Alberto Contador é, sem dúvida alguma, o ciclista que mais ataca nesta Vuelta. Atacou várias vezes ontem a caminho de Ancares, repetiu várias vezes hoje na subida para os Lagos de Covadonga e no meio de tantos ataques já feitos nesta Vuelta contam-se alguns até em terreno plano, mas ainda não conseguiu fazer descolar Joaquim Rodríguez. "Há que correr com cabeça. Parece que sou o único que guarda e gere as suas forças" diz Purito.
A Unipublic* preparou para este ano uma Vuelta com dez finais a subir, Alberto Contador esfregou as mãos de contente e, cego pela vontade de correr, preparou-se para atacar, atacar, atacar e atacar mais um pouco se tempo sobrasse.
Como o começo da Vuelta foi num contra-relógio colectivo, Contador teve que esperar pelo segundo dia para o primeiro ataque. Dois segundos de bonificação num sprint intermédio foram o resultado. Dia seguinte, chegada a Arrate (1ª categoria), e primeiros ataques de Contador na montanha, sendo quarto no dinal, atrás de Joaquim Rodríguez, Valverde e Froome, que assim lhe ganhavam o tempo das bonificações. Ao quarto dia, terceira etapa em linha, subida para a Valdezcaray e mais ataques de Contador, com o seu colega Daniel Navarro e seguido por Froome e Nicolas Roche. Já os comentadores do Eurosport português perspectivavam uma grande Vuelta entre Contador e Froome, quando o pelotão principal os alcançou, sem que os rivais directos se tivessem que mexer. Enquanto Contador e Froome tentavam ganhar a Vuelta logo na primeira semana, Rodríguez e Gesink deixavam os seus gregários controlar a situação. Aliás, as relações entre Rodríguez e os seus gregários assemelhasse à de Wiggins e os seus. Rodríguez pediu a contratação de homens de confiança, sabe que estes dão tudo por si e sabe as suas capacidades. Quando necessário, também sabe ser um bom gregário, como se viu na Volta a Burgos ganha por Daniel Moreno.
A sexta etapa foi a única com final a subir (Jaca, 3ª categoria) em que Contador não atacou, queixando-se no final de cãibras. Mas no dia seguinte, na chegada a Andorra, mais lenha, com Contador e Froome ao ataque e Joaquim Rodríguez a seguir na roda de Daniel Moreno que fazia a perseguição. Na meta, Valverde, Rodríguez e Contador com o mesmo tempo, mas com 12, 8 e 4 segundos de bonificação por esta ordem. Era Rodríguez a ganhar tempo e o "especialista" do Eurosport a fazer um placar futebolístico entre Contador e Froome, que nesse dia ia 3-3 ou algo assim, como se isso importasse.
Antes do primeiro dia de descanso, final em Barcelona e passagem pelo curto mas inclinado Montjuic e lá vai Contador ao ataque. Não durante a subida, mas antes desta começar. Bom, quando começaram a subir já Contador tinha sido alcançado e quando Rodríguez e Gilbert atacaram não conseguiu ir. Mais 12 segundos ganhos pelo catalão na estrada e mais 8 de bonificação. Quando se chegou ao contra-relógio, já Contador somava muitos ataques inconsequentes e Rodríguez, mais calculista, conseguiu reduzir as perdas, mantendo a liderança por um segundo, que facilmente poderiam ser perdidos nas três etapas de alta montanha deste fim-de-semana prolongado. Antes disso, nova subida, agora ao Mirador de Ézaro, uma subida de cerca de dois quilómetros mas com rampas muito inclinadas, o que fazia de Rodríguez o grande favorito. Era um dia para Contador se defender mas Contador só sabe atacar. Ele, que ataca para atacar (passo a redundância) e ataca para se defender, subestimou Rodríguez, nos últimos 300 metros pagou o esforço e perdeu oito segundos (mais 4 em bonificações).
