quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Volta ao Algarve: notas soltas

Seja o primeiro a comentar
Arrancou hoje a Volta ao Algarve, com quase 200 km entre Faro e Albufeira, que terminaram com a vitória do alemão Paul Martens (Blanco) e com Tiago Machado em segundo. Estranho o Tiago ser segundo num final ao sprint? Esta é uma crónica express, um conjunto de notas soltas e esclarecimentos sobre a Volta ao Algarve e esta etapa em particular.


O Algarve é plano?

Um erro muito comum é pensar-se que o Algarve é plano. Se é verdade que o litoral algarvio não tem grande relevo, o mesmo não se pode dizer do interior. Apesar dos perfis oficiais deste ano darem a ideia de que as etapas são planas quase na sua totalidade, eu que já andei por todas estas estradas em que andaram hoje os ciclistas posso garantir que não são. E os ciclistas também o sabem, porque os percursos pouco se alteram de ano para ano (o que é compreensível pela reduzida dimensão do Algarve).

Não é que existam grandes montanhas, mas pelo constante sobe e desce e pelas curvas, que não são perigosas mas obrigam os ciclistas a estarem concentrados durante todo o percurso, acho perfeitamente aceitável a média ligeiramente inferior a 39 km/h. Seria baixa para a Volta ao Qatar, onde os únicos altos são as bossas dos camelos, mas está em linha do que se tem registado na Volta a Omã, ainda para mais sendo uma etapa de quase 200 km.


A chegada de hoje era para sprinters?

A chegada de hoje não era igual à dos últimos três anos, onde por três vezes os melhores sprinters em prova foram surpreendidos (Benoit Vaugrenard 2010, Gilbert 2011 e Gianni Meersman 2012), mas era igualmente propícia a surpresas. Hoje os últimos 1,2 quilómetros eram iguais mas a entrada em Albufeira era outra, menos acidentada. Em vez de duas colinas na parte final da etapa, havia apenas uma, de 450m a terminar a 800m da meta, depois uma pequena fase plana e a horrível descida final.

A estrada é larga e a subida não é suficientemente dura para eliminar os sprinters, mas é o suficiente para motivar alguns ataques (como Contador em 2011 ou Rui Costa no ano passado) e para desorganizar os comboios dos velocistas. O terreno que há depois não é suficiente para que se voltem a organizar e a chegada acaba por ser muito confusa. Por um lado pode dizer-se que sim, era uma chegada para sprinters, mas por outro também se pode dizer que não era uma chegada para um sprint organizado.

E quando digo que a descida para a meta é horrível, não é por ser perigosa mas sim porque não faz sentido algum uma etapa acabar a descer e numa curva (ainda que aberta). Nem os ciclistas gostam nem gostam os adeptos porque não conseguem ver nada. Contudo, também convém deixar claro que a chegada só é onde é por imposição dos autarcas, que querem a meta em frente ao edifício Câmara Municipal. Poderiam coloca-la na zona da Marina, onde estava em 2004, e se calhar tinha um pouco menos de público (e continuaria a ser muito) mas Albufeira ficaria muito melhor retratada nas fotografias e na TV.

Quem é Paul Martens e a Blanco?

Numa das rotundas que anteriormente era contornada pela esquerda para se seguir em frente (e por isso muito simples), hoje os ciclistas tinham que contornar pela direita para virar à esquerda, ou seja, contornar três quartos da rotunda. Não seria difícil, pois a rotunda estava a 1,2 km do fim, mas tudo se tornou mais difícil pela falta de vedação. Alguns ciclistas acharam assim que podiam cortar logo à esquerda e daí veio o caos. A avenida de Albufeira está dividida por um separador e alguns corredores ficaram no lado errado (regressando apenas na rotunda seguinte).

Confusão gerada, ataque de Tiago Machado e vitória para Paul Martens, que ultrapassou o português nos últimos metros. Paul Martes não é uma das principais figuras desta Volta ao Algarve mas é um ciclista bastante interessante, um homem talhado para as clássicas das Ardenas que em 2011 fez 10º-10º-13º na Amstel Gold Race, Fleche Wallone e Liège-Bastonge-Liège e no ano passado venceu uma etapa na Volta a Burgos à frente de Daniel Moreno. O alemão de 29 anos está na oitava temporada como profissional e sempre em equipas alemães holandesas: primeiro na Skil-Shimano, depois na Rabobank e agora na Blanco, que é a sucessora da Rabobank depois do banco ter retirado o nome da equipa (mas mantém o patrocínio até que encontrem outro).

Os angolanos

A seleção angolana mostrou não ter qualidade sequer para pertencer a este pelotão, com quatro desistências logo nos primeiros quilómetros. Eu gosto que haja interação desportiva entre Portugal e os países lusófonos, mas não numa prova com um nível tão alto, estando eles num nível tão inferior.

Como disse na última crónica, até compreendia que esta seleção viesse ao Algarve para angariar patrocinadores angolanos, mas a prova já começou e o site oficial ainda não tem todos os patrocinadores lá apresentados, o que é inqualificável. O máximo que consegui ver quanto a patrocinadores angolanos foi o nome "Angoreal" numa bandeira, ao fundo numa foto do vencedor.



A etapa de amanhã

A etapa de amanhã sim é totalmente indicada para um final ao sprint. Tem alguma montanha a meio, passando mesmo no ponto mais alto do Algarve, a Fóia, mas os últimos 80 quilómetros são acessíveis e a parte final é muito rápida, com os últimos 4 km iguais aos do ano passado, onde Boasson Hagen se impôs.

*****
Durante a etapa de hoje fui utilizando o Twitter para manter atualizados todos os interessados e amanhã voltarei a tenta-lo no mesmo formato: em português para todos vocês e em inglês (no meu limitado inglês) para os estrangeiros que querem acompanhar a prova. O Twitter do Carro Vassoura é www.twitter.com/carrovassoura e relembro que, mesmo quem não estiver registado, pode entrar e acompanhar.

Share