Giovanni Visconti deu à Movistar a segunda vitória neste Giro, mas o homem em evidência é Vincenzo Nibali, que aumentou a sua vantagem para a concorrência neste fim de semana de neve no Giro d'Itália.
Em outubro, quando foi apresentado o percurso deste Giro d'Itália, um controverso (mas de muita qualidade) blogger espanhol escreveu: "este Giro é tão de Wiggins que provavelmente o Galibier nem se poderá subir porque logicamente estará cheio de neve e impraticável como em todos os meses de maio desde que criaram o Mundo". O Sérgio do Ciclismo2005 estava certo. Não quanto ao Wiggins, mas na parte respeitante ao Galibier.
Não é possível fazer previsões exatas da meteorologia quando se começa a traçar o percurso de uma prova, com um ano de antecedência ou até mais. Mas a organização do Giro sabia que era um risco fazer estas etapas, porque a probabilidade de nevar no Galibier em maio é muito maior do que em julho, quando lá passa o Tour. Era um risco que os organizadores do Giro aceitaram correr.
Durante toda a semana se falou nas previsões de mau tempo e risco de avalanche especialmente para a etapa de hoje mas também para a de ontem, mas apenas uma hora antes da partida da tirada de sábado a organização anunciou a mudança de percurso, retirando a ascensão a Sestriere. O forte nevoeiro que tornava a descida impossível foi o motivo desta alteração, mas o nevoeiro estava em toda a região e não foi possível fazer o direto televisivo. Para fazer um direto de ciclismo é necessário colocar no ar um avião que recebe o sinal das câmaras das motas e o transmite para os estúdios, onde as imagens são selecionadas para depois chegarem a todo o mundo. Sem esse avião no ar, apenas foi possível ter as imagens das câmaras fixas, os últimos 400 metros de prova.
Sonny Colbrelli, Luca Paolini, Daniele Pietropolli e Matteo Trentin marcaram a fuga do dia e chegaram a ter dez minutos de vantagem para o pelotão e quatro no início da subida final (8 km). Aí ainda se acreditava que a vitória poderia ir para um dos fugitivos, mas nenhum deles se conseguiu defender nas duras rampas finais. Vincenzo Nibali lançou o ataque decisivo, apenas com Mauro Santambrogio e Carlos Betancur a conseguirem responder e a anularem a fuga ainda antes do últimos quilómetros. Apesar disso, a dupla maravilha Eurosport, que deveria estar informada sobre a prova através da internet, ficou muito surpreendida quando percebeu que o Colbrelli e Paolini que vinham na frente a 400m do final afinal eram Nibali e Santambrogio. O camisola rosa ofereceu a etapa ao seu compatriota, que assim ficou a apenas um segundo do pódio, com Cadel Evans a ceder 33 segundos acrescidos de bonificações.
Santambrogio venceu a 14ª etapa, em Bardonecchia |
Depois de muitas incertezas sobre a etapa de hoje, existindo mesmo o risco de ser cancelada, ao final da tarde (que em Itália já era hora de jantar) a organização anunciou que manteria todo o percurso, com exceção dos últimos 4,2 quilómetros. Ficava assim com 145 quilómetros de extensão, com subida ao Mont Cenis (1ª categoria), ao Col du Télégraphe (2ª categoria) e a Les Granges du Galibier (1ª categoria), onde existe um monumento a Marco Pantani. De realçar que esta não era a subida na qual Andy Schleck venceu na Volta a França 2011. No Tour de 2011 a subida ao Galibier foi feita pelo Sul, enquanto hoje foi feita pelo lado Norte e nem chegaram ao cume.
Cansados do mau tempo e de todas as incertezas a que têm sido sujeitos, os ciclistas decidiram fazer gazeta. Se o leitor gosta de andar de bicicleta e esta manhã saiu para o seu passeio dominical, saiba que fez como os ciclistas do Giro. Encararam a subida ao Mont Cenis em ritmo de passeio para que ninguém ficasse para trás e se reduzisse assim o risco de eliminações por fora de controlo. Apenas na parte final da montanha se deram os primeiros ataques com o propósito dessa classificação e formou-se a fuga do dia com Peter Weening, Robinson Chalapud, Giovanni Visconti, Matteo Rabottini, Miguel Ángel Rubiano, Francesco Bongiorno e o camisola azul Stefano Pirazzi.
