Rui Costa venceu no Tour 2011 |
Depois de falar em promissores jovens do pelotão World Tour,
desta vez venho aqui falar dos dez portugueses que correrão este ano ao serviço
de equipas estrangeiras, daquilo que já fizeram em temporadas anteriores, no começo
desta e do que espero de cada um deles para esta temporada.
De recordar que temos desde jovens a iniciar-se no
profissionalismo, como Fábio Silvestre (Leopard) e Jóni Brandão (Burgos BH), a
craques capazes de discutir classificações em provas de elite, como Rui Costa
(Movistar) e Tiago Machado (Radioshack)
Nelson
Oliveira (Radioshack)
Começo pelos dois portugueses a correr na Radioshack. Quanto
ao Nelson, foi para o estrangeiro com uma medalha de prata nos Mundiais de
contra-relógio 2009 e rotulando de “um futuro grande contra-relogista” e
passados estes anos já ninguém tem dúvidas de que o é. Em 2012 ainda não
competiu devido a problemas de saúde, mas não tenho dúvidas de que continuará entre
os melhores contra-relogistas, seja em que prova for.
De qualquer forma, para 2012 é recomendável que dê nas
vistas mais frequentemente, seja intrometendo-se entre os sprinters (e enquanto
sub-23 fez isso algumas vezes), melhorando na média montanha ou através de
fugas. A sua temporada também dependerá muito do tipo de provas que disputar,
pois obviamente será mais difícil vencer em contra-relógios com presença de
Fabian Cancellara e Tony Martin. Poderá chegar ao dia em que bata estes dois,
mas para já, é cedo.
Tiago
Machado (Radioshack)
Tiago Machado foi 3º no Tour Down Under |
Pelo terceiro ano na Radioshack, o Tiago já é um valor
seguro em provas de uma semana, no ano passado com top-10 na Volta ao Algarve
(6º), Tirreno-Adriático (7º), Criterium Internacional (5º) e Giro del Trentino
(2º). Abriu o ano com um terceiro lugar no Tour Down Under, prova World Tour,
foi sexto no Algarve e a partir de amanhã estará na Volta à Catalunha.
Não é fácil ter liberdade numa equipa com os irmãos Schleck,
Horner, Kloden, Monfort e Fuglsang, todos eles com melhores resultados na alta
montanha e em provas por etapas, mas Tiago Machado poderá ter as suas oportunidades
em provas de uma semana e veremos se evolui na alta montanha.
Bruno
Pires (Saxo Bank)
Se para Tiago Machado e Nelson Oliveira é difícil ter
liberdade por estarem numa das melhores equipas do mundo, Bruno Pires e Sérgio Paulinho
não deverão ter esse problema. Em 2009 e 2010 os organizadores Pro Tour não
queriam a Fuji-Servetto/Footon-Servetto nas suas provas porque a qualidade do
plantel era muito pouca e, além de andar em fugas, pouco podiam fazer. Este ano
é a Saxo Bank quem faz esse papel.
Em 2011 viu-se que a equipa era muito dependente de Contador
e para 2012 não teve nenhum reforço significativo. Com a suspensão do espanhol,
impedido de correr até Agosto, e a lesão de Nick Nuyens, que vai perder grande
parte das clássicas, o trepador Chris Anker Sorensen e o sprinter Juan José
Haedo são as principais referências desta equipa.
Bruno Pires deverá ter toda a liberdade para as provas de
montanha mas nas grandes provas (e não me refiro só a “grandes voltas”) terá
que apostar em fugas para poder dar nas vistas, pois para o grande público não
interessa se um corredor é 20º ou 30º no Criterium do Dauphiné. Isso só
interessa aos adeptos portugueses e é porque temos poucos corredores nessas
provas.
Sérgio
Paulinho (Saxo Bank)
Deverá ter liberdade semelhante a Bruno Pires, com a
desvantagem de ser pior trepador e a vantagem de ser melhor contra-relogista.
De qualquer forma não o vejo com capacidades para fazer classificações gerais
de destaque e deverá apostar em fugas, como fez na Volta a Espanha do ano
passado, na altura à procura de contrato para 2012.
