domingo, 22 de abril de 2012

Caja Rural de Brôco, Cardoso & Cardoso para a Vuelta


Antes de mais, dizer que não sou um tipo excessivamente patriota daqueles que defende o Cristiano Ronaldo e a sua arrogância ou o Pepe e a sua vontade de ceifar adversários. Não me encaixo no perfil de “sou do Real Madrid porque tem portugueses”. Se quisermos sair do desporto, também não sou de ter pena de um tipo que é apanhado a traficar quilos de droga só por ser um português no estrangeiro. Ainda assim, ninguém me tira o prazer de ver “os bons portugueses” a serem bem-sucedidos, como Rui Costa, Tiago Machado, Sérgio Paulinho, Nelson Oliveira, Bruno Pires, Hernâni Brôco, André Cardoso e Manuel Cardoso, que na semana passada venceu uma etapa na Volta a Castela e Leão. Este artigo é sobre a equipa dos três últimos a serem enumerados, o contingente português da Caja Rural.


1987-2011

Actualmente a Caja Rural conta com três ciclistas portugueses e é a equipa estrangeira com mais lusos no plantel, mas o primeiro português a fazer parte deste projecto foi Vítor Rodrigues, em 2010, quando se criou a equipa Continental da Caja Rural. Ainda que esta equipa continental só tenha sido criada em 2010, desde 1992 que o banco espanhol patrocinava uma equipa amadora e entre 87 e 89 já tinha patrocinado uma de profissionais.

Em 2010 a aposta foi sobretudo nos jovens e apenas Aketza Peña tinha mais de 25 anos (Joaquin Sobrino também mas só chegaria à equipa em Junho). José Herrada (que está agora na Movistar) e Michal Kwiatkowski (agora na Omega Pharma) eram dois dos talentos que lá estavam nessa altura e já se começam a afirmar no World Tour, mais ainda há Garikoitz Bravo (melhor jovem na Volta a Portugal do ano passado) e não se pode esquecer o super-combativo Oleg Chuzhda e Vítor Rodrigues, um dos maiores talentos do ciclismo português na última década e que preferiu abandonar a modalidade do que correr quase de borla como outros.

Em 2011 a equipa tornou-se Continental Profissional e cresceu de 15 corredores para 20, ainda com Chuzhda, José Herrara e Joaquin Sobrino mas também o experientíssimo Iñigo Cuesta, Aitor Galdos (ex-Euskaltel) e Javier Moreno, que procedia da Andalucia e no fim-de-semana passado venceu a Volta a Castela e Leão pela Movistar. Desse ano destaca-se a vitória na Volta às Astúrias e o 2º lugar na Volta a Madrid, ambas através de Moreno. Aitor Galdos, Egoitz Garcia, José Herrada, Diego Milán e Joaquin Sobrino estiveram várias vezes em lugares de top-10, Julian Sánchez Pimienta e Chuzhda foram muito combativos mas faltaram vitórias e, sobretudo, faltou o convite para a Volta a Espanha, grande objectivo do projecto para 2011.

2012: o plantel

O ano de 2012 é de extrema importância para o projecto Juan Manuel Hernández, com a presença na Volta a Espanha como grande objectivo. Com a compra da Unipublic por parte da ASO e tendo David Moncoutié vencido a classificação da montanha nos últimos quatro anos, a presença da Cofidis é certa. No ano passado as outras três convidadas foram a Geox (que acabaria por ganhar com Juanjo Cobo), a Skil-Shimano e a Andalucia, que foi a pior equipa em prova, deixando em aberto o debate se não teria sido melhor levar a formação de Navarra em vez dos andaluzes. Tendo a Skil-Shimano se reforçado para 2012 (Project 1t4i, agora Argos-Shimano), também deverá continuar entre as convidadas, mas o final da Geox vem desde logo possibilitar que a Caja Rural esteja presente sem retirar a Andalucia.

Independentemente disso, Juanma Hernández reforçou a equipa para este ano. Chuzhda (2010 e 11), Fabricio Ferrari (10 e 11), Kwiatkowski (10), Vítor Rodrigues (10), Alexander Ryabkin (11) e Paul Kneppers (estagiário em 2011) foram os únicos estrangeiros a correr pela Caja Rural nos dois primeiros anos do projecto, quatro em cada ano. Em 2012 apostaram forte em ir buscar talento ao estrageiro, mantendo o uruguaio Ferrari e o russo Ryabkin e contratando o argentino Enzo Moyano, o panamenho Yelko Gómez, o polaco Karol Domagalski, o italiano Francesco Lasca, o búlgaro Danail Petrov e os portugueses Hernâni Brôco, André Cardoso e Manuel Cardoso, que motivam este artigo. Um total de 10 estrageiros e 9 espanhóis.

