domingo, 27 de janeiro de 2013

Doping, um problema desde a formação

A capa é de 2009 mas a história não pode ser esquecida
De um momento para o outro, toda a gente achou o ciclismo um assunto interessante... para falar da confissão de Lance Armstrong, claro. Muitos sentiram-se traídos e enganados por Armstrong e pelo ciclismo, incluindo muita gente que nunca acompanhou esta modalidade. Quem troca a praia e o sol de Julho pelo Tour, quem passa a Páscoa a ver a Volta a Flandres ou o Paris-Roubaix, quem faz quilómetros e quilómetros para acompanhar uma etapa da Volta a Portugal, quem realmente gosta de ciclismo, continuará a gostar. Mas não se pode deixar passar esta oportunidade para combater o problema do doping, a começar pelos escalões de formação, desde os cadetes ou das escolas de ciclismo.

Que o doping faz parte do desporto profissional, só dúvida quem quer. Pela enésima vez digo que nem todos os profissionais se dopam, mas em todas as competições disputadas a um nível profissional existe doping. Por outro lado, não duvido de que o ciclismo é uma das modalidades em que o doping está mais entranhado, não apenas a nível profissional, mas também nos veteranos (em Portugal, muitos deles têm nas suas profissões ordenados superiores à maioria dos ciclistas "profissionais") e nos escalões de formação.

Nas corridas de veteranos não me preocupa absolutamente nada o doping. Esses são maiores e vacinados, jogam apenas com a sua saúde e acho um desperdício de dinheiro que se faça aí controlos anti-doping (exceto se forem pagos pelo organizador da prova).

Preocupa-me apenas o doping na elite e naqueles que um dia serão a elite do desporto, os jovens. É muito preocupante que haja doping nos juniores e nos cadetes e que já nos juvenis miúdos de 13 anos estejam dispostos a tomar algo que não sabem o que é, apenas porque alguém diz que vai ajudar, miúdos que muitas vezes não correm por eles mas sim pelo sonho do pai, do tio, do primo, do treinador ou do diretor que quis ser ciclista e não conseguiu.

Os adolescente que se habituam a tomar algo que nem sabem o que é, são os mesmos que em elites se vão dopar porque acham normal. Já repararam que nunca um ciclista disse que se dopou para estar em vantagem? Todos os que se dopam fazem-no a acreditar que estão a fazer algo que os adversários também fazem.

Nos escalões de formação, não basta fazer controlos anti-doping. Mais do que isso, é preciso sensibilizar os jovens para o problema. O doping existe no ciclismo, não há como negar, e é importante que o primeiro contacto dos jovens com o problema seja no bom sentido, o de o combater, e não um "toma isto que faz bem". Acreditem que isto acontece. Lembrem-se do caso da ADRAP em 2009, um disparate que não se pode repetir e mostra o desacerto que se viveu na Federação nos últimos anos (9º e 10º paragrafos da crónica aqui em link).

E não se pode negligenciar a formação de quem forma os jovens, os seus treinadores e dirigentes, que devem ter ações de formação e sensibilização continua. Muitos continuam com as "receitas" dos seus tempos de corredores, profissionais ou amadores. O ciclismo não precisa dessa gente!

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E por falar na FPC e em campanhas de sensibilização, veja-se a mais recente "Pedalar em segurança é um direito", que tem como rostos Rui Costa e David Rosa. Está no site da Federação Portuguesa de Ciclismo e no Facebook. Partilhem também vocês nas redes sociais, para bem de todos os que andam de bicicleta. Quanto mais gente for sensibilizada, melhor. E parabéns à FPC pela ação!

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