Quando, no final de Abril, Rui Costa terminou em terceiro a
Volta à Romandia, ladeando Bradley Wiggins no pódio final, o momento foi de
enorme alegria para os portugueses que vivem o ciclismo, mas poucos de nós imaginaríamos
que mês e meio depois o Rui voltaria à Suíça para ganhar a Volta daquele país,
para muitos (eu incluindo), a quarta maior do calendário internacional, atrás
de Giro, Tour e Vuelta. A vitória foi magnífica, enorme, talvez a maior da
história do ciclismo português. Eu acredito que sim!
Rui Costa começou discreto esta Volta à Suíça… mas apenas no
prólogo. Logo no dia seguinte, na etapa com final mais duro, desferiu um forte
ataque para ultrapassar Frank Schleck, vencer a etapa e assumir a liderança da
Volta à Suíça, em Verbier, onde em 2009 Alberto Contador venceu a 15ª etapa do
Tour e chegou também ele à camisola amarela para não mais a despir.
Quando o Rui vestiu a camisola amarela, a prova estava longe
de ser ganha, mas o maior obstáculo do percurso estava ultrapassado. Pela frente,
o contra-relógio parecia ser o dia que
poderia fazer maiores diferenças, se bem que um dia menos bom no último
fim-de-semana poderia ser “a morte do artista”. E, relativamente ao crono,
eu estava convicto de que se o Rui estivesse como no crono da Volta ao Algarve,
não teria hipóteses, mas se tivesse como no crono do Critérium du Dauphiné no
ano passado, ou como recentemente na Romandia… então os outros não teriam
hipóteses contra ele.
O mau tempo
dificultou ainda mais as quatro etapas seguintes. Eram quatro etapas sem
grandes montanhas, mas com os últimos quilómetros acidentados, onde o pelotão a
acelerava para perseguir os fugitivos de cada dia (excepto na quarta-feira), e o
frio e a chuva deram uma dificuldade extra á prova e viriam a dar um mérito
ainda maior à vitória do Rui Costa.
Antes do contra-relógio, Frank Schleck era segundo, mas grandes
ameaças para a classificação geral eram também Roman Kreuziger, Thomas
Lofkvist, Thomas Danielson, Jakob Fuglsang e Levi Leipheimer, todos eles a
menos de quarenta segundos e bons/muito bons contra-relogistas. O Rui foi
melhor!
Robert Gesink foi o melhor entre os homens de classificação
geral, quinto classificado, 14 segundos melhor que o português, mas tinha
perdido mais de um minuto na chegada a Verbier, pelo que o Rui (8º) mantinha a
camisola amarela e alargava a vantagem, mas ainda com Kreuziger (+50s), Gesink
(+55s) e Frank Schleck (+1.04) a prometerem guerra… e no sábado o Rui teve um
dia mau.
Disse que se sentiu mal desde o começo da etapa, mas um furo
antes de começar uma contagem de segundo categoria, a 30 km da meta, também
terá dificultado a tarefa, digo eu. Perdeu tempo para uma série de gente e foi para o último dia com seis adversários
a menos de 45 segundos, antevendo-se um dia muito duro, pois não era fácil
controlar tanta gente com duas contagens de especial categoria e uma de segunda
muito perto da meta.
A Radioshack endureceu a corrida para Frank Schleck atacar e
passar na última contagem de especial categoria, a 40 km da meta, com cerca de
50 segundos de vantagem para o Rui Costa, acompanhado do colega Alejandro
Valverde, Gesink, Leipheimer, Mikel Nieve e milhares de portugueses, uns nas
estradas, outros em suas casas, a pedalar com o Rui. Danielson, que rolava em
posição intermédia, decidiu esperar pelo grupo do Rui, e o mais velho dos
Schleck, sabendo que ainda tinha mais de 20 km pela frente, muito vento e atrás
o grupo já tinha cerca de 20 unidades, abdicou também ele da sua cavalgada a
solo, apostando tudo para a última subida. E, de repente, o luxemburguês deixava de ser virtual camisola amarela e Rui Costa
aproximava-se a vitória final.
Mas a vitória do Rui
estava destinada a ser ainda mais sofrida, ainda maior, e a 15 km da meta,
Steven Kruijswijk (uma das grandes promessas do ciclismo holandês, 8º a 1.01),
atacou com mais três homens interessados em subir na classificação geral e
chegou a ter 40 segundos de vantagem sobre o grupo principal, onde Alejandro
Valverde, sempre ele, puxava em prol do colega. A três quilómetros da meta, já
sem forças mas com o grupo de Kruijswijk controlado, o espanhol abriu, deu a
vez a Rui Costa, que teve a missão de puxar pelo grupo perante o risco de
ataque de Schleck (+14s), Leipheimer (+21s) ou Gesink (+25s), todos eles
perigosamente próximos na classificação geral. Após 1400 km de Volta à Suíça,
ninguém conseguiu sequer atacar e o Rui Costa pôde passar a linha de meta de
braço no ar, a comemorar. Quase de seguida, a sua preocupação foi procurar Alejandro
Valverde, que chegara com 40 segundos de atraso, para poder festejar com o
espanhol e agradecer a sua colaboração nesta que é a maior vitória da sua
carreira até ao momento e a maior do ciclismo português.
Frank Schleck e Leipheimer... 2º e 3º |
Peter Sagan venceu quatro etapas, Fabian Cancellara, ainda à
procura da melhor forma depois da fractura de clavícula, foi segundo no prólogo
e no contra-relógio, Vladimir Isaychev conseguiu a sua primeira vitória
profissional, Micahel Albasini venceu a etapa que passava na sua casa e
Kessiakof surpreendeu ao vencer o contra-relógios mas… o que interessa isso? Rui Costa venceu a Volta à Suíça, como
Lance Armstrong em 2001, Jan Ullrich em 2004 e 2006, Frank Schleck em 2010 e
Levi Leipheimer em 2011. Estes dois foram respectivamente segundo e
terceiro este ano, com Gesink em 4º, Mikel Nieve em 5º,Kreuziger 6º, Danielson
7º, Kruijswijk 8º, Valverde 9º e Nicolas Roche 10º, um top-10 cheio de grandes figuras para dar ainda maior dimensão a esta
vitória do corredor da Póvoa de Varzim.
Chuva, frio, montanhas e muitos adversários de enorme
qualidade dificultaram a vitória do Rui, que no último dia apenas teve um
colega perto de si, Alejandro Valverde, mas não se pense que a Movsitar esteve
mal. A maioria dos seus corredores foram para a Volta à Suíça para preparar o
Tour e tiveram que defender a camisola amarela desde segunda-feira. Quando
entraram nos últimos 50 km de prova, apenas Valverde lá estava, mas todos os
outros já tinham feito o que podiam. Vitória conseguida!
Bravo,
Rui Costa! Parabéns!
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