quinta-feira, 16 de maio de 2013

E agora, Sir Bradley Wiggins?

Em termos competitivos o Giro terminou hoje para Bradley Wiggins. As escassas hipóteses de vitória foram reduzidas a nada e o pódio ficou uma miragem. O melhor homem da Sky é Rigoberto Urán, a 2'04'' de Nibali e com 1'36'' perdidos à espera do seu chefe-de-fila agora destituído. Wiggins e o diretor geral da Sky David Brailsford têm agora que refletir sobre o que farão neste Giro e também no próximo Tour.

Bradley Wiggins era um dos grandes favorito à partida para esta Volta a Itália, para a maioria até o principal, não pelo que fez nos últimos meses mas pelo que tinha feito na última temporada. Mais do que vencer o Tour, Wiggins acumulou Paris-Nice, Volta à Romandia, Critérium du Dauphiné, Volta a França e o título olímpico de contrarrelógio. Das seis provas por etapas em que participou, foi 3º na Volta ao Algarve, desistiu num dia de gelo da Volta à Catalunha e venceu categoricamente as quatro já citadas.


A questão nunca ficará totalmente esclarecida. Uma queda antes do contrarrelógio, uma infeção pulmonar e uma constipação comunicadas ontem podem explicar parte do mau rendimento de Wiggins neste Giro. Ainda assim, mesmo antes da queda o britânico nunca pareceu na sua melhor forma. Este Wiggins que perdeu segundos logo na primeira chegada de média dificuldade nada tem a ver com o que no ano passado se defendeu muito bem nas chegadas em colina do Tour. Mesmo no Tour 2011 (que viria a abandonar com uma fratura de clavícula), Wiggins defendeu-se muito melhor nas chegadas em colina da primeira semana do que neste Giro. Por isso parece-me que a preparação não correu realmente como pretendido.

Também foi aqui escrito no sábado, depois do contrarrelógio: Sacrifica-los (Urán e Henao) ontem (quando Wiggins caiu) pelo líder não me pareceu uma má opção do diretor da Sky, mas ultrapassado o crono e estando tão bem posicionados são dois homens para atacar a prova.

É fácil dizer agora que os colombianos não deveriam ter esperado ou, pelo menos um deles, deveria ter continuado no pelotão. Fazer prognósticos no final é sempre mais fácil, mas mantenho a opinião de que a opção tática da Sky foi a melhor. A decisão teve que ser tomada na hora e com os dados que havia à disposição. Não era de supor que Wiggins adotasse uma postura tão medrosa nas curvas do contrarrelógio. Não se pode censurar um ciclista por, depois de uma queda na véspera (e de ter fraturado uma clavícula há dois anos), estar com receio das curvas e das descidas, mas também não era o cenário mais provável. E se não fosse esse medo todo, se Wiggins estivesse ao seu nível (ao nível com que foi o melhor contrarrelogista de 2012), teria ganho muito tempo à concorrência no sábado passado e especialmente aos seus colegas. Agora é fácil dizer que Rigoberto Urán deveria ter permanecido com os favoritos. É fácil alterar o discurso depois se ver o desenrolar da história para parecer mais inteligente (ou bruxo), mas foi assim que o diretor desportivo da Sky pensou nos instantes que se seguiram à queda. Não o critiquei na altura e não o vou criticar agora.

Até aqui Vincenzo Nibali tem sido o mais forte mas a diferença para Cadel Evans (na classificação e na primeira chegada ao alto) é mínima. Urán está um degrau abaixo enquanto Michele Scarponi e Robert Gesink, apesar de estarem colados ao colombiano na classificação, estiveram pior na terça-feira (primeira etapa de alta montanha).

A Sky vai apostar agora em Rigoberto Urán e este só tem uma forma de dar a volta ao texto: atacando na montanha. São 2'04'', 124 segundos para recuperar nas linhas de meta mas também em bonificações. Contra si, o facto de Nibali ter poucos adversários diretos com quem se preocupar até final.



E o que fará Wiggins agora? Continua para ajudar Urán ou abandona para se preparar para o Tour?

Na Vuelta de 2011, depois de quebrar no Angliru, Wiggins aceitou trabalhar para Froome nos últimos dias, mas entretanto venceu um Tour. Veremos um vencedor do Tour (em título) a sacrificar-se pela equipa? Tenho as minhas dúvidas.

Cataldo, mesmo estando com problemas de saúde, decidiu permanecer em prova para tentar ajudar Wiggins. Urán, depois da vitória na terça-feira, jurou fidelidade ao seu líder. "Eu e o Sérgio (Henao) somos diferentes de Froome. Nós trabalhamos sempre para a equipa e nunca tivemos problemas com a equipa" disse aos jornalistas, até porque o seu ataque, mais do que a vitória, procurava desgastar a Astana e deixar o camisola rosa desamparado. A equipa que está no Giro merece que Wiggo continue em prova, mas este poderá usar os seus recentes problemas de saúde como motivo para abandonar a prova.

Dirão alguns que é treta e que Wiggins, depois de se atrasar na geral, encenou para não parecer derrotado aqui e poder virar-se para o Tour. Mas não é assim tão estranho que esteja doente. As condições meteorológicas têm sido adversas e por problemas do género já abandonaram nos últimos dias Fabio Taborre, John Degenkolb e Dalivier Ospina, entre outros que vão permanecendo em prova apesar das queixas, como é o caso de Wiggins.

Para a Volta a França, a Sky tem Chris Froome, o melhor trepador da temporada até ao momento. A menos que se torne mesmo insuportável, Wiggins deve continuar em prova para apoiar Urán.

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Sobre as etapas do próximo fim de semana, falarei amanhã, mas desde já deixo duas notas sobra a prestação do Tiago Machado esta semana:

- O Tiago esteve bem ao entrar na fuga na terça-feira. É nestas etapas mais montanhosas que tem que tentar escapar. Infelizmente a fuga não teve sucesso. Em primeiro lugar, porque a Sky acelerou no pelotão desde muito cedo; em segundo, porque a maioria dos fugitivos eram roladores e sprinters incapazes de fazerem frente ao pelotão na montanha. No entanto, isso não é culpa do Tiago. Ninguém pode escolher os colegas de fuga.

- A partir do momento em que um ciclista não tem nada a defender na geral (nem na classificação coletiva), não vale a pena criticar todos os dias em que perca tempo, como foi o caso hoje. O Tiago não tinha que defender o 30º lugar que ocupava na geral à partida para esta etapa nem tem que se focar num hipotético 25º lugar. Essas classificações são irrelevantes. O que tem que fazer agora é procurar uma vitória de etapa, ainda que seja difícil. Se não era hoje que ia vencer (chegada para sprinters) não tinha obrigação de chegar no primeiro grupo.



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Última crónica minha no espaço Décima Quarta Curva pode ser lida aqui. Desta vez o tema não é o Giro mas sim o ciclismo português.

1 comentário:

  1. O wiggins, só mesmo se a doença não o deixar é que deve abandonar o Giro, esta é a minha opinião, assim como os outros o ajudaram,ele agora deve ajudar os outros também.

    Grande análise! Parabéns!

    Cumps

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