Rui
Costa (Movistar)
O último dos portugueses de equipas World Tour que aqui falo
mas, a meu ver, o melhor português da actualidade. O Rui Costa não é trepador nem
pouco mais ou menos, mas é o português que tem melhores e mais consistentes
resultados, por passar bem a média montanha, por ter explosão para as subidas
curtas, por ser rápido, combativo e inteligente a correr.
Nos últimos três anos conseguiu sete vitórias: 4 dias de
Dunkerque e uma etapa da Volta a Chihuahua em 2009, Trofeu Deiá e uma etapa da
Volta à Suíça em 2010, Volta a Madrid, uma etapa do Tour e o GP de Montreal em
2011. Não estou a falar de provas em que esteve bem, estou sim a falar de
VITÓRIAS.
Começou 2012 com o 2º lugar no Trofeu Deiá, quinto na Volta
ao Algarve e ontem na Milano-Sanremo esteve em destaque, logo na fase inicial
da corrida tentando chegar aos nove da fuga do dia, e depois com um ataque no
Cipressa, penúltima subida da prova. No que falta da temporada (e falta quase
tudo) espero que continue a ser combativo e a procurar vitórias. Não é corredor
para ir ao Giro, Tour ou Vuelta lutar pela classificação geral, mas como eu já
disse diversas vezes, tem características para procurar vitórias nas etapas de
média dureza e para repetir o feito do ano passado no Tour.
Manuel
Cardoso (Caja Rural)
Manuel Cardoso venceu no ano passado na Catalunha |
A Caja Rural é a equipa estrangeira com mais ciclistas
portugueses em 2012, três, incluindo o melhor sprinter nacional, Manuel
Cardoso. Com uma etapa do Tour Down Uner em 2010 e uma da Volta à Catalunha em
2011, este ano o Manuel terá que estar mais vezes entre os primeiros para
conquistar nova oportunidade no World Tour. Para já, competiu pouco, mas leva
dois quartos lugares e dois sextos.
Pareceu-me que o problema nos últimos dois anos foi a
colocação nos quilómetros finais, pois quando entrava na recta da meta bem
colocado conseguia bons resultados. Pode ser que comece a colocar-se melhor
para os sprints e consiga aproveitar todo o seu potencial.
André
Cardoso (Caja Rural)
Em 2008 tinha tudo acordado com a Relax, mas a equipa terminou
e ficou-se por Portugal, adiando a sua primeira aventura internacional para
2012. Nos últimos Mundiais o André Cardoso têm-se mostrado um corredor para
largas distâncias e nas últimas Voltas a Portugal tem-se mostrado um grande
trepador. Veremos o que pode fazer em pelotões de maior qualidade, mas estou
confiante de que poderá ter bons resultados. A Volta a Espanha deverá ser o
principal objectivo mas estou expectante para ver o seu desempenho na Volta à
Catalunha que amanhã começa.
Hernâni
Brôco (Caja Rural)
Aos 30 anos o Hernâni Brôco arranca para a sua primeira aventura
internacional e numa equipa que lhe permitirá correr grandes provas, com a
Volta a Espanha como ponto alto da temporada. Não estará na Catalunha mas estará
depois na Volta ao País Basco, ele que no ano passado foi quarto na Volta às
Astúrias. Não é tão bom trepador quanto André Cardoso mas é melhor contra-relogista
e as Voltas à Catalunha e ao País Basco podem ser um indicador da forma como a
Caja Rural planeia delinear o calendário de Brôco e André Cardoso. Um tem
preferência pelas provas com contra-relógio, outro pelas provas só com
montanha.
Jóni
Brandão (Burgos BH)
Vencedor da Volta a Portugal do Futuro 2011, Jóni Brandão é
um dos muitos corredores formados em Santa Maria da Feira e que nos últimos
anos chegaram ao profissionalismo, por exemplo como Rui Costa ou André Cardoso.