Os fugitivos tinham uma vantagem muito confortável a 45 quilómetros da meta, mas a Lotto colocou tudo em aberto ao iniciar uma dura perseguição nos quilómetros que antecediam a subida ao Col du Télégraphe, preparando um ataque de Francis De Greef. O que se formou aí foi um grupo interessante com Robert Gesink, Sergio Henao e Robert Kiserlovski, entre outros. Apenas o holandês puxava e a iniciativa acabou por dar em nada.
O tricampeão italiano Giovanni Visconti (2007, 10, 11) atacou na cabeça de corrida a cerca de 20 quilómetros da meta e os restantes fugitivos entraram em quebra, enquanto lá atrás a Astana controlava. O ritmo não era muito alto mas quase ninguém estava disposto a atacar. Atacar para quê? Nibali está um degrau acima de todos e Uran e Santambrogio estavam separados por um segundo na luta pelo pódio e atacar de longe não era necessário. Os animadores foram o já habitual Carlos Betancur e o líder da juventude Rafal Majka, uma das maiores surpresas da prova. Apesar de ter dado boas indicações em algumas etapas da última Vuelta, era pouco espetável que terminasse a segunda etapa do Giro em 8º.
Visconti aguentou-se até ao final e venceu com 42 segundos sobre Carlos Betancur e o duo de polacos Przemyslaw Niemiec e Rafal Majka. Betancur, que ontem foi terceiro, conseguiu hoje o terceiro segundo lugar neste Giro e chegou à camisola branca. A 54 segundos chegaram os cinco primeiros da geral: Nibali, Evans, Uran, Santambrogio e Scarponi, que assim mantêm os seus lugares.
Vincenzo Nibali perfila-se como vencedor deste Giro. Não apenas pela vantagem que tem (1'26'' para Evans) mas sobretudo pela forma a que se tem exibido. Se temíamos um Giro monótono e dominado por Wiggins, estamos a ter um Giro dominado por Nibali e também de certa forma monótono, porque desde a oitava etapa que está na liderança.
Santambrogio a um segundo de Uran lutam pelo terceiro lugar. Uran não se preparou para estar aqui no topo da sua forma. Pretendia sim estar num estado de forma suficiente para ajudar Wiggins mas guardando energias para o que falta da temporada, sobretudo a Vuelta. Por outro lado, Santambrogio já esteve na melhor forma da sua carreira no Tirreno-Adriático, no Giro del Trentino e está agora na Volta a Itália. É um ex-gregário talhado para finais em colina que agora está um trepador de alta montanha.
Niemiec é outra uma das grandes surpresas. Desde que chegou à Lampre tem tido bons resultados, foi 15º na Vuelta do ano passado mas este 6º lugar é uma surpresa. Betancur lidera a juventude por cinco segundo e tanto ele como Majka estão no top-10 e por lá devem continuar até final. Da minha parte, torço pelo colombiano, que tem sido um dos ciclistas mais combativos da prova, daqueles que dão vida até às etapas mais chatas. A luta pelo top-10 ainda tem vários lugares em aberto e vários candidatos.
Vicenzo Nibali tem dominado o Giro |
Top-20 no segundo dia de descanso:
1 Vincenzo Nibali2 Cadel Evans +1:26
3 Rigoberto Uran +2:46
4 Mauro Santambrogio +2:47
5 Michele Scarponi +3:53
6 Przemyslaw Niemiec +4:35
7 Carlos Betancur +5:15
8 Rafal Majka +5:20
9 Domenico Pozzovivo +5:57
10 Beñat Intxausti +6:21
11 Robert Kiserlovski +6:42
12 Yury Trofimov +7:25
13 Robert Gesink +7:38
14 Tanel Kangert +8:09
15 Franco Pellizotti +8:15
16 Sergio Henao +8:16
17 Samuel Sánchez +8:36
18 Damiano Caruso +9:57
19 Wilco Kelderman +13:29
20 Danilo Di Luca +14:44
...
32 Tiago Machado +37:00'
63 Bruno Pires +1:30:30
71 Nelson Oliveira +1:39:47
138 Ricardo Mestre +2:41:20
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Sérgio Paulinho esteve muito bem na Volta à Noruega ao ser 2º e André Cardoso foi sexto. José Gonçalves venceu a classificação da montanha no Paris-Arras. Em Portugal, Gustavo César Veloso (OFM-Quinta da Lixa) venceu ontem o 1º Troféu Cidade de Amarante. E hoje Alejandro Marque (OFM-Quinta da Lixa) venceu o 2º Troféu Cidade de Amarante. São temas para amanhã na Revista da Semana.
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