Antes de mais, dizer que não sou um tipo excessivamente
patriota daqueles que defende o Cristiano Ronaldo e a sua arrogância ou o Pepe
e a sua vontade de ceifar adversários. Não me encaixo no perfil de “sou do Real
Madrid porque tem portugueses”. Se quisermos sair do desporto, também não sou
de ter pena de um tipo que é apanhado a traficar quilos de droga só por ser um
português no estrangeiro. Ainda assim, ninguém me tira o prazer de ver “os bons
portugueses” a serem bem-sucedidos, como Rui Costa, Tiago Machado, Sérgio
Paulinho, Nelson Oliveira, Bruno Pires, Hernâni Brôco, André Cardoso e Manuel
Cardoso, que na semana passada venceu uma etapa na Volta a Castela e Leão. Este
artigo é sobre a equipa dos três últimos a serem enumerados, o contingente
português da Caja Rural.
1987-2011
Actualmente a Caja Rural conta com três ciclistas
portugueses e é a equipa estrangeira com mais lusos no plantel, mas o primeiro
português a fazer parte deste projecto foi Vítor Rodrigues, em 2010, quando se
criou a equipa Continental da Caja Rural. Ainda que esta equipa continental só
tenha sido criada em 2010, desde 1992 que o banco espanhol patrocinava uma
equipa amadora e entre 87 e 89 já tinha patrocinado uma de profissionais.
Em 2010 a aposta foi sobretudo nos jovens e apenas Aketza
Peña tinha mais de 25 anos (Joaquin Sobrino também mas só chegaria à equipa em
Junho). José Herrada (que está agora na Movistar) e Michal Kwiatkowski (agora
na Omega Pharma) eram dois dos talentos que lá estavam nessa altura e já se
começam a afirmar no World Tour, mais ainda há Garikoitz Bravo (melhor jovem na
Volta a Portugal do ano passado) e não se pode esquecer o super-combativo Oleg
Chuzhda e Vítor Rodrigues, um dos maiores talentos do ciclismo português na
última década e que preferiu abandonar a modalidade do que correr quase de
borla como outros.
Em 2011 a equipa tornou-se Continental Profissional e
cresceu de 15 corredores para 20, ainda com Chuzhda, José Herrara e Joaquin
Sobrino mas também o experientíssimo Iñigo Cuesta, Aitor Galdos (ex-Euskaltel)
e Javier Moreno, que procedia da Andalucia e no fim-de-semana passado venceu a
Volta a Castela e Leão pela Movistar. Desse ano destaca-se a vitória na Volta
às Astúrias e o 2º lugar na Volta a Madrid, ambas através de Moreno. Aitor
Galdos, Egoitz Garcia, José Herrada, Diego Milán e Joaquin Sobrino estiveram
várias vezes em lugares de top-10, Julian Sánchez Pimienta e Chuzhda foram
muito combativos mas faltaram vitórias e, sobretudo, faltou o convite para a
Volta a Espanha, grande objectivo do projecto para 2011.
2012: o plantel
O ano de 2012 é de extrema importância para o projecto Juan
Manuel Hernández, com a presença na Volta a Espanha como grande objectivo. Com
a compra da Unipublic por parte da ASO e tendo David Moncoutié vencido a
classificação da montanha nos últimos quatro anos, a presença da Cofidis é
certa. No ano passado as outras três convidadas foram a Geox (que acabaria por
ganhar com Juanjo Cobo), a Skil-Shimano e a Andalucia, que foi a pior equipa em
prova, deixando em aberto o debate se não teria sido melhor levar a formação de
Navarra em vez dos andaluzes. Tendo a Skil-Shimano se reforçado para 2012
(Project 1t4i, agora Argos-Shimano), também deverá continuar entre as
convidadas, mas o final da Geox vem desde logo possibilitar que a Caja Rural
esteja presente sem retirar a Andalucia.
Independentemente disso, Juanma Hernández reforçou a equipa
para este ano. Chuzhda (2010 e 11), Fabricio Ferrari (10 e 11), Kwiatkowski
(10), Vítor Rodrigues (10), Alexander Ryabkin (11) e Paul Kneppers (estagiário
em 2011) foram os únicos estrangeiros a correr pela Caja Rural nos dois
primeiros anos do projecto, quatro em cada ano. Em 2012 apostaram forte em ir
buscar talento ao estrageiro, mantendo o uruguaio Ferrari e o russo Ryabkin e
contratando o argentino Enzo Moyano, o panamenho Yelko Gómez, o polaco Karol
Domagalski, o italiano Francesco Lasca, o búlgaro Danail Petrov e os
portugueses Hernâni Brôco, André Cardoso e Manuel Cardoso, que motivam este
artigo. Um total de 10 estrageiros e 9 espanhóis.
