terça-feira, 14 de agosto de 2012

Para que serve esta selecção nacional?

Esta é a terceira edição consecutiva em que a Volta a Portugal conta com a participação de uma selecção nacional e parece que, em apenas três anos, os propósitos dessa selecção se foram distorcendo. Não é de estranhar, tendo em conta que durante a apresentação da Volta a Portugal o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo disse que acha que a prática do ciclismo em Portugal está boa. Acha? Então mas este senhor dirige a federação e não sabe como está a modalidade?

Nota prévia: todas as idades referidas têm como referência o dia 31/12/2012, que é a idade que conta para os regulamentos da UCI.

Os então sub-23 Fábio Palma, Jóni Brandão, João Pereira, Vasco Pereira e Marco Coelho, juntamente aos mais velhos Hélder Leal, Rui Vinhas, Edgar Anselmo e Hugo Sancho foram os escolhidos para representar a selecção nacional na Volta a Portugal 2010. A selecção pretendia ser o mais forte possível, claro, sem desfalcar as equipas sub-23 para o seu principal objectivo da temporada, a Volta a Portugal do Futuro. Como tal, não podia escolher muitos ciclistas da mesma equipa, pois são estas que apoiam estes jovens durante toda a temporada e seria um apoio inglório depois não poderem contar com os seus melhores corredores na prova mais importante da temporada. Por isso, compreendo que desde o primeiro momento a selecção incluísse alguns corredores mais velhos.

Sempre considerei que o importante para esta selecção não era vencer etapas e lutar por classificações, mas sim possibilitar que um grupo de jovens ganhasse experiência, evoluísse e pudesse mostrar a sua qualidade na maior montra do ciclismo português (pois na Volta ao Algarve os portugueses têm tido dificuldades em mostrarem-se, por motivos perfeitamente compreensíveis). Não sei se a selecção de 2010 era a melhor possível na altura ou não, mas é de realçar que Hugo Sancho e Rui Vinhas passaram no ano seguinte a profissionais (no caso do Hugo, um regresso) e que para isso terá contribuído as suas prestações na Volta. Portanto, olhando para trás, até dou nota positiva à selecção nacional da Volta 2010.

Porém, a evolução das escolhas não me agrada nem me convence. Não tenho nada contra nenhum dos ciclistas convocados, mas não concordo que se tenha convocado um ciclista de 29 anos, neste caso, o Micael Isidoro, mas fosse ele qual fosse. O mesmo ciclista voltou a ser convocado este ano, aos 30, Bruno Saraiva também voltou a ser convocado aos 27 e Rui Vinhas aos 26. Não seria mais produtivo utilizar a presença da selecção na Volta para mostrar novos valores? Bom, temos o caso do Hugo Sancho, que voltou ao "profissionalismo" (salvo seja) aos 29 anos, mas o que podem oferecer estes corredores ao ciclismo português? Deve a aposta ser o regresso ao profissionalismo de quem já lá esteve e não vingou, ou de quem espera pela sua oportunidade depois de 6, 7, 8 anos ou até mais passados no ciclismo de formação?

A minha opinião, é clara e, para o caso de não ter ficado explícito: acho que, em vez de segundas, terceiras ou quartas oportunidades a quem já vai em idade avançada para o ciclismo de elite, se deviam dar primeiras oportunidades a sub-23, especialmente de 3º e 4º ano, que andam sobre a linha que separa a passagem ao "profissionalismo" ou o fim precoce de talentosas carreiras. Homens de 26/27 anos nesta selecção, devem ser excepção e não prática corrente. Aos de 28, 29 ou 30, já nem fale a pena comentar. Como o leitor certamente reconhecerá, sempre admiti que pense de forma diferente, mas esta é minha opinião e tenho bem vincada. No entanto, aceito que alguém me tente convencer do contrário. Têm a caixa de comentários sempre aberta para tal.

Listagem de todos os seleccionados
ao longo dos 3 anos
Olhando para a média de idades destes três anos, pouco se altera: 23 anos em 2010 e 23,56 em 2011 e 2012. Mas, como qualquer um de nós saberá, médias, por si só, representam pouco. Por exemplo, este ano a selecção tem 2 corredores de apenas 20 anos, o que impede que a média seja mais elevada. Sem querer tornar esta crónica demasiado massuda, para medir essas dispersões existe o desvio padrão, que era de 2,45 em 2010, 2,60 em 2011 e 3,40 este ano. Este valor vem de encontro ao que anteriormente tinha referido: a média pouco sobe, mas cada vez há valores mais distantes da média, ou seja, ciclistas mais jovens e ciclistas mais velhos.

Alternativas? Nuno Meireles (Mortágua), Frederico Figueiredo (Liberty Seguros), David Rodrigues ou Bruno Borges (ASC), apenas para referir sub-23 de 3º ou 4º ano. Outra alternativa, Diogo Silva (Maia), apesar dos 24 anos, continua a ser significativamente mais jovem do que os três anteriormente referidos. Levar ciclistas de 20 anos, não é a minha solução preferida, pois acho preferível amadurecerem mais um ano. Mas ainda assim acho preferível do que levar quem "peca" (sem culpa, claro) por excesso de idade e, se os 20 anos não são problema para a Federação, então certamente arranjava aqui mais uns 3 ou 4 nomes. Certamente alguns não poderiam ir para não entrar em choque com as suas equipas, outros até terão actualmente problemas físicos que desconheço, mas estou certo de que a selecção poderia ter sido muito melhor feita. De todas as possibilidades, dois ou três estariam efectivamente disponíveis para correr a Volta. Talvez não terminassem no 40º lugar (que nada importa) mas sim no 60º (que também nada importa), mas correr a Volta a Portugal seria muito mais útil para o desenvolvimento destes.

A realidade do ciclismo português, hoje, não é a mesma de há quatro anos e a federação tem que se adaptar a ela. É difícil quando o presidente da Federação diz, em directo na TV na apresentação da Volta, que acha que a prática do ciclismo em Portugal está boa. Não se admite que o presidente ache que a prática do ciclismo está boa. Ele tem que saber que está mal!

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