sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Que comecem as clássicas da Primavera!

Boonen foi o dominador da Primavera em 2012
A campanha das clássicas da Primavera de 2013 abre já no próximo sábado e durante dois meses os melhores ciclistas do mundo andarão sobretudo pela Bélgica mas também pela Holanda, França e Itália a disputar provas como a Milão-San Remo, Volta a Flandres, Paris-Roubaix ou Liège-Bastogne-Liège. Boonen, Cancellara, Gilbert e Sagan são quatro dos cabeças-de-cartaz. Quem levará a melhor?

Para muitos adeptos pela Europa fora, apenas no próximo sábado se inicia a temporada "a sério", com o Omloop Het Nieuwsblad, antigo Omloop Het Volk. Ainda que o nome assuste, é fácil de decifrar: "Omloop" significa "Circuito" em holandês e Het Volk era um jornal belga que organizava a prova, deixou de ser publicado e em 2009 passou a organização para o Het Nieuwsblad, jornal generalista flamengo de referência.

A bela cidade de Gent - capital do ciclismo flamengo - é o ponto histórico de partida e de chegada desta clássica (com excepção do período compreendido entre 1996 e 2007), num percurso que ronda os 200 km e que apresenta muitas colinas e setores de pavé. Aqui os grandes ciclistas não vêm passear mas sim para ganhar e basta ver alguns dos últimos vencedores: Gilbert em 2006 e 2008, Pozzato 2007, Hushovd 2009, Flecha 2010, Langeveld 2011 e Vanmarcke 2012.

Por ser a primeira clássica de pavé da temporada, não é fácil apontar favoritos, mas se tivesse que fazer uma pequena seleção de cinco os escolhidos seriam Lars Boom (Blanco), Thor Hushovd e Greg Van Avermaet (BMC), Juan António Flecha (Vacansoleil) e Filippo Pozzato (Lampre). Mas Jurgen Roelandts (Lotto) e Geraint Thomas (Sky) já se mostraram em muito boa forma este ano, Edvald Boasson Hagen (Sky), pela sua velocidade, também tem que ser tido em conta, tal como Niki Terpstra (Omega Pharma) pelo seu rendimento em 2012, Sep Vanmarcke (Blanco) pela vitória no ano passado e, claro Tom Boonen (Omega Pharma), que tem o Omloop como pedra no sapato, a única das grandes clássicas de pavé que nunca venceu, tendo sido segundo em 2005 e 2012.

Após o Omloop, no domingo teremos a Kuurne-Brussel-Kuurne, clássica para sprinters que, ao contrário do que o nome indica, não passa por Bruxelas. Os ciclistas sairão de Kuurne em direção à capital mas o ponto de inflexão é a cerca de 25 km de Bruxelas, voltando depois o pelotão para Kuurne, num percurso que totaliza quase 200 km com algumas colinas mas nada de especialmente duro. Mark Cavendish foi o vencedor em 2012 e será um dos favoritos para este domingo a par de André Greipel. Boasson Hagen, Tyler Farrar, Hutarovich e Arnaud Demare surgem numa segunda linha de favoritismo.

Strade Bianche 2012
No fim-de-semana seguinte o destino é Itália, onde os ciclistas correrão uma prova muito recente mas que desde a primeira edição começou a marcar uma posição no calendário internacional. Trata-se da Strade Bianche (02/03), prova criada em 2007 pela RCS Sport, a mesma organizadora do Giro d'Itália. São cerca de 190 km de percurso que incluem 57 km em estradas não asfaltadas como a da fotografia.

No Giro 2010 a RCS Sport colocou os ciclistas nesta região e em estrada semelhantes para promover a Strade Bianche, algo que não me agrada porque não acho que a geral deva ser jogada num terreno tão propício a furos. Contudo, inserido numa prova de um dia, em que só estão presentes os especialistas neste tipo de provas e os seus gregários, acho um grande espetáculo, um dia diferente de ciclismo. Até porque na Strade Bianche a participação é limitada a 17 equipas de 8 corredores, o que coloca menos gente a partilhar a estrada (136 ciclistas) e menos carros de apoio.