Hernâni Brôco e André Cardoso assumem-se como os
líderes para provas por etapas, não esquecendo Garikoitz Bravo e David de
la Cruz (ambos 21 anos), jovem prometedores, o segundo deles recentemente
quarto classificado na Volta a Castela e Leão.
Vencedor de uma etapa no Tour Down Under 2010 e uma na Volta
à Catalunha 2011, Manuel Cardoso é o
número 1 da equipa no que a sprints diz respeito. Já com dois quartos e dois
sextos lugares, a primeira vitória da temporada chegou no dia 13 (sexta-feira
13), na primeira etapa da Volta a Castela e Leão. Veio certamente retirar pressão
mas principalmente mostrar que a Caja Rural tem um sprinter para vencer. Francesco Lasca (24 anos) chegou
catalogado de bom sprinter e na Volta ao Algarve mostrou que também podem
contar com ele. Aitor Galdos tem a
experiência de quatro anos na Euskaltel, em grandes provas, e é uma aposta para
sprints em grupos mais restritos. Fabricio
Ferrari e Enzo Moyano também
farão parte do comboio para os sprints, não ignorando que o segundo vem
demonstrado boa qualidade para alguém de apenas 23 anos.
David de la Fuente
é outro dos líderes da equipa. Um dos braços-direitos de Cobo na última Vuelta,
De La Fuente é homem para as etapas e clássicas acidentadas. Não para uma
Amstel Gold Race ou uma Liège-Bastogne-Liège, mas para aquelas em que a Caja
Rural participa.
Marcos Garcia e Danail Petrov são talhados para subidas
mais curtas e sprints mais restritos, e Yelko
Gómez merece uma grande chamada de atenção pois foi o protagonista da
segunda vitória da equipa, na terceira etapa da Volta a Castela e Leão, frente
a gente com créditos firmados. Tem apenas 23 anos e veremos que papel poderá
desempenhar o panamenho na equipa.
O jovem Karol
Domagalski chega com boas referências, Francisco
Aramendia, Igor Romero, o também
jovem Alexander Ryabkin e os
combativos Antonio Piedra e Julian Sánchez Pimienta completam a
equipa.
2012: a filosofia e o
objectivo
O objectivo da Caja Rural (equipa) é claro. Tal como as equipas portuguesas vivem para
a Volta a Portugal e é aí que os patrocinadores vêem o seu investimento
recompensado, a Caja Rural (equipa) quer estar na Volta a Espanha para dar aí o
grande retorno ao investimento do banco espanhol. Na Caja Rural não há
grandes figuras mediáticas, como em Portugal havia o Cândido Barbosa, que por
si só atraia os jornalistas, e como tal a única forma de se destacarem é pelas
performances desportivas. Por isso não importa se metade dos corredores são
estrangeiros, importa sim que tenham qualidade.
Aquilo que tantas
vezes critico às equipas portuguesas, de contratarem estrangeiros de qualidade
duvidosa enquanto portuguesas terminam carreira precocemente, poderão os
espanhóis criticar à Caja Rural quando esta contrata jovens promessas
estrangeiras que poderão acabar por não render nada. Da nossa parte, o que
interessa é que a equipa tenha sucesso para que os portugueses que lá corram
também o possam ter.
Da mesma forma que a equipa não trouxe Manuel Cardoso à
Volta ao Algarve por achar que seria melhor estar na Volta à Andaluzia, não
duvidemos que o nove da Vuelta será escolhido pela qualidade e não pela
nacionalidade. Para Brôco, André Cardoso
e Manuel Cardoso lá estarem, só necessitam de mostrar a qualidade que mostraram
nos últimos anos… e estou certo que a mostrarão.
*****
Terminada a Semana das Ardenas, de realçar a prestação do
Rui Costa: 19º na Amstel Gold Race, 18º na Flèche Wallone e 17º na
Liège-Bastonge-Liège. Já tinha sido 15º na Volta ao País Basco. Segue-se a
Volta à Romandia, com um percurso que assenta bem nas suas características.
Mais um excelente artigo Ace!
ResponderEliminarVamos lá a ver se a Europcar não rouba o convite a Andalucia...
O Vitor Rodrigues ia para o projecto da Liberty mas não se concretizou...
Eu aposto que a Caja Rural vai levar o André Cardoso e o Manuel Cardoso à Volta à Espanha e o Hernâni Brôco à Volta a Portugal.
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