Bruyneel e Andy Schleck: parece que falavam mais quando estavam em equipas adversárias |
Episódio 1: Schlecks, Giro ou Tour?
Depois do fracasso que 2011 foi para a Radioshack, longe da
discussão nas três grandes voltas, sendo o melhor resultado em prova de três
semanas o 15º lugar de Zubeldia na Vuelta (não vencendo qualquer etapa ou classificação),
os irmãos Andy e Frank Schleck poderiam dar um novo alento à equipa. Entre eles
e Bruyneel começaram os problemas.
O percurso do Tour deste ano não é nada ao género dos irmãos
e desde logo Johan Bruyneel admitiu na comunicação social a hipótese de um
deles ir ao Giro. Não é assim que se fazem as coisas! Os Schlecks têm o
estatuto de líderes e o calendário dos
líderes das equipas deve ser discutido entre eles e directores desportivos, e
não impostos, muito menos através da comunicação social, sejam os Schlecks,
Cancellara, Contador, Wiggins, Cavendish, Tom Boonen, Gilbet ou por aí fora.
A época não começou nada mal, com Tiago Machado a ser 3º no
Tour Down Under, Chris Horner foi 2º no Tirreno-Adriático e Cancellara venceu a
Strade Bianche, foi 2º na Milano-Sanremo e era, a par de Boonen, o grande
candidato para a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix. Caiu na primeira das duas
provas, fracturou a clavícula e perdeu duas excelentes oportunidades para conseguir
um resultado que motivasse e ao mesmo descansa-se toda a equipa. Com Andreas
Kloden muito abaixo do que rendeu em 2011 (quando venceu Paris-Nice e País
Basco), com Horner a sair do T-A com problemas num calcanhar, sem Leipheimer
que abandonou a equipa para a chegada dos irmãos Schleck, com Frank muito longe
do seu melhor e com Andy a queixar-se de problemas físicos e a acumular
desistências e prestações medíocres, a
Radioshack ia para o Giro, primeira grande volta da temporada, obrigada a fazer
o que não tinha conseguido nas pequenas voltas (exceptuando TDU e T-A): dar nas vistas.
Episódio 2: Frank Schleck no Giro
Abandonada a ideia de levar um Schleck ao Giro, Jakob
Fuglsang era a aposta para a prova italiana mas lesionou-se duas semanas antes
e não podia competir, pelo que Bruyneel decidiu… que Frank Schleck seria o
chefe-de-fila. Bruyneel, sentindo o pescoço em perigo e a pressão por
resultados, tomou esta decisão que deixava
a preparação de Frank Schleck para o Tour toda trocada e sem a melhor preparação
para o Giro. Mais um azar, o luxemburguês caiu, lesionou-se no ombro e
abandonou, deixando a equipa (e Bruyneel) sem hipóteses de uma boa
classificação geral e saltou novamente a tampa ao belga, que voltou a usar a
comunicação social para fazer as suas críticas, o que não agradou nenhum dos
irmãos, cada vez mais de cadeias às avessas com o director desportivo.
Episódio 3: Horner “sem” Tour
Como se não bastasse, Bruyneel
ainda tinha mais uma na manga. Durante a Volta à Suíça anunciou uma lista
de 14 pré-seleccionados para a Volta a França e sem Chris Horner… que não sabia
que estava descartado. Horner, que no ano passado era um dos 4 líderes até
abandonar por queda e que este ano foi 2º no T-A, tinha legítimas aspirações a estar
na equipa para o Tour e com alguma liberdade (pois defende-se muito melhor no
crono que os irmãos Schleck), foi notificado da sua não-convocatória pela
esposa, que achou estranho o que viu na comunicação social e o questionou sobre
isso. Horner respondeu pelo mesmo meio, e numa entrevista teceu algumas
críticas a Bruyneel, que rapidamente respondeu… sempre pela CS, como se na Radioshack não tivessem contactos
pessoais uns dos outros.