Correu as duas últimas Voltas a Portugal com um desempenho positivo para a sua
idade (32º e 38º) mas é difícil fazer uma previsão para este primeiro ano como
profissional. Deverá correr sobretudo em Espanha e Portugal e tomar uma postura
combativa. Espero também que a Burgos seja uma equipa séria e que tenha
condições de profissional, não como a maioria dos corredores que representam
equipas portuguesas.
Fábio
Silvestre (Leopard Continental)
Campeão nacional sub-23 e terceiro no campeonato de contra-relógio,
Fábio Silvestre é o emigrante português mais jovem e um dos mais promissores do
todo o ciclismo português. É um sprinter e contra-relogista que pode fazer boas
classificações nas provas por etapas sem grande montanha. Também foi formado em
Santa Maria da Feira e tem alguma experiência internacional pela selecção
nacional, o que certamente será importante nesta passagem pela Leopard
Continental. Como uma das “equipas B” da Radioshack, a Leoaprd correrá por toda
a Europa, não em provas sub-23 mas sim em provas continentais.
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Este artigo é dedicado aos portugueses, mas termino com
declarações de um francês. Jérémy Roy é um corredor francês e sabe que, como
tem muitos compatriotas no pelotão internacional, para dar nas vistas tem que
se esforçar. Se andar 6 ou 7 dias no pelotão e no final for 20º, nem os adeptos
franceses ligam. No ano passado venceu o GP de Abertura a Marselhesa e esteve
próximo de vencer no Paris-Nice (2º numa etapa) e no Tour (3º numa etapa), onde
andou muitos dias em fuga, ganhou o prémio da combatividade em duas etapas e no
final. No recente Paris-Nice, foi 19º, a melhor classificação geral nos seus
nove anos de profissional. Se fosse um tuga, os adeptos portugueses estariam
satisfeitos, mas ele não estava.
“Eu não costumo correr sem entrar em fugas. Desta vez não
conseguiu e fui apenas um seguidor. Eu consegui ficar nos vinte primeiros, mas
em termos de resultados prefiro disputar vitórias”. Agora vai estar na Volta à
Catalunha e o objectivo é.. estar nas fugas ao longo da corrida.
Eu gostava que os portugueses pensassem mais em ganhar, nem
que seja uma etapa, do que em defender os seus vigésimos lugares na geral. No
fundo, só os adeptos portugueses ligam a isso.
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E o que pensam vocês sobre os portugueses no estrangeiro?
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E o que pensam vocês sobre os portugueses no estrangeiro?
Mais uma vez excelente artigo..
ResponderEliminarEm relação aos portugueses estou curioso de ver o que o Bruno Pires pode fazer este ano, a sua prestação do USA Cycling Chellenge deixou muito boas indicações da sau capacidade..Para o Joni e o Fábio espero que se mostrem durante este ano para ter sucesso na sua carreira profissional.
Na última parte do artigo, deixas-te um tema muito interessante de se reflectir, eu penso que terá a haver com a cultura que temos, os corredores franceses são assim por natureza e é por isso que sou grande fan deles! Mas isto pode vir a mudar..
Parabéns,finalmente um belo artigo de opinião que aguardava há algum tempo.
ResponderEliminarAcho brilhante a maneira como vês o ciclismo e depois da tua reflexão sou obrigado a concordar com tudo, no entanto, gostaria de ver um português no top10 de uma grande volta a curto prazo.
O Tiago Machado até agora não se mostrou muito bem em provas de três semanas, mas devido a sua relativa inexperiência (apenas 2) penso que ainda pode fazer um bom resultado no futuro, pois é um bom trepador, bom contra-relogista, bom rolador, combativo, poucas vezes tem dias maus.
Gostava de saber a tua opinião sobre isto.
Obrigado, o ponto do Roy tambem foi bastante bom. Um exemplo a tomar nota.
Obrigado aos dois pelos comentários ;)
ResponderEliminarMuito boa análise!!! Vamos ver o que os "Tugas" farão amanhã na etapa rainha da Catalunha!!! Hoje o melhor foi o Bruno Pires! Vamos ver o que consegue fazer amanhã!
ResponderEliminarContinuação de um bom trabalho.
Força
Cumprimentos