Ricardo Mestre rebentou com a concorrência no duro (duríssimo) contra-relógio que ligou Sabugal à Guarda, sendo também o novo camisola amarela e o super candidato à vitória final. Olhando para a classificação geral e para a equipa que tem para o defender, dificilmente Mestre perderá esta liderança. E, apesar de Hernâni Brôco ser a principal ameaça, a postura (e capacidade) de Rui Sousa, Vergílio Santos, Ricardo Vilela e João Cabreira será importante para o desfecho desta Volta.
Vidal Fitas está como gosta: apenas tem que controlar. Os outros directores desportivos têm uma boa oportunidade de mostrarem que percebem de ciclismo e sabem como atacar a classificação geral.
Ricardo Mestre foi… Mestre
Fazer trocadilhos com o nome de Ricardo Mestre, certamente não é novidade, mas Mestre esteve soberbo hoje, num nível acima de todos os outros, e não resisto a faze-lo (tal como os jornais farão nas suas edições de amanhã).
A primeira vez que as atenções se viraram para este Mestre (que não tem nenhum grau de parentesco com o seu colega Daniel) foi em 2006, na etapa que terminaria em Fafe. Ricardo Mestre esteve na fuga do dia, inicialmente com 18 ciclistas e que na primeira passagem por Fafe estava transformado num duo, com Mestre e Tiago Machado. A organização esteve mal, colocando as faixas de distância para o final antes da última volta, e os dois jovens (então com 22 e 20 anos) deixaram-se enganar. Mestre atacou pensado que estava muito próximo da meta e quando se preparava para comemorar percebeu que ainda lhe faltava percorrer um circuito de dez quilómetros (Machado também foi enganado). Resistiu ao pelotão, venceu e vestiu a camisola amarela, que perderia no dia seguinte, na Senhora da Graça. Terminou essa Volta no 9º lugar, como vencedor da montanha e da juventude, classificação que só não voltou a vencer em 2007 porque a organização a limitou até corredores sub-23 (no ano anterior e na maioria das provas internacionais é para sub-25).
No final da etapa de hoje, quando vi Cândido Barbosa junto de Ricardo Mestre, não pude deixar de pensar nas diferenças entre as suas formas de estar. Cândido Barbosa, sempre preocupado com a imagem que transmite mas não com o que é, precisava de uma máquina fotográfica ou uma câmara de filmar para sorrir. Mestre é o contrário. Talvez amanhã seja diferente do costume, mas quem já está habituado a vê-lo antes das provas sabe que é dos mais bem-dispostos, que sorri para toda a gente e sem manias. Quando tem que subir ao pódio ou falar para a televisão, fica “sem jeito”, mas a falar com a bicicleta e com as pernas está à vontade. Já aqui escrevi que ele, André Cardoso e Hernâni Brôco merecem um lugar entre a elite do ciclismo internacional. Não digo para vencerem ou discutirem os triunfos nas principais provas, mas, pelo menos, para ajudarem outros ciclistas a estar na discussão.
O contra-relógio de hoje era mais duro do que dava a entender o perfil que a organização tinha disponibilizado, muito mais duro, e daí saíram resultados diferentes do que era por mim esperado e do que, julgo, esperaria a maioria das pessoas. No final da prova, muita gente terá apenas o contra-relógio e a etapa da Torre na cabeça e dirá que o percurso da Volta era realmente muito duro. Mas é de relembrar que, antes deste contra-relógio não houve nenhuma etapa que provocasse diferenças importantes (excepto para eliminar quem está mal preparado).
Como dizia Vidal Fitas no final, Ricardo Mestre tem sido um dos melhores contra-relogistas em Portugal nos últimos anos. A sua baixa estatura engana, mas os resultados anteriores falam por si. Essa qualidade, passada para um terreno acidentado que lhe é mais favorável do que os percursos da generalidade dos contra-relógios, deram um minuto de diferença para o segundo classificado, Hernâni Brôco. Brôco não esteve mal, claro que não, deixando o terceiro e o quarto a 42 segundos e ganhando mais de um minuto a quase todos os adversários (excepção feita para Ricardo Vilela, André Cardoso, Rui Sousa e, claro, Mestre). O que tivemos hoje foi um Mestre que cilindrou toda a concorrência. “Apenas” isso.
Rui Sousa perdeu 1.55 minutos, demasiado tendo em conta o que tem feito nos mais recentes contra-relógios e que este se adaptava melhor às suas características. Com isto, apesar de ser quinto, parece-me mais uma demonstração de que não está em tão boa forma como no ano passado. Ainda na Barbot, Sérgio Ribeiro aguentou-se bem, cedendo apenas 2’28’’ minutos para Mestre, o que causa alguma surpresa. De qualquer forma, sendo um contra-relógio acidentado, também é melhor para Sérgio Ribeiro do que se fosse um contra-relógio plano, pois não é um trepador nato mas desenrasca-se melhor nestas subidas (que não eram montanhas de especial categoria nem nada lá perto) do que a puxar em terreno plano.
João Cabreira perdeu 2’39’’ e está agora a 4’25’’ de Mestre, 2’07’’ mais que Ricardo Vilela, o melhor corredor do Boavista na classificação geral e que deve ser a aposta para o pouco que resta de prova.
O que ainda pode acontecer?
Com a quantidade de opções que tem a Tavira-Prio, antes do contra-relógio eu acreditava que iriam tentar rebentar a corrida na etapa da Torre e, se necessário, na etapa da Sertã. Porém, tendo a camisola amarela, caberá à equipa algarvia controlar o que falta de prova.
