sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Assumam-se!

Em 2007, quando recebi a notícia do despedimento do Sérgio Ribeiro do Benfica, senti-me triste e desiludido, antevendo desde logo o motivo que seria confirmado algum tempo depois, um controlo positivo por EPO. Hoje sinto-me triste mas não desiludido, ainda que compreenda a desilusão da maioria dos adeptos.

Em 2007 o Sérgio optou por aceitar a omertà, a lei do silêncio, criada pela máfia italiana e fortemente implementada no ciclismo. Quem apita no controlo e fala demais é imediatamente afastado do pelotão porque ninguém quer um bufo por perto. Se pretendes regressar, assumes a total responsabilidade, dizes que foi um ato isolado, não incomodas ninguém, esperas a suspensão terminar e então regressas. O Sérgio queria voltar e seguiu esse caminho. Tentando dar o meu contributo, porque tínhamos uma relação próxima, em 2008 convidei-o a comentar a Volta a Portugal para o Ciclismo Digital, para que fosse lembrado pelos adeptos antes de regressar em 2009. Voltou na Barbot, na estrutura onde tinha corrido antes do Benfica e onde correu até ser convidado a sair no final de 2012.

Desta vez não é um positivo. O passaporte biológico já aqui foi explicado na semana passada. Serve para, através da análise de várias amostras recolhidas ao longo do tempo, detetar alterações suspeitas que poderão ser justificadas por substâncias ou métodos proibidos que não são detetados.

Não existindo um controlo positivo, rapidamente há quem diga que é tudo uma cabala para afastar o ciclista da Volta, como tantas vezes foi dito no caso do Póvoa Cycling Club. Quando estas situações acontecem no estrangeiro, o adepto (generalizando) aponta o dedo ao ciclista, que é um mentiroso!, que é uma fraude! Quando acontecem cá dentro, com as nossas equipas e os nossos ciclistas, que estamos habituados a ver na Volta a Portugal e com os quais vibramos mais de perto, é mais fácil apontar o dedo "ao sistema", como diria o Dias da Cunha. É o controlo que é mal feito, é uma perseguição da ADoP ao ciclista/equipa e é a Federação que não o quer na Volta.

A generalidade dos adeptos é apanhada de surpresa, sem reação. No pelotão ninguém está surpreso. A situação já se vinha a arrastar há algum tempo (demasiado) e os ciclistas sabiam. A grande dúvida era quanto ao timing da decisão final. De recurso em recurso, temia-se que a decisão final apenas fosse tomada após a Volta, o que seria um grande embaraço, pois Sérgio Ribeiro era candidato a vencer etapas e a classificação por pontos.

Apesar da lei do silêncio e de serem raras as acusações públicas de ciclistas sobre colegas de profissão, são eles os primeiros a desconfiar uns dos outros. Afinal de contas, como pode ser normal alguém regressar de suspensão tão ou mais forte do que antes?

As questões são muitas e culpados não há. Da atual equipa dizem que o caso é de 2011 e nada sabiam, da Efapel (equipa de 2011) dizem que a culpa é do ciclista e o ciclista diz que não se dopou. Costuma dizer-se que a culpa é do mordomo e, não existindo mordomos no ciclismo, não há culpados.

Em julho tinha sido suspenso António Amorim. O Amorim foi suspenso por irregularidades no passaporte biológico registadas entre 2010 e 2012, quando representava a Efapel-Glassdrive, mas os responsáveis da equipa optaram por nada dizer. Agora é suspenso o Sérgio Ribeiro também ele por irregularidades no passaporte biológico e vem o Carlos Pereira dizer que a responsabilidade é apenas do ciclista, lavando daí as suas mãos.

Agora se percebe porque o Sérgio Ribeiro não era convocado para a seleção nacional. Porém, conhecendo a situação, não bastava à Federação Portuguesa de Ciclismo boicotar o ciclista em termos de seleção. Aquando das inscrições das equipas para 2013, a Federação deveria ter alertado o Louletano sobre a existência de uma investigação em curso.