Para este ano a RCS Sports criou a Roma Maxima, prova que dará continuidade ao Giro del Lazio que se disputou pela última vez em 2008. A Roma Maxima terá início e final em Roma (na região de Lazio) mas sairá da capital para encontrar três montanhas superiores a 700 metros de altitude, a última delas a 40 km da meta, e apesar de não se tratar de alta montanha certamente impedirá que seja um sprinter a vencer.

E a 17 de Março, agora ao domingo, será dia do primeiro Monumento do ano, a Milano-Sanremo, a Classicissima, onde todos os sprinters sonham vencer um dia e onde muita gente ambiciona surpreender os sprinters, uma corrida fantástica e muito aberta que ronda os 300 km.

Os classicomanos rumam depois à Bélgica onde têm três provas em cinco dias: Dwars door Vlaanderen (20/03, quarta-feira), E3 Prijs Vlaanderen (22/03, sexta-feira) e Gent-Wevelgem (24/03, domingo). Aqui a planificação de cada ciclista será muito importante, pois não será possível estar na frente nas três provas.

A Dwars door Vlaanderen, que significa Através de Flandres, é a menos importante das três e a mais importante é a Gent-Wevelgem, que pertence ao Pro Tour/World Tour desde a criação deste. Já a E3 Prijs Vlaanderen (Prémio E3 Flandres) apenas chegou ao World Tour no ano passado e o seu nome vem da antiga auto-estrada E3, a principal da zona em que a prova se disputa.

A Gent-Wevelgem repetirá a formula do ano passado, com várias colinas mas sem pavé, o que fará com que alguns sprinters que suportam as colinas mas não o empedrado se centrem nesta clássica. Já os homens menos rápidos mas mais fortes no empedrado apostarão na E3 Prijs Vlaanderen, a mais dura das três e que servirá como teste para a Volta a Flandres. A Atráves de Flandres tem rampas e paralelo, mas quem quer estar a 100% na sexta-feira deixa esta corrida para ser disputada pelos gregários.

Boonen venceu a Volta a Flandres 2012 num sprint frente a Pozzato e Ballan
Uma semana separa a Gent-Wevelgem da Volta a Flandres (Ronde van Vlaanderen em holandês, Tour des Flandres em francês), o segundo monumento da temporada, a rainha das clássicas flamengas.

A prova já teve diversos pontos de partida e de chegada ao longo dos seus 100 anos e das suas 96 edições mas em 2013 repetirá o percurso da última edição, com partida em Brugges e chegada a Oudenaarde, o que motivou muitas críticas depois de 39 anos a terminar em Meerbeke. Existem agora um circuito na parte final, com três rampas por volta (duas em paralelo), cada uma delas ultrapassadas duas vezes nos últimos sessenta quilómetros. No total serão 17 rampas, quase todas elas em pavé. Tom Boonen é um dos cinco trivencedores da prova e tentará isolar-se como recordista.

Termina a Volta a Flandres e começa-se a pensar em Roubaix, mas entretanto existe a Scheldeprijs (03/04), Prémio de Escalda, assim chamada porque se realiza na região do Rio Escalda (Scheldt). De resto a prova até é um marco na temporada dos sprinters, por ser quase toda ela plana e não apresentar troços de paralelo demasiado duros.

No domingo sim, a rainha das clássicas, o Inferno do Norte, o Paris-Roubaix. A prova dispensa grandes apresentações. São 260 km, com 27 setores de paralelo totalizando 51,5 km sobre pedras. Com sol e muito pó no ar ou chuva e lama, o dia do Paris-Roubaix é um dos mais fantásticos de cada temporada. Com quatro vitórias, Boonen correrá também aqui para se tornar o recordista isolada, tentado desigualar o seu confronto com Roger De Vlaeminck. Mas Cancellara quer a sua terceira vitória e muitos sonham com o primeiro erguer de braços no Vélodrome de Roubaix, como Hushovd, Pozzato ou Flecha.

