Wiggins vs Evans: continua no Tour |
Quando, há um ano atrás, BradleyWiggins venceu esta mesma prova, disse eu que, por estar perante a sua
maior vitória na estrada até então (e, talvez, a maior da sua carreira) mesmo
que no Tour já estivesse fora de forma não poderia ser criticado. Pois bem,
esse Tour não correu bem, devido a uma queda e clavícula fracturada ainda na
primeira semana, mas preparou-se para a Vuelta e lá foi terceiro. Depois disso
venceu o Paris-Nice, a Volta à Romandia e agora o Criterium du Dauphiné. Mais
surpreendente: não perdeu nenhuma prova. Nenhuma! Na Volta ao Algarve trabalhou
para Porte e na Catalunha o líder era Uran.
O poder do contra-relógio
Este ano teremos uma
Volta a França com 101,4 quilómetros de contra-relógio, 6,4 logo no
prólogo, 41,5 à nona etapa e 53,5 no penúltimo dia de prova. Para equilibrar,
seis etapas de montanha, mas apenas quatro deverão causar diferenças
importantes para os primeiros lugares da classificação geral e somente três
terão chegada em alto. Ao contrário do ano passado, em que dois trepadores
puros como os irmãos Schleck conseguiram terminar no pódio, este é um Tour para ser defendido na
montanha e conquistado nos contra-relógios. Não apenas relativamente ao
primeiro lugar, como Cadel Evans fez, mas relativamente a todo o pódio e, quem
sabe, os cinco primeiros lugares.
Wiggins está entre os três melhores contra-relogistas do
mundo, juntamente a Tony Martin e Fabian Cancellara. Medalha de prata nos
mundiais da especialidade no ano passado, este ano venceu o crono na Volta ao
Algarve (com Martin a poucos centésimos de segundo), a crono-escalada do
Paris-Nice, o crono da Volta à Romandia e agora o do Critérium du Dauphiné.
Relativamente a prólogos: 2º no Paris-Nice e Dauphiné, 11º na Romandia.
Na Vuelta do ano passado Wiggins foi um dos melhores na
montanha. Não o melhor, mas um dos melhores e o único dia em que falhou foi na
chegada ao Angliru, na zona dos 20% de inclinação, algo que não haverá em
nenhuma das três chegadas ao alto no Tour que se avizinha. Além disso, este ano
passou com distinção os poucos testes de montanha que teve: terceiro na etapa
rainha do Paris-Nice, a apenas 6 segundos do vencedor; e sem perder tempo nas
subidas do Dauphiné.
O poder da equipa
Em todas as grandes voltas há uma fase em que não há colegas
que valham e tem que ser o próprio chefe-de-fila a enfrentar os seus mais
directos adversários. Porém, quanto mais apoio tiver Wiggins na montanha por
parte dos seus colegas, melhor, de modo a garantir que a vantagem conquistada
nos contra-relógios seja segurada nas chegadas ao alto, onde os melhores
trepadores (porque há melhores trepadores que Wiggins) tentarão atacar. E a Sky já mostrou ter equipa para acompanhar
o seu líder.
Wiggins deixou a Columbia em 2008 para deixar de trabalhar
para Mark Cavendish, voltando-se a encontrar agora na Sky, cada um com os seus
objectivos e que poderão chocar na Volta a França. Cavendish quer vencer o
máximo de etapas e a classificação dos pontos e precisa de colegas do seu lado,
Wiggins quer a camisola amarela e também necessita de colegas que o apoiem
nesse objectivo. Bernhard Eisel é o
colega de quarto e indiscutível do lado de Cavendish, enquanto Wiggins não dispensará Chris Froome, Michael Rogers e Richie
Porte, fundamentais na defesa da liderança no Dauphiné Libéré. Edvald Boasson Hagen, vencedor de duas
etapas no Tour 2011, é uma peça
importantíssima para o comboio de Cavendish e para a ajuda a Wiggins nas
etapas de montanha, antes dos trepadores entrarem em acção, e com isto estão
encontrados sete homens de uma equipa de nove. Para os dois lugares que sobram, falta alguém para controlar o
pelotão nas etapas planas, como Christian
Knees ou Danny Pate, pois Rogers e Porte também poderão dar uma ajuda no
comboio de Cav. Por fim, um último homem de montanha para ajudar no objectivo
da camisola amarela deverá ser Lars-Petter
Nordhaug, Thomas Lovkvist ou Kanstantsin Siutsou. Atendendo a que Rigoberto
Uran e Sergio Henao já fizeram o Giro (e a grande nível), as duas vagas que
sobram deverão ser para alguém desses cinco.
E a equipa está motivada, um trabalho que vem a ser (bem)
feito desde o começo da temporada e especialmente importante no que toca a
corredores que, noutras equipas, poderiam ser líderes. Logo na Volta ao
Algarve, em que Wiggins foi terceiro, Richie Porte teve a sua oportunidade para
brilhar, vencendo etapa rainha e classificação geral; Rogers teve a
oportunidade de ser 4º no Tour Down Under da sua Austrália natal e venceu a
Volta à Baviera (2 etapas e geral); Hagen venceu a Volta à Noruega e tem etapas
no Algarve, T-A, Noruega e Dauphiné; e Nordhaug venceu o Trofeo Deia, pôde
liderar no País Basco (6º) e teve liberdade na sua Noruega (3º). Só Froome não
teve oportunidade de lutar por vitórias, mas apenas porque teve problemas
físicos.
Quem poderá bater Wiggins?
Se Wiggins estiver no seu melhor na Volta a França, e
acredito que estará, o seu maior rival
deverá ser Cadel Evans, vencedor em título, capaz de fazer excelentes contra-relógios
e de atacar na montanha. À parte destes dois, vejo Robert Gesink e Jurgen Van
Den Broeck como dois fortes candidatos ao pódio, até mesmo Denis Menchov ou
Vicenzo Nibali, mas a alguma distância de Wiggins e Evans, pelo menos em
favoritismo pré-corrida.
Entretanto tempos a Volta à Suíça (que já está na estrada) e
tempo suficiente para analisar outros favoritos e outras equipas.
Comentem, porque o blogue faz mais sentido se tiver interacção
;)