Esta semana saiu a convocatória final para o Tour e,
imagine-se… Horner foi um dos escolhidos. Bruyneel, que tinha dito que o
norte-americano não ia por ter abdicado de correr a Volta à Suíça, diz agora
que ele vai porque os patrocinadores exigiram.
Episódio 4: Fuglsang sem Tour
Quem não está entre os 9 escolhidos é Fuglsang, o que é uma
enorme surpresa. Nos últimos anos tem tido algumas oportunidades para lutar por
boas classificações e tem mostrado que não é homem para acompanhar os melhores
escaladores, mas, quando lhe é pedido, dá tudo pelos seus líderes (irmãos
Schleck) e é uma peça importante no trabalho de equipa, como foi na Volta à
Suíça. Depois da vitória na Volta ao Luxemburgo e do grande trabalho feito na
Suíça, ficar de fora do Tour foi um choque, até porque, imagine-se… Bruyneel avisou
primeiro a imprensa do que o próprio ciclista, uma vez mais.
Se Horner não gostou da pré-convocatória pelo seu nome,
Bruyneel poderia prever que Fuglsang não gostaria desta notícia e o avisar
antecipadamente, mas não o fez. Furioso, Fuglsang disse logo que não havia 9
corredores melhores do que ele para o Tour e no dia seguinte venceu os
Nacionais de contra-relógio da Dinamarca. Disse também ser evidente que as
coisas não estão a funcionar bem na equipa, claro!
Que futuro?
A Radioshack, a
precisar claramente de subir de rendimento, vai para o Tour com uma equipa
débil, ainda mais pela lesão de Andy Schleck contraída no Critérium du
Dauphiné (Bruyneel não esteve na conferência de imprensa de Andy).
Fabian Cancellara será um dos grandes favoritos à vitória
nos contra-relógios, se bem que deverá abandonar antes do último para preparar
os Jogos Olímpicos; Horner e Frank Schleck são os homens para a geral, sendo
que o primeiro é homem para top-10 final mas não muito mais nem para vencer uma
etapa frente-a-frente aos melhores trepadores, e o segundo já avisou que,
depois de clássicas das Ardenas, Giro, Volta ao Luxemburgo e Suíça, não deverá
aguentar na melhor forma até final do Tour; Kloden e Zubeldia já passaram os
seus melhores anos e caber-lhes-á tentar a sorte em fugas, tal como Popovych e Voigt.
À parte de Cancellara, aqueles de quem mais espero são Tony Gallopin e Maxime
Monfort. Gallopin, porque, pela sua polivalência, poderá vencer uma das etapas
de média dificuldade, e Monfort porque também é daqueles que dá sempre o seu
melhor, seja para si ou para os colegas.
Correndo mal o Tour, como prevejo, a Radioshack vai à Vuelta
lutar pela sua sobrevivência. É verdade que têm contractos de patrocinadores
para 2013, mas Leopard e Radioshack também tinham os seus e juntaram-se,
anulando alguns contractos… e na Geox anularam-se mesmo todos.
Cancellara, Fuglsang, Frank e Andy Schleck lesionaram-se
quando menos convinha à equipa, e disso ninguém tem culpa. De resto, Bruyneel
foi fazendo muita porcaria e destruindo o ambiente dentro da equipa. Apesar dos
azares, tudo podia ser melhor? Acredito que sim, principalmente neste
Tour, em que se vão ver todos os erros até agora feitos.
Para o bem do ciclismo era muito importante que a Radioshack não se extingui-se. Mas os egos dos irmãos Schleck e do Sr. Bruyneel são muito complicados e chegar a um acordo não me parece ser nada fácil, ainda mais com alguns rumores a dizer que os Schleck vão para uma equipa nova com sponsor alemão.
ResponderEliminarNo que toca ao Tour, penso que vai ser complicado.. O Frank ou consegue ter grandes prestações na Alta montanha e ganhar mesmo muito tempo ou então um top-10 não vai ser fácil!
Como fan que sou dos irmãos Schleck espero que tudo corra bem e que este ano seja apenas um ano mau e que em 2013 tudo volte ao normal!
Excelente artigo Rui, como sempre!