sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Volta ao Dubai, mais uma concorrente para a Volta ao Algarve

Richie Porte venceu a Volta ao Algarve 2012
Foi apresentada na semana passada a Volta ao Dubai, prova que terá a primeira edição em Fevereiro do próximo ano, após Volta ao Qatar e Volta a Omã, e se prevê mais uma concorrente da Volta ao Algarve. Pela redução de cinco para quatro dias este ano e pela estreia da Volta ao Dubai no próximo, as próximas duas edições serão muito importantes para o futuro da Volta ao Algarve.

A tradicional Europa

As duas primeiras grandes provas por etapas da temporada são o Paris-Nice e o Tirreno-Adriático, ainda na primeira metade de Março, e Fevereiro serve sobretudo como preparação para essas provas e para as provas World Tour que se seguem. É nesse contexto que entram a Challenge de Maiorca, Volta ao Mediterrâneo, Volta ao Algarve, Volta à Andaluzia e Volta a Murcia, tendo a Volta ao Algarve colocado-se como a melhor prova europeia de Fevereiro.

Nos últimos anos existiram na Europa outros projetos falhados, como o GP Costa Azul (2005-06) ou a Volta à Sardenha (2009-11), e houve uma prova histórica que teve o seu fim, a Volta à Comunidade Valenciana (última edição em 2008). Mesmo a Volta a Murcia está com sérios problemas financeiros e passou de cinco dias em 2010 para 2 dois em 2012 e apenas um na próxima edição.

A crise financeira do Sul da Europa e a concorrência de novos mercados têm sido os grandes problemas para estas provas. Por um lado, nos últimos anos foram reduzidos os apoios do Estado, muito importantes para a sustentabilidade destas provas; por outro, muitas das grandes figuras do ciclismo mundial têm trocado o sol europeu pelo sol do Médio Oriente (e os petrodólares que o acompanham).

É necessário estar consciente de que todas as provas precisam de chamar grandes figuras para atrair patrocinadores. Os grandes ciclistas como Contador, Wiggins, Tony Martin ou Greipel vêm ao Algarve interessados no clima, bons hóteis, boas estradas e percursos equilibrados, mas a prova só é possível com patrocinadores e estes (públicos ou privados) vêm motivados pela atenção que grandes ciclistas e grandes equipas despertam.

O Sol (e os petrodólares) do Médio Oriente

As provas europeias anteriormente referidas, organizadas por associações amadoras ou pequenas empresas, têm agora a concorrência da maior organizadora de provas de ciclismo do mundo: a ASO. A ASO tem vindo a expandir-se e, além de organizar todas as grandes provas francesas, criou a Volta ao Qatar e Volta a Omã.

Aproveitando o interesse do Qatar em promover-se internacionalmente e a sua condição económica, a ASO criou a Volta ao Qatar em 2002, prova de cinco etapas totalmente planas, com grandes retas no meio do deserto, muito vento, sem público local mas com dinheiro mais do que suficiente para chamar muitos dos melhores sprinters do mundo. Repetindo a formula, em 2010 criou a Volta ao Omã, acrescentando-lhe algumas subidas e um contra-relógio (onde nenhum ciclista pode usar bicicleta de contra-relógio porque nem todas as equipas têm capacidade financeira para fazer o seu transporte).

E se o Tour de San Luis, Tour Down Under e Volta ao Qatar não coincidem com a Volta ao Algarve, o mesmo não se pode dizer na Volta a Omã e da Volta ao Dubai que surgirá em 2014, organizada pela RCS, empresa que organiza as principais provas italianas. Os padrinhos presentes na apresentação foram Contador, Tony Martin, Nibali e Hesjedal, e com o poderio económico existente no emirado é de prever que muitas estrelas mundiais marquem presença na estreia da prova, atraídos pelos avolumados cachets. De resto, além de ser padrinho do lançamento da Volta ao Dubai, Contador já fez saber que este ano trocará o Algarve por Omã.

O que fazer por cá

Perante a nova conjetura, as provas europeias têm que se ajustar. A primeira medida passou pela redução de dias da Volta a Múrcia e agora da Volta ao Algarve e Andaluzia (que também passa de 5 para 4), algo que não foi opcional mas sim uma obrigação face à incapacidade dos municípios para manterem tantas etapas (e de pagarem o que devem de edições anteriores). Talvez com a redução de um dia, reduzindo as necessidades financeiras e ficando com menos dívidas por cobrar às autarquias, a situação financeira destas provas melhore.

Focando agora no caso da Volta ao Algarve, o contra-relógio e a chegada ao alto devem ser mantidas. Ainda que não dependa exclusivamente dos organizadores (é necessário interesse das autarquias), havendo a possibilidade, estas etapas devem ser mantidas. Retirar uma das três chegadas para sprinters tornará a prova menos atrativa para estes, mas continuará atrativa para as principais figuras: trepadores, contra-relogistas e voltistas que aqui iniciam a preparação para o Tour.

Além dos hóteis, do clima e do percurso, outro atrativo da Volta ao Algarve passa por não coincidir com a primeira grande clássica belga, o Circuito Het Nieuwsblad. Disso não se poderá gabar o Dubai, o que deverá afastar alguns ciclistas com ambições para as clássicas de pavê.

E caso a transmissão televisiva se mantenha, é de aproveitar para ir buscar patrocinadores com interesse além-fronteiras. Além de aproveitar a transmissão televisiva para promover o Algarve e Portugal no exterior, não é de ignorar a possibilidade de cativar empresas estrangeiras  como aconteceu com a Ryanair em 2012. Para estas, patrocinar a Volta ao Algarve com transmissão televisão é especialmente interessante, pois o seu mercado-alvo é muito mais extenso que o das empresas com atividade apenas em Portugal, justificando assim um maior investimento. Por outro lado, a demora de certezas quanto à transmissão televisiva não ajuda os organizadores. Ainda que a prova faça parte dos planos do Eurosport no seu calendário para 2013, os direitos de transmissão não estão assegurados (ou não estavam quando o Eurosport publicou o seu programa para 2013). Os organizadores precisam de ter certezas por parte do Estado.

A Volta ao Algarve foi a última das provas portuguesas a baixar de categoria ou reduzir dias, mas em 2013 não resistiu. Falta agora saber quais as etapas e quais as equipas presentes, e nestes casos a ausência de novidades não costuma ser sinónimo de boas notícias.

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