Não são de esperar grandes invenções de Vidal Fitas. Não é para André Cardoso nem Nelson Vitorino atacarem e confundirem os adversários. A jogada de amanhã será simples: controlo. Tendo os nove homens ainda em prova, Samuel Caldeira, Luís Silva, Tomas Metcalfe, Daniel Mestre e Henrique Casimiro controlarão o pelotão até onde puderem. Quando o último destes ficar sem forças, é de esperar que o grupo já esteja pouco numeroso, já que a etapa é dura e entre os 95 corredores ainda em prova boa parte deles não tem qualidade. Depois, David Livramento, Nelson Vitorino e André Cardoso assumirão o controlo da corrida, já que os 44 segundos que separam Mestre e Brôco são confortáveis e Mestre apenas terá que ir na roda.
O percurso da etapa da Torre |
A Barbot-Efapel, que tem estado muito bem durante toda a temporada sempre que tem que controlar (seja para defender uma liderança ou para levar alguém à vitória no sprint), terá que atacar. Sérgio Ribeiro é o melhor colocado na geral a 1’58’’, Rui Sousa está a 2’29’’ e Sérgio Sousa a 3’37’’. Será difícil que algum deles ganhe tempo a Mestre e Brôco, parecendo-me que a melhor solução é partir a corrida para que André Cardoso seja obrigado a desgastar-se na defesa de Mestre e que um dos Sousas possa chegar ao pódio. De qualquer forma, André Cardoso é difícil de quebrar e é o mais forte candidato a completar o pódio em Lisboa.
E a Onda? O discurso continua igual: Cabreira é o líder. A diferença é que já se passaram oito dias de prova e Ricardo Vilela está no quinto lugar, 2.07 minutos à frente de Cabreira. A Onda é a única equipa portuguesa que ainda não venceu nenhuma etapa nem vestiu de amarelo, sendo o maior protagonismo conseguido fruto da fuga de Célio Sousa na quinta-feira. Terão que fazer algo amanhã. Poderão atacar de longe para tentar a vitória na etapa, mesmo que tenham que colocar vários homens ao ataque. Não é colocar gente para levar João Cabreira à vitória na Volta, que isso já está impossível, mas sim colocar, por exemplo, dois ou três ciclistas que ajudem o Daniel Silva a disputar a etapa ou até mesmo o João Cabreira, se bem que a este não deverão conceder muita liberdade. Claro que é quase impossível colocar três ou quatro corredores da mesma equipa numa escapada de 6 ou 7 corredores, mas, quanto maior for o grupo, mais homens a Onda-Boavista lá deverá ter.
Poderão também optar por proteger Ricardo Vilela e tentar levá-lo a uma boa classificação geral, se bem que um quarto ou quinto lugar na Volta sem nunca ter sido ameaça à camisola amarela ou ter disputado etapas não dá grande visibilidade. O que não deverão esperar é que João Cabreira discuta um lugar no pódio e até a hipótese de discutir a vitória na etapa me parece muito difícil.
Entre os estrangeiros, Alessandro Bisolti e Sergey Firsanov lutarão por um lugar no top-10 e é de esperar que estejam ao ataque, como já estiveram nesta Volta. Garinkoitz Bravo tem a camisola da juventude com mais de um minuto de vantagem sobre Bruno Silva e, a menos que tenha um dia muito mau, deverá mantê-la. Quanto à classificação da montanha, Hernâni Brôco é um forte candidato a destronar Fabricio Ferrari, que esteve muito bem na segunda etapa em linha mas depois desapareceu. Dependerá do lugar de Brôco na chegada à Torre, pois não se deverá desgastar nas restantes contagens. O dia de amanhã não será importante para a classificação da regularidade e a colectiva parece entregue à Tavira-Prio.
A jornada de amanhã terá tudo para ser muito disputada, animada e uma das melhores das últimas Voltas a Portugal. Esperemos que os corredores façam por isso!
É impossível não visitar este blog diariamente tal é a qualidade das análises que o Rui coloca, mais uma vez parabéns.
ResponderEliminarAmanhã penso que o João Cabreira irá atacar bem cedo, logo à saída da Covilhã (o Rui Sousa da Barbot poderá fazer o mesmo)e provavelmente levará consigo o Daniel Silva,já Ricardo Vilela que é o melhor elemento do Boavista na geral ficará junto dos outros favoritos e se sentir bem na subida final atacará para tentar chegar ao pódio.
O Tavira tentará controlar a corrida e nem precisam de se desgastar com o Nélson Vitorino e o André Cardoso a puxar na frente, deixarão essa tarefa para os adversários, nomeadamente para o Sérgio Sousa e o Vergílio Santos que irão tentar seleccionar o grupo em prol dos seus líderes e nos últimos quilómetros da etapa o Ricardo Mestre até pode atacar e alargar a vantagem para os restantes.
Para vencer a etapa de amanhã aposto em 3 possibilidades...o camisola amarela Ricardo Mestre será a minha principal aposta, penso mesmo que ele irá alargar a vantagem para os restantes..as outras possibilidades em quem aposto serão Alessandro Bisolti (tanto ele como Firsanov tentarão atacar para subir alguns lugares na geral se bem que o russo não o vejo a vencer a etapa)e o Rui Sousa.
PS: Não coloco o João Cabreira no rol de apostas para vencer a etapa pois penso que ele vai atacar muito cedo e pagar o esforço mais à frente na etapa.