Três etapas já ganhas por Rodríguez |
No final da etapa de ontem, Rodríguez dizia "há que correr com cabeça. Parece que sou o único que guarda e gere as suas forças" e no dia de hoje a Saxo Bank quis dar-lhe razão. Na subida final, Navarro, Hernández e Majka estiveram ao ataque, num trabalho que nada serviu a Contador. Talvez esperassem ganhar alguma distância e poderem ajudar o líder mais adiante, mas nem eles conseguiram ganhar espaço nem Contador conseguiu descarregar o líder da prova, que respondeu sempre muito bem. Já quando ao Pistolero, cada vez notava-se que tinha a pólvora mais seca, com ataques cada vez menos intensos, e ainda não foi hoje que ganhou tempo ao mais directo adversário.
Contador ainda não ganhou tempo a Rodríguez sem ser numa meta volante e no contra-relógio e já não existem mais cronos nem é de esperar que recupere os 22 segundos que tem de atraso nas metas volantes que ainda existem pela frente, mas a Vuelta ainda está em aberto. Num dia mau de Rodríguez, Contador pode ganhar bem mais do que isso mas num dia mau de Contador é Rodríguez quem poderá duplicar a vantagem. Por um lado, Rodríguez não precisa de esperar por um dia negativo do madrileno, bastando-lhe ir na roda e fazer a diferença nos últimos 200/300 metros, por outro lado, Contador não pode esperar por um dia mau de Rodríguez e tem que fazer pela vida. Mas não é com esta estratégia de "ataques e ataquezinhos" que Contador vai lá.
Já se viu que a Saxo Bank não tem condições para endurecer a corrida como fez a Astana no Tour 2010. No Eurosport podem elogiar os sprints de 400 metros do Bruno Pires e sobretudo o trabalho do amigo Sérgio Paulinho (que mantém o ritmo por muitos quilómetros mas é incapaz de deixar para trás os adversários, os segundos gregários e mais alguns que lá se mantêm), mas basta passar a fronteira para ter uma opinião mais imparcial.
«Com ataquezinho não podes tirar de cima o Purito. Ou pões um ritmo forte com a tua equipa, que não é nada de especial, ou tentas mais longe da meta». A frase é do jornalista do AS, José Andrés Ezquerro, no Twitter e resume bem a minha opinião.
Contador tem amanhã a chegada a Valgrande-Pajares (Cuitu Negru) e no sábado seguinte a chegada à Bola del Mundo, ainda pode ganhar a Vuelta, mas só tem Majka para endurecer a corrida e precisa de atacar forte de uma só fez. Quando atacar, tem que ser para ir até ao final e não para parar 200 metros depois.
O que pode Contador fazer?
Contador ainda não ganhou tempo a Rodríguez sem ser numa meta volante e no contra-relógio e já não existem mais cronos nem é de esperar que recupere os 22 segundos que tem de atraso nas metas volantes que ainda existem pela frente, mas a Vuelta ainda está em aberto. Num dia mau de Rodríguez, Contador pode ganhar bem mais do que isso mas num dia mau de Contador é Rodríguez quem poderá duplicar a vantagem. Por um lado, Rodríguez não precisa de esperar por um dia negativo do madrileno, bastando-lhe ir na roda e fazer a diferença nos últimos 200/300 metros, por outro lado, Contador não pode esperar por um dia mau de Rodríguez e tem que fazer pela vida. Mas não é com esta estratégia de "ataques e ataquezinhos" que Contador vai lá.
Já se viu que a Saxo Bank não tem condições para endurecer a corrida como fez a Astana no Tour 2010. No Eurosport podem elogiar os sprints de 400 metros do Bruno Pires e sobretudo o trabalho do amigo Sérgio Paulinho (que mantém o ritmo por muitos quilómetros mas é incapaz de deixar para trás os adversários, os segundos gregários e mais alguns que lá se mantêm), mas basta passar a fronteira para ter uma opinião mais imparcial.
«Com ataquezinho não podes tirar de cima o Purito. Ou pões um ritmo forte com a tua equipa, que não é nada de especial, ou tentas mais longe da meta». A frase é do jornalista do AS, José Andrés Ezquerro, no Twitter e resume bem a minha opinião.
