Andrew Fenn já leva duas vitórias em 2012 |
Frequentemente, entre amigos que gostam de ciclismo, alguém
fala num ciclista que deixa os outros a perguntarem «quem é esse?».
Naturalmente, há quem acompanhe quantas provas possa, há quem acompanhe apenas
as que dão na televisão portuguesa ou parte delas e há quem apenas acompanhe
Volta a Portugal, Volta a França e pouco mais. Neste blog sempre tentei
escrever de modo a que interessasse à maior quantidade de gente possível e é
nessa linha de pensamento que escrevo este artigo.
Estes são quinze jovens de equipas World Tour em quem vejo muito potencial e
acredito que comecem já em 2012 a dar nas vistas para o grande público. Edvald
Boasson Hagen e Peter Sagan, entre outros, já não fazem parte da lista e claro
que alguns destes acabarão por estar abaixo das expectativas, mas aqui fica a
lista:
Andrew Fenn (01/07/1990, Omega Pharma-Quick
Step)
Tal como Cavendish, Wiggins e muitos dos outros britânicos
que estão na elite do ciclismo mundial, Andrew Fenn vem da pista, onde
conseguiu títulos nacionais e europeus nos escalões de formação. Deu nas vistas
neste começo de temporada ao vencer as duas primeiras clássicas da Challenge de
Maiorca, batendo sprinters como Daniele Bennati, Boasson Hagen, Matti Breschel
e Manuel Cardoso, mas Fenn não é apenas um sprinter. Em 2008 venceu o
Paris-Roubaix junior, em 2010 ficou às portas do pódio na versão sub-23 e no
ano passado foi quinto. Em Maiorca voltou a evidenciar os dotes de sprinter com
os quais já tinha sido medalha de bronze nos Mundiais de Copenhaga e falta
agora saber qual a liberdade que terá em 2012. Com Tom Boonen, Francesco
Chicchi e Gerald Ciolek não é fácil ter luz verde como sprinter e com Boonen e
Chavanel também não é fácil ter liberdade nas provas de pavé, mas vamos esperar
para ver o que o deixam fazer dentro da Omega Pharma.
Andrew
Talansky (23/11/1988, Garmin)
Segundo na Volta a França do Futuro de 2010, Andrew Talansky
é um dos norte-americanos com maior potencial para provas por etapas, sendo um
excelente contra-relogista e um excelente trepador, evidentemente, tendo em
conta a sua idade. No ano passado destacou-se com excelentes prestações em
contra-relógio em provas como Paris-Nice, Criterium Internacional, Volta ao
País Basco e Romandia, mas faltou mostrar o seu potencial como trepador. Este
ano abriu a temporada na Volta ao Algarve, foi 7º no Malhão, 7º no
contra-relógio e oitavo na classificação final. Se tiver liberdade, contem com
ele para lutar por top-10 em provas de uma semana.
Peter
Stetina (08/08/1987, Garmin)
Um dos mais velhos desta lista mas, ainda assim, penso que
merece cá estar. Em 2008 foi 10º na Volta a França do Futuro, no ano seguinte
7º e pelo caminho foi coleccionando outros resultados que lhe valeram o salto
para a Garmin em 2010, ainda que no primeiro ano tenha sido apenas um gregário.
De 2011, destaco o 22º lugar na Volta a Itália. Um lugar que não é excepcional
mas que demonstra muita regularidade para alguém que, na altura, só tinha 23
anos e que tem um grande percurso nas camadas jovens. Certamente estará
novamente numa grande volta este ano e, se tiver liberdade, poderá dar nas
vistas.
Sep
Vanmarcke (28/07/1988, Gamin)
Sep Vanmarcke venceu ontem a Omloop Het Nieuwsblad |
Já antes do resultado de ontem, o Vanmarcke merecia estar nesta
lista. De 2007 a 2009, foi 3º, 8º e 5º na Volta a Flandres Sub-23 e, juntando a
isso outros bons resultados, em 2009 foi estagiário na Topsport Vlaanderen e em
2010 passou a integrar a 100% a equipa, o que lhe proporcionou a oportunidade
de correr quase todas as grandes clássicas de pavé. Nesse ano destacou-se pelo
segundo lugar na Gent-Wevelgem, no ano passado foi quarto no Prémio E3 de
Flandres e ontem venceu a Omloop Het Nieuwsblad (antiga Omloop Het Volk). Sem
Hushovd na equipa, Tyler Farrar e Hairich Haussler passam a ser os líderes
dentro da Garmin mas, depois desta vitória, Vanmarke deixa de ser apenas um
jovem para complicar a vida aos adversários. Se conseguir manter esta forma na
Volta a Flandres e no Paris-Roubaix, muita atenção para ele. Além disso, tem uma
boa ponta final.
Rasmunas
Navardauskas (30/01/1988, Gamin)
Enquanto sub-23, passou por uma equipa belga, uma kazaco-lituana
e numa italo-lituana (que tinha a mesma base e os mesmos lituanos). Quarto na
Flandres sub-23 e vencedor da Liège-Bastogne-Liège em 2010, deu nas vistas o
suficiente para saltar para a Garmin em 2011, esteve no Tour e passou horas na
frente do pelotão para defender a camisola amarela do seu colega Thor Hushovd.
