Ciolek bate Sagan e Cancellara em Sanremo |
Depois de neve, chuva e muito frio, Gerald Ciolek (MTN-Qhubeka) foi o melhor num apertadíssimo sprint a seis, com o super favorito Peter Sagan (Cannondale) a ser segundo e o grande adversário Fabian Cancellara (Radioshack) a ser terceiro classificado e pela terceira ocasião consecutiva a terminar no pódio.
298 km de corrida mais 7,5 entre a partida simbólica e a partida real fazem da Milano-Sanremo a prova mais longa do calendário internacional, dando-lhe um caráter épico. Peter Sagan partia como o super favorito, depois de ser quarto na edição do ano passado e recentemente se exibir em grande forma no Tirreno-Adriático. Até porque seria muito difícil deixa-lo para trás nas subidas para Cipressa e para o Poggio di Sanremo, era o homem a bater. Por outro lado, Fabian Cancellara (vencedor em 2008, 2º em 2011 e 2012), o campeão mundial Philippe Gilbert e o vencedor do T-A Vicenzo Nibali eram as principais ameaças para atacar nas referidas colinas e Matthew Goss (vencedor em 2011) perspetivava-se como a maior ameaça a Sagan em caso de sprint compacto (como aconteceu em 2009 e 2010). Mas quase nada nesta Milano-Sanremo foi como devia ser, a começar pelo dia da prova.
Tradicionalmente disputada ao sábado, este ano os organizadores transferiram a corrida para domingo e com isso colocaram-na debaixo de neve. A mudança de data da MSR e Il Lombardia (tradicionalmente também ao domingo) foi decidida ainda no final de 2012 e era impossível prever as condições meteorológicas, mas não deixa de ser curioso pensar que ontem as condições meteorológicas estavam aceitáveis para a realização da corrida e hoje obrigaram a grandes alterações.
Os ciclistas saíram de Milão debaixo de chuva e com neve a cair no Passo Turchino, ao km 140, onde estava colocada a primeira de quatro subidas. Maxim Belkov (Katusha), Lars Bak (Lotto), Filippo Fortin (Bardini), Diego Rosa (Androni), Matteo Montaguti (Ag2r) e Pablo Lastras (Movistar) constituíram a fuga do dia e estavam ao km 45 com 11 minutos de vantagem quando os organizadores decidiram neutralizar parte da corrida.
É frequente que os percursos sejam modificados devido à neve e este ano temos tido um Inverno particularmente dramático nesse sentido, com várias provas a serem canceladas. No caso da Milano-Sanremo, alterar o percurso para evitar as estradas geladas iria aumentar significativamente a quilometragem já muito extensa e estava por isso fora de questão. A decisão tomada foi que ao km 117 os ciclistas entrariam nos autocarros e a corrida retomaria ao km 166, com as diferenças de tempo entre pelotão e fugitivos que se registassem no momento da neutralização. A subida a Le Manie (4,7 km a 6,7%) também não seria feita para evitar a neve e a MSR perdia assim três das suas maiores dificuldades: Passo Turchino, Le Manie e mais de 50 km de prova, passando para uma quilometragem dentro do que é habitual para as clássicas.
Situação invulgar, criticada por alguns jornalistas e bloggers (uma nota também para eles/nós) mas que não recrimino. É melhor para todos ter uma Milano-Sanremo descaraterizada do que não a ter, até porque Passo Turchino e Le Manie são subidas apenas para fazeres desgaste e as principais movimentações costumam acontecer já na última trintena de quilómetros, nas subidas (e descidas) para Cipressa e Poggio.
A estrada foi retomada a 125 km da meta, com os seis fugitivos com 7:10 de vantagem e sendo agora uma corrida mais fácil para sprinters como Mark Cavendish ou Andre Greipel. Nem todos voltaram para a estrada, como foram os casos de Tom Boonen e Andrey Amador (tinha caído na parte inicial), que ficaram logo no autocarro. Durante os quilómetros que se seguiram foi aumentado o número de desistências: Goss, Lars-Petter Nordhaug, Slagter, Paul Martens, Terpstra, Kwiatkowski, Vicenzo Nibali e muitos mais abandonaram pelas condições climatéricas, para evitar problemas de saúde ou simplesmente por não conseguirem aquecer o corpo.
O pelotão aproximava-se e controlava tranquilamente a fuga. A 40 quilómetros da chegada, quando começaram as escaramuças na frente, o pelotão estava a dois minutos, então comandado pela Sky. Jurgen Roelandts (Lotto), Thomas Lofkvist (IAM Cycling), Sylvain Chavanel (Omega Pharma-Quick Step), Damiano Caruso (Cannondale) e Maxime Bouet (Ag2r) protagonizaram a primeira movimentação mais perigosa, ainda antes da penúltima dificuldade. Entre a Cipressa e o Poggio foram Chavanel, Ian Stannard (Sky) e Eduard Vorganov (Katusha), com muitas mais movimentações a sucederem-se e a iniciar-se o embate Sagan vs Cancellara.
Cansado que se aproveitem do seu trabalho, durante a semana Cancellara criticou a postura de Simon Gerrans no ano passado mas também de Peter Sagan em várias corridas, acusando o eslovaco de apenas ir na roda (o que, salvo raras exceções, é verdade). Cancellara disse que nesta MSR não trabalharia se Sagan fosse na sua roda e foi isso que fez, desestabilizando o jovem Canibal.