Após o paralelo, a Brabantse Pijl (Flecha de Brabante, 10/04) faz a mudança de ares de Flandres para a Valónia. Brabante é uma região que atravessa a fronteira belga, existindo o Brabante Flamengo e a Brabante Valão. E apesar da prova começar e terminar na região flamenga, uma boa parte já se disputará na Valónia. Quanto à prova em si, é marcada por um circuito final que obriga os ciclistas a ultrapassarem vinte rampas nos últimos sessenta quilómetros, quatro por volta. Para alguns, serve como preparação para o que está para vir.

Amstel Gold Race (14/04), Flèche Wallonne (17/04) e Liège-Bastogne-Liège (21/04) compõem o trio de clássicas das Ardenas, cada um com as suas características. A Amstel Gold Race é a menos dura das três. Tem cerca de 30 colinas mas menos duras do que as suas primas belgas, o que a torna a mais indicada para razoáveis escaladores como Oscar Freire, Peter Sagan ou Enrico Gasparotto, vencedor em 2012. A edição deste ano terá o final no mesmo local que os últimos Mundiais, o que dá mais espaço para recuperações após a subida do Cauberg.

A meio da semana há a Flèche Wallonne, a mais curta mas com o final mais duro, no famoso Mur de Huy, com uma inclinação média de 9,3% e máxima superior a 20%. Esta é a prova que melhor assenta a trepadores, já foi vencida por Joaquim Rodríguez e já teve no pódio Alberto Contador.
Philippe Gilbert venceu as 3 clássicas das Ardenas em 2011
Aqui em Liège

E para fechar as clássicas da Primavera, a Liège-Bastogne-Liège, o quarto monumento da temporada e a prova mais importante da semana. Apresenta menos colinas do que a AGR, mas apresenta subidas mais longas, a mais extensa delas com 4,4 km. No total são 11 colinas e a inclinação média de cada uma delas anda entre os 5% e os 12%. É a mais dura das clássicas das Ardenas.

Pelo meio destas grandes clássicas há ainda algumas provas de um dia na Bélgica de menor dimensão como são os casos do Le Samyn (27/02), prova de homenagem ao ex-vencedor de etapa no Tour José Samyn, o GP Pino Cerami (04/03), prova de homenagem ao antigo vencedor do Paris-Roubaix Giuseppe "Pino" Cerami, a Nokere Koerse (13/03) e a mais recente Handzame Classic (15/03), criada apenas em 2011. Todas estas são consideradas semi-clássicas.

E há ainda duas provas belgas por etapas que servem como preparação para clássicas: os 3 Dias do Flandres Ocidental (1 a 3 de Março) e os 3 Dias de De Panne (26 a 28 de Março). Nesta provas, sobretudo em De Panne, costumam participar ciclistas que precisam de dias de competição antes da Volta a Flandres e de Roubaix. Para que ninguém estranhe se os ver por aí, os nomes das duas provas em holandês são: Driedaagse van West-Vlaanderen e Driedaagse De Panne. Driedaagse significa três dias.


4 comentários:

  1. Boa noite... desde já parabéns, pelo artigo!
    Para mim, esta é uma das melhores alturas da época, porque (não sei se será impressão minha) as equipas parecem estar mais desorganizadas, e vê-se mesmo que quem tem pernas, vai longe, vou deixar aqui as minhas apostas para as provas (que conheço melhor):
    Milano-Sanremo: Matthew Goss
    Volta a Flandres: Cancellara
    Paris-Roubaix: Boonen
    Amstel Gold Race: Gilbert
    Flèche Wallonne: Andy Shleck
    Liège-Bastogne-Liège: Purito Rodriguez


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  2. Bom Artigo! O Ballan vai falhar as clássicas este ano não é? Ele perdeu o Baço numa queda que teve num treino em Dezembro
    Progonosticos
    Cancelara limpa Milão San Remo , Flandres e Roubaix enquanto que nas Ardenas o Gilbert "só" a Liege Bastonge

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  3. Obrigado pelos comentários!

    Anónimo, é verdade, infelizmente o Ballan vai falhar as clássicas por esse motivo.

    Cumprimentos!

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  4. Artigo brilhante rui, os meus parabéns...

    pena que a neve fez uma vitima já na prova programada para hoje!

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