É sobretudo um homem para clássicas, pois tem um motor de longa duração, mas
neste começo de ano já mostrou ser rápido o suficiente para tirar vantagem em
grupos reduzidos. Não é fácil ter liberdade na Garmin, mas a qualidade está lá e
pode destacar-se já em 2012.
Arnaud
Démare (26/08/1991, FDJ)
Démare, campeão mundial sub-23, já venceu este ano no Qatar |
Terminada ronda pelos Garmin, voltamos à ordem alfabética.
Medalha de bronze nos Europeus e 5º nos Mundiais em 2010, no ano passado Démare
ficou a cinco segundos do pódio de Roubaix sub-23 mas em Setembro deixou os
quases e sagrou-se campeão mundial. Este ano já conquistou uma vitória na Volta
ao Qatar à frente de Galimzyanov e Renshaw, por isso, atenção com ele para os
sprints desta temporada.
Nacer
Bouhanni (25/07/1990, FDJ)
Outro muito jovem, que além de ter um percurso notável nos
escalões de formação já demonstrou este ano que pode ir muito longe no pelotão
da elite mundial. Iniciou a temporada com uma vitória na Estrela de Bessèges e
na Volta a Omã, com excelentes sprinters persentes, os seus piores resultados
nas cinco etapas com final ao sprint foram dois sextos lugares, e isto implica
estar lá na frente nos finais completamente planos mas também nos sprints mais
acidentados. Muita atenção para ele em 2012, até porque a FDJ voltou a ser
equipa World Tour e vai estar em todas as principais provas do mundo.
Diego
Ulissi (15/07/1989, Lampre)
Foi campeão mundial de juniores em 2006, no primeiro ano no
escalão, e no ano seguinte fez história ao ser o primeiro a vencer o título por
duas vezes. Logo em 2009 assinou pela Lampre, o que o fez perder as melhores
provas do escalão sub-23, mas lhe permitiu, aqui e ali, algumas posições de
destaque entre os profissionais. No ano passado venceu uma etapa no Giro
d’Itália, em fuga, e a Volta à Eslovénia, foi segundo noutra tirada do
Paris-Nice e na Semana Coppi e Bartali e terceiro no Brixia Tour. Ainda não é a
super-estrela que os italianos esperam, mas parece estar no bom caminho, até
porque na Lampre deverá ter liberdade em quase todas as provas em que
participe.
Kris
Boeckmans (13/02/1987, Vacansolei)
Já cumpriu os 25 anos, mas também já demonstrou este ano que
merece estar nesta lista. Campeão europeu em 2009, tem inúmeros resultados de
mérito nas camadas jovens e mesmo na elite, em 2010, se bem que a temporada
passada foi apagada devido a lesões. Este ano já esteve muito bem na Estrela de
Bessèges, onde conseguiu um segundo lugar e dois quintos, e na Volta ao
Algarve, onde foi segundo na segunda etapa, sétimo na quarta e décimo primeiro
na primeira. É um sprinter e, apesar de haver outros na Vacansoleil, é de
esperar boas prestações dele em provas importantes.
Mikel
Landa (13/12/1989, Euskaltel)
Formado na cantera
basca, Mikel Landa é o típico trepador que só pode dar nas vistas se houver
dificuldades suficientes para isso. Foi quinto na Volta a França do Futuro 2010
e no ano passado evidenciou-se ao vencer a etapa rainha da Volta a Burgos, à
frente de grandes trepadores, como Cobo, Joaquin Rodríguez ou Daniel Moreno.
Com o novo sistema de pontos da UCI e à procura de patrocinadores para 2013, a
Euskaltel não se pode limitar a Samuel Sánchez, Igor Antón e Mikel Nieve, por
isso Mikel Landa poderá ser uma importante peça a usar pela equipa laranja.
Espero que consigam continuar na elite mundial.
Moreno
Moser (25/12/1990, Liquigas)
Com 21 anos cumpridos em Dezembro, Moreno Moser já leva uma
vitória nesta sua primeira temporada como profissional, no Trofeo Laigueglia,
surpreendendo os sprinters e as suas equipas com um ataque já na parte final da
corrida. Até agora tem corrido sobretudo provas menores italianas, mas já se
tinha destacado no Giro d’Itália sub-27, com duas etapas vencidas e um quinto
lugar na geral. É rápido, sobe bem, é bom contra-relogista e pode ter um lugar
entre a elite mundial.