Um ataque de Luca Paolini (Katusha) já nos dez quilómetros finais, a subir para o Poggio di Sanremo, terminaria com um sexteto na dianteira: Chavanel, Stannard o próprio Paolini, Fabian Cancellara (Radioshack), Peter Sagan (Cannondale) e Gerald Ciolek (MTN-Qhubeka).
Sagan e Ciolek eram os mais velozes entre os seis e por isso os principais favoritos, bastando-lhes ir na roda. Cancellara cumpria o prometido e não colaborava. Sabia que havia gente mais interessado do que ele naquela situação (Sagan e Ciolek) e por isso poupou-se para os últimos mil metros. Mais importante ainda, enviava uma mensagem para os seus rivais de Flandres e Roubaix: não pensem que os vai levar na roda novamente, como aconteceu em 2011.
Peter Sagan não sabia o que fazer e atacou, com rápida resposta do Spartacus e todos os outros na roda. Na reta da meta, Chavanel tentou sair de trás, mas Sagan apercebeu-se do movimento do francês e lançou o seu sprint, com Chavanel na sua roda e Ciolek a saltar para o seu lado num intenso mano-a-mano que terminou com a vitória do alemão, Sagan segundo e Cancellara terceiro, todos eles separados por reduzidíssimas margens.
Pódio final: Peter Sagan (2º), Gerald Ciolek (1º) e Fabian Cancellara (3º) |
Gerald Ciolek tem apenas 26 anos mas já está na nona temporada como profissional. Estreou-se em 2005 aos 18 anos, na Continental alemã Akud, pela qual se sagrou campeão nacional à frente de Robert Forster e Erik Zabel. Em 2006 (pela Wiesenhof) venceu uma etapa da Volta à Alemanha (Pro Tour) e foi campeão mundial sub-23, o que lhe valeu a passagem para a T-Mobile, no ano seguinte Columbia. Foram 11 vitórias em duas épocas e tinha apenas 22 anos, mas perdeu importância dentro da equipa porque o patrocinador deixou de ser alemão e Cavendish começava a evidenciar-se naquele último ano, com dois triunfos no Giro e quatro no Tour.
Em 2009 iniciou a sua aventura na Milram, onde passaria mais duas épocas. Esteve muitas vezes nos primeiros lugares mas o que se quer de um sprinter são vitórias e ele apenas conseguiu duas. A Milram terminou e o novo destino foi a Omega Pharma-Quick Step, onde apenas conseguiria um triunfo, em Tavira, na Volta ao Algarve do ano passado. Vice-campeão nacional, 2º na Vattenfall Cyclassics, numa etapa do Tour Down Under e noutra do Critérium du Dauphiné, faltou-lhe uma ponta de sorte. A MTN-Qhubeka, ambicioso projeto sul-africano, foi a escolhida para relançar a carreira (até porque as ofertas não deviam ser muitas).
Depois de uma vitória nos 3 Dias de Flandres-Ocidental e de estar em destaque no Tirreno-Adriático (3º e 4º nas duas etapas com final ao sprint), Gerald Ciolek conseguiu hoje a maior vitória da sua carreira, 12 anos depois da última de um compatriota seu em Sanremo, Erik Zabel. É uma vitória muito importante para o germânico relançar a sua carreira e para o projeto da MTN, que ambiciona ser a primeira equipa africana a disputar o Tour, já dentro de dois ou três anos.
Peter Sagan, que tem como objetivo para 2013 vencer um monumento, foi segundo e Cancellara foi terceiro, mais uma vez no pódio da La Classicissima (1º em 2008, 2º em 2011 e 2012, 3º hoje).
Taylor Phinney, que protagonizou uma grande história no Tirreno-Adriático, ainda alcançou a traseira do primeiro grupo na reta da meta e o grupo perseguidor chegou a 14s, com Kristoff a bater Cavendish na luta pelo oitavo posto. Classificação completa aqui.
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Na Clássica Fátima-Aveiro, vitória do norte-americano Ken Hanson, da Optum, que já aqui tinha sido apontado como um homem periogoso para os sprints na Volta ao Alentejo. Um grupo muito numeroso ultrapassou as duas contagens de montanha da jornada e mais de trinta ciclistas entraram agrupados na parte final da corrida, com Ken Hanson a ser o mais forte, Daniel Mestre (Carmim-Prio) segundo e o belga bielorrusso Nikita Zharoven (Zappi) terceiro.
A classificação coletiva foi para a OFM-Quinta da Lixa, que venceu também as metas volantes com Eduard Prades e a montanha com Mário Costa.
Não há muito mais a dizer sobre a prova porque a informação ainda é escassa, mas a classificação completa está aqui e amanhã haverá Revista da Semana, onde espero já ter mais para dizer sobre esta primeira Clássica Fátima-Aveiro, falar também da Volta ao Alentejo que quarta-feira se inicia e da Volta à Catalunha que vai amanhã para a estrada.
Rui permita-me só corrigir uma informação...o ciclista Nikita Zharoven da Zappi é de nacionalidade bielorussa, aliás foi por esse País que ele correu o ano passado os campeonatos do mundo em sub 23.
ResponderEliminarCumprimentos
Obrigado pelo comentário.
ResponderEliminarEntão é erro da classificação, onde está BEL. Deveria estar BLR.
Cumprimentos