Contador tem amanhã a chegada a Valgrande-Pajares (Cuitu Negru) e no sábado seguinte a chegada à Bola del Mundo, ainda pode ganhar a Vuelta, mas só tem Majka para endurecer a corrida e precisa de atacar forte de uma só fez. Quando atacar, tem que ser para ir até ao final e não para parar 200 metros depois.
* Ao contrário do que dizem no Eurosport português, quem organiza a Vuelta não é a ASO mas sim a Unipublic. A ASO é organizadora da Volta a França, Paris-Nice, Paris-Roubaix e muitas mais corridas, em 2008 comprou 49% da Unipublic mas não comprou a organização da Vuelta, até porque 51% da Unipublic continua a pertencer ao grupo Antena 3. Naturalmente, sendo accionista da Unipublic (e com tanto peso), a ASO tem interesse que a Vuelta corra bem e colabora na organização da prova, mas não manda como manda no Tour e nas suas provas. Além disso, a Unipublic pode ceder a organização da Vuelta a outra empresa sem deixar de pertencer à ASO (nos mesmos 49% ou noutra percentagem). Serve isto para alertar que muito do que se diz neste canal está longe da verdade.
Aliás, devia ser proibido dar microfones de um canal televisivo a algumas pessoas, que claramente desinformam mais do que informam. Então quando toca a traduzir entrevistas, conseguem mudar completamente o conteúdo das mesmas. Enfim, e há tantos jornalistas desempregados...
A questão é que o tipo de chegadas em montanha que têm havido favorecem mais a explosividade de Rodriguez do que a consistência de um trepador como Contador..ainda só houve uma etapa de alta montanha com outras subidas pelo meio..amanhã sim teremos novamente uma etapa dessas que pode favorecer mais um corredor como Contador que recupera melhor do que um corredor como Rodriguez. Agora de facto Contador deve atacar de longe ao invés de esperar pelos últimos 5 Km de subida final porque assim não vai lá.
ResponderEliminarJulgo que o mais importante não é a distância a que ataca mas sim a confiança e determinação que com que o faz. Nos Lagos de Covadonga fez um ataque forte e determinado, não resultou, e a partir daí dedicou-se a atacar "a torto e a direito", com pequenos ataques a ver se o barro colava à parede. Mais valia ter poupado as energias de tantos pequenos ataques e concentrar-se num forte.
ResponderEliminarNa subida para Ancares (sábado) também subestimou o Purito, atacou e na parte final ficou sem forças. No Mirador de Ézaro, igual...
Cumprimentos
"Quando atacar, tem que ser para ir até ao final e não para parar 200 metros depois."
ResponderEliminarÉ fácil de dizer mas a verdade é que parece que o Contador não tem ainda a rodagem suficiente para manter o espaço que consegue abrir quando ataca. Por aí se explica a táctica da Saxo Bank que tentou meter Majka, Hernandez ou Navarro na frente (o que a Movistar eventualmente conseguiu fazer com o Quintana) para conseguirem depois ajudar o Contador a manter o espaço que conseguisse abrir para trás, evitando aquilo que aconteceu por exemplo em Andorra ou Ancares.
E também não me parece que o problema esteja na equipa: não faz sentido queimar todos os colegas para colocar um ritmo alto quando esse ritmo não é suficiente para isolar o Rodriguez, visto que pelo menos o Moreno se vai conseguindo manter por lá.
Elogiar a Rabobank/Gesink pela calma que tem tido, só mesmo por graça. Com três corredores no top10 (agora Mollema já descaiu) conseguiram ser sempre uma equipa completamente amorfa e sem chama. Não que se esperasse grande coisa até tendo em conta o percurso (pouco dado a grandes golpes tácticos) mas a certa altura podiam tentar colocar um deles numa fuga e esperar pelo melhor em vez de se irem segurando , perdendo tempo todos os dias.
Concordo no entanto que realmente o sentido táctico do Contador não é de facto o mais apurado do mundo. Talvez demasiadas corridas em que estava num nível superior (o Giro 2011 é um exemplo clássico) o tenham levado a nunca ter de ser especialmente inteligente a correr para ganhar.