Sergio
Henao (10/12/1987, Sky)
Henao foi terceiro no Trofeu Deiá, atrás do colega Nordhaug e de Rui Costa |
Como já várias vezes aconteceu, um colombiano que dá nas
vistas no calendário americano e algumas das melhores equipas do mundo atrás de
si. Desde 2007 na Colombia es Pasión, Henao deu nas vistas não só em provas no
continente Americano mas também em provas na Europa, incluindo em Portugal,
tendo vencido o GP de Portugal, em 2009, pela selecção colombiana. Vencedor da
Volta à Colombia em 2010, à frente de Oscar Sevilla e José Rujano, no ano
passado venceu duas etapas e foi segundo na Volta a Utah, com adversários como
Leipheimer (vencedor da geral), Brajkovic, Danielson, Vande Velde e Sevilla. A
Sky conseguiu a sua contratação e tem nele grandes esperanças para as provas
por etapas, tal como no seu compatriota Rigoberto Urán (11 meses mais velho), e
já esta temporada deve ter muito liberdade nas provas onde não estiverem
Bradley Wiggins e Chris Froome. No Trofeu Deiá, em Maiorca, foi terceiro.
Tom Jelte Slagter (01/07/1989, Rabobank)
Formado na excelente escola da Rabobank, Tom Jelte Slagter não
só tem um notório percurso nos escalões de formação como também já mostrou
qualidade este ano. Em 2010, quando era, sem dúvida alguma, um dos melhores
sub-23 do mundo, esteve na Volta a Portugal e foi 13º na chegada à Torre, na
sua preparação para a Volta a França do Futuro, onde seria quarto. No ano
passado não deu nas vistas pelos seus resultados mas sim por um grande susto, com
uma aparatosa queda na Volta a Itália, dois dias após a morte de Wouter
Weylandt. Este ano sim, já começou a grande nível e foi sexto na Volta a Omã,
decidida numa chegada em alto em que, apesar de não estar um pelotão de topo,
havia vários trepadores de grande nível. Com Gesink, Mollema e Kruijswijk, não
será fácil ter liberdade nas grandes voltas, mas a Rabobank dá sempre
oportunidades aos seus jovens e este tem capacidade para se destacar.
Wilco
Kelderman (25/03/1991, Rabobank)
O segundo mais novo da lista, Wilco Kelderman tem um palmarés
notável nos escalões de formação, venceu a Volta à Noruega e a Thüringen
Rundfahrt (uma das provas mais importantes para sub-23) em 2011 e é uma das
grandes esperanças do ciclismo holandês. Recentemente foi 10º na Volta à
Andaluzia, curiosamente à frente de Gesink e Mollema, que deverão ser os seus
dois principais líderes para esta temporada. O que foi dito para Slagter, é válido
para Kelderman. Tem líderes mais qualificados dentro da equipa mas se lhe derem
oportunidades, poderá dar muito boa conta de si, andando ele muito bem na
montanha e no contra-relógio.
Simoni
Ponzi (17/01/1987, Astana)
O mais velho da lista, já com 25 anos cumpridos, e já com
provas dadas no pelotão elite, ele que já correu dois anos pela Lampre, um pela
Liquigas e está agora na sua temporada como profissional. Simoni Ponzi foi
vice-campeão mundial sub-23 em 2008 e medalha de bronze nos campeonatos nacionais
no ano passado, com várias demonstrações de qualidade durante toda a temporada.
Foi, por exemplo, 4º na Clássica de Hamburgo e 7º no GP Québec, além de muitos
top-10 e inclusive vitórias em provas italianas. É o tradicional italiano
classicomano, que passa bem a média montanha e é rápido, podendo lutar por
etapas já no Tirreno-Adriático.
*****
O artigo 5 Jovens a seguir no Tour, foi um mais lidos até ao momento. Se gostarem
deste tipo de análises, virado para os jovens e para o futuro, posso vir a
escrever sobre as escolas da Rabobank, Euskaltel, etc e até sobre as escolas
portuguesas e os portugueses de maior futuro. Quanto ao próximo artigo, será
virado para os corredores portugueses.
De facto todos estes jovens têm enorme potencial e um largo futuro no ciclismo. O Henao já não me surpreende..tem de facto bastante qualidade e parece talhado para provas longas (3 semanas), acredito perfeitamente que dentro de poucos anos possa vir a vencer grandes voltas (Tour, Giro, Vuelta). Agora aquele que mais me chama atenção é o Wilco Kelderman, tenho estado atento aos seus resultados, o ano passado fez uma grande época e até correu uma prova em Portugal (Grande Prémio Agrícola) ainda que na altura não tenha dado nas vistas. Não se limita a ser um finalizador..é também um excelente contra relogista e defende-se bem na montanha, terreno onde pode vir a evoluir mais para se tornar verdadeiramente um caso sério.
ResponderEliminarRui seria excelente abordares o mesmo assunto relativamente a corredores portugueses. Força!
Um nome que podia estar nesta lista, a meu ver uma das grandes esperanças para os italianos em termos dos sprints e não falo do Guardini, mas sim de Elia Viviani da Liquigas.
ResponderEliminarObrigado pelos comentários de ambos ;)
ResponderEliminarRicardo, o Elia Viviani poderá vir a ser mesmo um dos melhores sprinters do mundo, mas como no ano passado já deu tão boa conta de si, achei que não deveria estar na lista. Penso que este vai ser o ano da confirmação e o da revelação já foi em 2011 ;)
Cumprimentos
Grande análise Rui!! Vejo neles todos um grande potencial para se tornarem grandes corredores. Só acrescentava o Battaglin que penso que terá um grande futuro.
ResponderEliminarContinua assim!