Hernâni Brôco e André Cardoso assumem-se como os líderes para provas por etapas, não esquecendo Garikoitz Bravo e David de la Cruz (ambos 21 anos), jovem prometedores, o segundo deles recentemente quarto classificado na Volta a Castela e Leão.

Vencedor de uma etapa no Tour Down Under 2010 e uma na Volta à Catalunha 2011, Manuel Cardoso é o número 1 da equipa no que a sprints diz respeito. Já com dois quartos e dois sextos lugares, a primeira vitória da temporada chegou no dia 13 (sexta-feira 13), na primeira etapa da Volta a Castela e Leão. Veio certamente retirar pressão mas principalmente mostrar que a Caja Rural tem um sprinter para vencer. Francesco Lasca (24 anos) chegou catalogado de bom sprinter e na Volta ao Algarve mostrou que também podem contar com ele. Aitor Galdos tem a experiência de quatro anos na Euskaltel, em grandes provas, e é uma aposta para sprints em grupos mais restritos. Fabricio Ferrari e Enzo Moyano também farão parte do comboio para os sprints, não ignorando que o segundo vem demonstrado boa qualidade para alguém de apenas 23 anos.

David de la Fuente é outro dos líderes da equipa. Um dos braços-direitos de Cobo na última Vuelta, De La Fuente é homem para as etapas e clássicas acidentadas. Não para uma Amstel Gold Race ou uma Liège-Bastogne-Liège, mas para aquelas em que a Caja Rural participa.

Marcos Garcia e Danail Petrov são talhados para subidas mais curtas e sprints mais restritos, e Yelko Gómez merece uma grande chamada de atenção pois foi o protagonista da segunda vitória da equipa, na terceira etapa da Volta a Castela e Leão, frente a gente com créditos firmados. Tem apenas 23 anos e veremos que papel poderá desempenhar o panamenho na equipa.

O jovem Karol Domagalski chega com boas referências, Francisco Aramendia, Igor Romero, o também jovem Alexander Ryabkin e os combativos Antonio Piedra e Julian Sánchez Pimienta completam a equipa.

2012: a filosofia e o objectivo

O objectivo da Caja Rural (equipa) é claro. Tal como as equipas portuguesas vivem para a Volta a Portugal e é aí que os patrocinadores vêem o seu investimento recompensado, a Caja Rural (equipa) quer estar na Volta a Espanha para dar aí o grande retorno ao investimento do banco espanhol. Na Caja Rural não há grandes figuras mediáticas, como em Portugal havia o Cândido Barbosa, que por si só atraia os jornalistas, e como tal a única forma de se destacarem é pelas performances desportivas. Por isso não importa se metade dos corredores são estrangeiros, importa sim que tenham qualidade.

Aquilo que tantas vezes critico às equipas portuguesas, de contratarem estrangeiros de qualidade duvidosa enquanto portuguesas terminam carreira precocemente, poderão os espanhóis criticar à Caja Rural quando esta contrata jovens promessas estrangeiras que poderão acabar por não render nada. Da nossa parte, o que interessa é que a equipa tenha sucesso para que os portugueses que lá corram também o possam ter.

Da mesma forma que a equipa não trouxe Manuel Cardoso à Volta ao Algarve por achar que seria melhor estar na Volta à Andaluzia, não duvidemos que o nove da Vuelta será escolhido pela qualidade e não pela nacionalidade. Para Brôco, André Cardoso e Manuel Cardoso lá estarem, só necessitam de mostrar a qualidade que mostraram nos últimos anos… e estou certo que a mostrarão.

*****
Terminada a Semana das Ardenas, de realçar a prestação do Rui Costa: 19º na Amstel Gold Race, 18º na Flèche Wallone e 17º na Liège-Bastonge-Liège. Já tinha sido 15º na Volta ao País Basco. Segue-se a Volta à Romandia, com um percurso que assenta bem nas suas características.

2 comentários:

  1. Mais um excelente artigo Ace!
    Vamos lá a ver se a Europcar não rouba o convite a Andalucia...
    O Vitor Rodrigues ia para o projecto da Liberty mas não se concretizou...

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  2. Eu aposto que a Caja Rural vai levar o André Cardoso e o Manuel Cardoso à Volta à Espanha e o Hernâni Brôco à Volta a Portugal.

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