Rodríguez foi o melhor entre os favoritos na Bola del Mundo |
À entrada para a última etapa, era sabido que só um dia
horrível de Alberto Contador poderia faze-lo perder esta Vuelta a España, e
apesar de ter balançado, Contador não caiu do lugar mais algo do pódio. Terá
sofrido até ao risco de meta, mas a vitória nunca esteve propriamente em risco,
pois já na chegada à Bola del Mundo de 2010 as diferenças entre os primeiros
tinham sido curtas.
Durante as três chegadas em alto do último fim-de-semana (prolongado),
deu-me a sensação de que Joaquim Rodríguez não estava a ir ao seu limite. Talvez
sentisse que era o mais forte e que Contador não lhe conseguiria recuperar
tempo na montanha, bastando-lhe defender e ganhar tempo nas últimas centenas de
metros. Acertou e hoje confirmou que era o mais forte na montanha, mas pelo
meio, numa excelente jogada táctica, Contador ganhou-lhe muito tempo, tempo
suficiente para vencer a Vuelta, mesmo estando vários furos abaixo do catalão
hoje. Ninguém contaria com aquela jogada da Contador, mas a Vuelta tinha 3360
quilómetros e não apenas dez chegadas a subir e dois contra-relógios (um
individual e outro colectivo).
Se Valverde não perdesse 55 segundos por uma queda… Se
Rodríguez tivesse atacado nas outras chegadas ao alto… Se Contador não tivesse
Tiralongo na etapa de Fuente Dé… não sei o que aconteceria e não interessa. Os “ses”
interessam para preparar o futuro mas não para especular o passado, porque o
passado é… o que foi. E Contador foi o mais rápido nesta Vuelta e vence-a, a
sua sétima Grande Volta conquistada na estrada, quinta oficial porque duas
ficaram num bife.
Não se pode rotular Contador como o maior favorito para o
Tour 2013 nem Rodríguez como um candidato ao pódio desse Tour. Não antes de ser
anunciado o percurso do mesmo, porque Contador é muito completo mas Wiggins
vale o que vale e, se houver tanto contra-relógio como este ano, será ele o
maior favorito. “Se”. Vamos aguardar pelo percurso e só depois perspectivar quem
são os principais favoritos.
Joaquim Rodríguez já disse que só estará no próximo Tour
caso possa lutar pelo pódio ou por vestir a camisola amarela. “Retirar-me com
um pódio nas três Grandes seria espectacular. Também não seria mau vestir-me de
amarelo, já que também estive de rosa no Giro e vermelho na Vuelta”, diz. E acrescenta
“Tudo depende do percurso e se me assenta bem. Se a Vuelta é como a deste ano,
serei certo aqui. O Tour? Dependerá se tem um crono individual e outro por
equipas e tem bastante montanha”. Porque Rodríguez não faz o seu calendário com
base no mediatismo das provas (se assim fosse, estaria sempre no Tour) mas sim
nas hipóteses que tem de ganhar cada uma delas.
Se Rodríguez fosse português, tudo o que fizesse seria classificado
de perfeito para alguns dos nossos comentadores. Poderia ter sido 20º no Tour e
alguns acabariam por dizer «é uma prova, a todos os níveis, fantástica, tendo
em conta que tinha tanto contra-relógio». Mas as desculpas e os “tendo em conta”
não servem a Rodríguez… como não servem a Rui Costa e é este o tipo de
ciclistas que mais gosto. Por isso vão coleccionando excelentes resultados
durante todo o ano.
Rui Costa 3º no GP de Québec
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Van Avermaet, Gerrans e Rui Costa no pódio |
E por falar no Rui Costa (faz de conta que foi por acaso), ontem mais
uma prestação excelente. A Movistar assumiu a candidatura do Rui, como outras
equipas fizeram para os seus líderes, mas era uma prova muito difícil de
controlar, com muitos ciclistas que poderiam atacar de forma perigosa. Um
ataque a quatro quilómetros da meta deu os dois primeiros lugares a Simon
Gerrans e Greg Van Avermaet, dois homens que se adaptam muito bem ao percurso
dos Mundiais. Aliás, tanto o GP do Québec como o GP de Montreal (domingo) têm
parecenças importantes ao Campeonato do Mundo. Nomeadamente, boa parte dos
candidatos às medalhas do Mundial e um percurso que dificulta a gestão da
corrida por parte de qualquer equipa. O Mundial será muito difícil… para toda a
gente, mas as indicações dadas pelo Rui Costa continuam a ser excelentes.
Com este 3º lugar subiu a 7º no Ranking do World Tour
(faltando adicionar os pontos da Vuelta, que darão para Froome e Valverde o
ultrapassarem).
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Já foi falado nos comentários a uma outra crónica, mas fica
aqui também: a Federação já anunciou os seis pré-convocados para os Mundiais.
São eles André Cardoso e Manuel Cardoso (Caja Rural), Bruno Pires e Sérgio Paulinho
(Saxo Bank), Rui Costa (Movistar) e Tiago Machado (Radioshack). Surpreende-me a
convocatório do Manuel Cardoso, o melhor sprinter português, mas que não se
adapta a um percurso com 27 colinas para ultrapassar. O Nelson Oliveira está a
curar-se de problemas médicos e por isso fica de fora
Foi também anunciado que não existirá presença na prova de
contra-relógio, nem nos elites, nem nos juniores, onde foram convocados Rafael
Guerreiro, Luís Gomes e Francisco Valinho. Ainda que Portugal não se tenha
classificado nos vinte melhores lugares do Ranking Mundial do escalão, todos os
outros países estão automaticamente convocados com três vagas.
Ainda sobre selecção nacional, foi publicado no Jornal
Ciclismo um editorial onde se critica, de forma relativamente dissimulada, a
ausência de ciclistas do pelotão nacional na pré-convocatória. É ainda apontado
o nome de José Gonçalves (Boavista), tanto para Campeonatos do Mundo como para
Jogos Olímpicos. Importa referir, cinco coisas sobre isto:
1 – O editor do Jornal de Ciclismo é o director desportivo
do Boavista José Santos;
2 – O pelotão nacional só ultrapassou os 200 km por uma vez
nesta temporada (1ª etapa da Volta a Portugal) e falta preparação para uma
prova de mais de 260 km (e 250 no caso dos Jogos) – Um problema que se tem
agravado nos últimos anos;
3 – Da Volta a Portugal aos Mundiais são 28 dias sem
competições de nível alto ou sequer médio – Um problema antigo e que afectava
toda a selecção quando não havia portugueses a correr no estrangeiro ou havia
poucos;
4 – Nos Jogos Olímpicos, para participar na prova de
contra-relógio é obrigatório
participar na prova em linha e no contra-relógio é algo que se costuma fazer
para poupar nos custos de viagem;
5 – Também eu sou parvo. Se não fosse, já não perdia tempo a
ler esse site.
Não vou transcrever para aqui nada do artigo porque o seu
nível de português é muito mau. Mas para quem quiser ler, basta clicar aqui.
O José Gonçalves, como o Sérgio Ribeiro, o Hugo Sabido e
outros, são ciclistas de boa qualidade, mas têm as desvantagens anteriormente
referidas. Já defendi a sua convocação noutros anos, mas neste caso, tendo
ciclistas mais rodados e em boa forma…
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Independentemente de quem estiver nos quatro escolhidos, boa
sorte para eles e para os juniores que vão representar o país!