etapa, chegada a Galibier, na quinta-feira
Além da vitória de Hagen, o dia de hoje foi marcado por mais ataques de Alberto Contador, mas com Andy Schleck a responder à altura durante a subida. Durante a descida é que foi diferente, com Contador e Samuel Sánchez a fugirem aos restantes favoritos e a conseguirem ganhar alguma distância. Obviamente, os espanhóis aliaram-se, mas não se pense que Samuel Sánchez estava a trabalhar para Contador. Ambos tinham a ganhar com aquela situação de corrida, já que Sánchez também tem interesse na classificação geral. Quanto puxava, o ciclista da Euskaltel não o estava a fazer para ajudar Contador mas sim para recuperar tempo relativamente aos seus adversários.

Evans, Frank Schleck, Andy, Cunego, Peraud, Taaramae e Vanendert alcançaram o duo espanhol já na recta da meta, com Taaramae a ganhar 8 segundos a Rigoberto Uran, tempo importante para a classificação da juventude, onde o estónio está a menos de um minuto do colombiano. Quem perdeu mais tempo foi Thomas Voeckler, que tentou atacar a descer e teve mais vontade do que habilidade para a coisa. Despistou-se duas vezes e perdeu quase meio minuto para o grupo de Evans. Se perdesse a camisola amarela, talvez a organização pensasse duas vezes antes de colocar este tipo de finais no Tour de 2012. A descida tinha demasiadas curvas difíceis e, aliadas à incontrolável competitividade dos corredores, criaram muitas situações perigosas e saídas de estrada. Quem chegou com Voeckler foi Basso, que perdeu uma posição na geral para Cunego e ficou longe da luta pela vitória na prova.

Dois dias, duas oportunidades… as últimas

Os dois dias que aí vêm, com chegada ao alto, serão as duas últimas oportunidades para vários ciclistas. Nos contra-relógios não há estratégia. Apenas são necessários dotes para a especialidade, ter força e saber geri-la. Por isso, é mais fácil prever que Cadel Evans e Alberto Contador serão, entre os ciclistas que ainda lutam pelo pódio, quem melhor desempenho terá no crono de sábado e que Cadel Evans, se para lá for com esta vantagem, vencerá a Volta a França de 2011.

Os irmãos Schleck, Contador e Samuel Sánchez têm que atacar nestes dois dias. Os Schleck terão que ir para o contra-relógio com dois minutos de avanço para Evans e Contador teria que ir próximo do australiano para poder chegar à quarta vitória no Tour.

19ª etapa, chegada ao mítico Alpe d'Huez, na quinta-feira
Com duas subidas de especial categoria antes da subida final para Galibier, a etapa de amanhã será bastante dura. Colocar um colega de equipa na fuga do dia é uma estratégia velha, que vêm em todos os manuais, mas não deixa de ser vantajosa e poderá ser seguida por qualquer equipa. Além disso, a Leopard deveria atacar com um dos irmãos logo na subida para o Col d’Izoard. Como se viu nos Pirenéus, atacar e criar diferenças quando o grupo tem 9 ou 10 ciclistas não tem sido fácil (principalmente quando atacam com medo e olhar para trás). O mais provável será os ataques decisivos acontecerem na ascensão para Galibier e é para essa situação que todas as equipas estarão alertadas. Um ataque bem sucedido de um dos Schlecks no Izoard obrigará a que a Saxo Bank, BMC e Euskaltel endureçam o ritmo da corrida e desgastem ao máximo toda a gente, deixando apenas na frente os verdadeiros candidatos à camisola amarela em Paris. Se um dos luxemburgueses entrar na subida final com vantagem, muito provavelmente teremos aquele filme que já conhecemos de cor (e não é apenas deste Tour). Quem vai em fuga, vai no seu ritmo constante, olhando apenas para a frente e preocupando-se somente consigo. Quem vai lá atrás, ora arranca, ora trava, depois volta a arrancar e volta a olhar para o lado, saindo beneficiado quem vai na frente. Se a Leopard já levar alguém na frente que possa auxiliar durante a subida final, melhor.

Quanto a Evans, Contador e Sánchez, não há muito que enganar. Convém que tenham colegas seus até o mais perto da meta possível e depois terão que aguentar os ataques adversários e, no caso dos espanhóis, atacar quando possível. Para Voeckler serão dois dias de aguentar e tentar minimizar as perdas e, uma vez que a subida para o Galibier não é assim tão inclinada, não é de esperar que perca demasiado tempo amanhã.

Depois destes seis, temos a luta por um lugar entre os dez melhores. Damiano Cunego e Ivan Basso estão muito bem colocados para isso mas o homem da Liquigas chegou ao Tour com maiores ambições e deverá atacar já amanhã para poder obter algo mais do que o 6º ou 7º lugar. Danielson, Uran, Peraud e Taaramae são bons contra-relogistas, estão próximos uns dos outros e os dois dias que se seguem serão importantes para eles, principalmente para Uran e Taaramae porque, tal como já foi dito, estão em acesa luta pela camisola branca. Kevin De Weert é pior no contra-relógio e para poder estar no top-10 da classificação final terá que ganhar tempo antes de sábado.

Tal como eu tinha dito na segunda-feira, estas duas primeiras etapas de Alpes eram propícias a fugas e dava para jogar para a classificação colectiva. A Gamin conseguiu colocar dois ciclistas entre os fugitivos de ontem e têm agora essa liderança. A Leopard ainda está na luta, a Ag2r não tanto porque no contra-relógio final perderá tempo para as duas formações que encabeçam esta classificação e seria algo surpreendente se nas duas etapas de montanha que faltam conseguisse recuperar 8 minutos para a Garmin e 3 para a Leopard. É menos provável que uma fuga tenha sucesso nestes dois dias, mas ainda assim a Garmin e a Ag2r deverão colocar ciclistas seus nas várias mexidas.

*****
Nestes dias tenho falado apenas de Volta a França mas hoje abro uma excepção: Juan Mauricio Soler já saiu da Unidade de Cuidados Intensivos. Vai continuar internado mais algum tempo mas está melhor. Talvez nunca volte a ser ciclista, mas oxalá possa ter uma vida normal, como a maioria dos homens.

5 comentários:

  1. Nunca na vida o Ciclismo vai ultrapassar os deportos de inverno em termos de popularidade, na Noruega.

    De resto mais um texto excelente

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  2. Obrigado pelo comentário, Filipe :)

    Claro que não. É apenas uma brincadeira.

    Cumprimentos e volte sempre.

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  3. Bom texto, gostei de o ler!

    Este ano é para o Evans :D

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  4. Contador basta ganhar 1minuto e pouco nestas duas etapas que o Evans treme no CR.
    Penso que estas etapas a mais de 2mil metros não são para o evans, e arrisco-me a dizer que ele amanhã ou sexta perde mais de 3minutos!

    Tiago Alves

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  5. Tiago Alves voce estava certissimo no seu prognostico alias não errou em nada.
    Amigo dizer que o Evans não se dava bem nas alturas foi das maiores piadas que eu ouvi.

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