Em relação ao Paulinho e ao Pires, de acordo com a forma como a equipa foi estruturada, o trabalho deles é apenas levarem até à subida final sendo que a parte de rebentar as equipas adversárias está a cargo de Navarro/Hernandez/Majka. E na verdade tem razão quando diz que os dois primeiros têm estado um pouco abaixo. Mais do que isso, diria que são especialmente inconsistentes e pouco confiáveis (a nível físico) o que obviamente não ajuda.
De qualquer modo, parabéns pelo blog (onde participo pela primeira vez) que acrescenta ou salienta sempre algum ponto interessante acerca das corridas embora discorde bastantes vezes das análises tácticas feitas.
Cumprimentos
Bem-vindo, Tiago. Discordar de opiniões faz parte e estás completamente à vontade para o fazer, porque este é um blog livre e porque até explicaste muito bem o teu ponto de vista.
ResponderEliminarNão vou estar a debater o resto do comentário porque seria um debate infértil. Temos opiniões diferentes e ambos já apresentamos argumentos. Apenas me vou explicar quando ao Gesink e à Rabobank. Eu não elogiei o Gesink pela calma que tem tido no geral mas sim pela calma que teve na subida para Valdezcaray, na segunda chegada ao alto, quando ele e os seus colegas ainda estavam bem na geral. Só uns dias depois a Rabobank começou a soltar peças e a quebrar o rendimento.
Cumprimentos ;)
Na minha opinião o foco não tem de ser nos ataquezinhos do Contador, como espectador é destes ciclistas que gosto de ver, com garra, com coração, com actitude. O foco tem de ser no super Rodriguez que está sem dúvida com uma forma do outro mundo, a minha única pena é já ser um corredor com uma idade avançada.
ResponderEliminarInfelizmente o Valverde perdeu quase 1 minuto naquele dia dos cortes, infelizmente o Froome está a pagar a factura do Tour, mas sem dúvida esta Vuelta está a compensar o Tour miserável deste ano.
Acabo por não concordar com a análise feita às equipas, porque acho que esta não tem sido uma "corrida das equipas" (ao contrário do Tour), têm maioritariamente sido os candidatos à vitória a ter de fazer as diferenças entre si, as equipas pouco têm conseguido ajudar. Se me agrada...muito :) é ver que quem ganhar no fim será o melhor ciclista e não o ciclista com a melhor equipa.
Parabéns à Vuelta e parabéns ao teu blog.
Obrigado pelo comentário, Tiago Sousa!
ResponderEliminarSem dúvida que, a partir de um certo ponto, é cada um por si e não há equipa que valha, a não ser que a mesma equipa tenha dois dos melhores como aconteceu no Tour com o Wiggins e o Froome. Ainda assim, o Daniel Moreno já foi importante em algumas etapas e agora está a ser o Nairo Quintana. Apesar disso, quando chega à parte em que os colegas não podem ajudar, o Rodríguez tem-se mostrado o mais forte.
Cumprimentos e obrigado!
Hoje com mais uma etapa percorrida, acho que esta vuelta não deve escapar ao rodriguez.Está a ser uma volta bastante interessante!
ResponderEliminarQuantos aos portugueses uma muito boa volta do andré cardoso, assim como do sergio e do bruno...o manuel cardoso não tem finalizado muito bem, mas tambem não tem grande equipa para o ajudar.
Já o broco tem estado mal, e o tiago terrível...como é que ele chega atrás de ciclistas como gorka verdugo?
Obrigado por poder contar com estas excelentes análises ;)
Obrigado pelo comentário, Pedro ;)
ResponderEliminarMais uma etapa, mais uma demonstração de superioridade do Rodríguez. Mas até à Bola del Mundo existe um dia de descanso e três etapas. Vamos ver como evolui a forma de cada um ao longo destes três dias.
Cumprimentos
Depois do que vi ontem a tarefa está mais complicada para o Contador..no próximo sábado os quilómetros finais da Bola del Mundo favorecem uma vez mais a explosividade de Rodriguez.
ResponderEliminar