Também o Louletano deveria ter agido de forma diferente. Contratou o ciclista desconhecendo a investigação em curso e por isso isento de responsabilidades nesse momento. Porém, mais tarde os seus responsáveis foram informados, o ciclista esteve temporariamente suspenso, falhou provas por esse motivo, mas quando a suspensão provisória foi levantada voltou a competir, vencendo a GP Abimota e uma etapa do Troféu Joaquim Agostinho. E preparavam-se para o levar à Volta a Portugal como em 2009 levaram o João Cabreira, que trazia um processo de trás, foi à Volta como chefe-de-fila, venceu uma etapa e depois perdeu tudo no TAS. Desta vez, felizmente, a suspensão saiu antes da Volta.

A equipa teria que manter o ciclista afastado da competição, tal como a LA-Antarte manteve o António Amorim. Claro que é diferente para as equipas tomar a decisão de deixar de fora o Amorim ou o Sérgio Ribeiro, mas situações difíceis exigem decisões difíceis. Mais uma vez, imperou a ganância dos resultados, a mesma que levou à contratação do Cabreira e às contratações de Eládio Jimenez e Constatino Zaballa, que chegaram a Loulé referenciados pela Operação Puerto e lá foram apanhados no controlo.

Os adeptos do ciclismo estão cansados! É exigido que a Fullracing, empresa-base da Efapel-Glassdrive tome uma posição clara sobre a existência de dois casos bastante similares na sua equipa. Exige-se saber o que se passou e porque estes ciclistas deixaram de interessar à equipa, que lhes ofereceu contratos significativamente mais baixos para este ano, mostrando desinteresse pelos mesmos.

Do Sérgio Ribeiro, exige-se que conte toda a verdade. A começar por 2007. E quem tiver que cair, que caia!

Senhores, assumam as vossas responsabilidades. Os adeptos estão merecem que tomem posições claras e honestas!

9 comentários:

  1. Rui bem dito... está na hora de também limpar o ciclismo português, estamos fartos de ver jovens com valor a vencerem e sem recurso a substâncias...

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  2. boa noite caros amantes do ciclismo!!!
    as perguntas que coloco e conclusão que retiro de tudo isto e no seguimento do excelente artigo escrito acima é só uma....
    pergunto:
    se já vem de trás porquê não foi publicado quando corria na Efappel do Sr.Carlos Pereira?
    porquê o Sr.Delmino Pereira exmo Presidente, também não publicou antes?

    Será que estes senhores não se puseram de acordo, para nenhum dos dois perder o valente "tacho"?

    pois meus caros enquanto o ciclismo estiver a ser comandado por amigos com interesses comuns...a mafia vai continuar!
    pois pelo que sei são dos poucos ou únicos que podem viver realmente da modalidade...não me queria alargar mais...
    não quero com isto defender a pratica de irregularidades, mas sim os timings em que são anunciadas...
    abraço e viva a Volta e o Ciclismo.

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  3. "Todos" sabem mas todos se calam como ratos que são!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Sergio Ribeiro desde que voltou em 2009 foi controlado todos ao anos mais de 100 vezes E COMO NUNCA LHE PODERAM APONTAR NADA!!!!!!!!!!!!!!Inventaram o passaporte biológico hehehehehehe e MALHAM EM QUEM ELES QUEREM COLOCAR FORA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  4. Rui quando falas do período de suspensão provi´soria e do facto de toda a gente querer abafar veio-me logo à cabeça as declarações do Jorge Piedade no dia do Troféu Restaurante Alpendre, podem ver aqui é logo no início do vídeo:
    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gBxBaLOJ7sQ

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    1. Caro Davide, o Sr.Jorge disse que haviam "problemas", mas não disse se conhecia esses problemas.

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    2. Caro Anónimo evidentemente que ele sabia desses problemas...se não sabia então é um director desportivo otário porque o Sérgio já vinha a ser investigado desde Janeiro de 2011, altura em que foram detectadas as primeiras anomalias no seu passaporte biológico.

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  5. Eu não Acredito!!!!!! Que O Sérgio Ponha A Boca No Trombóne
    Pois Ele Sabe Que Por Muita Pouca culpa Que tenha
    Ele"Sérgio" Sabe O Que Fez........Pois Todos Eles Tómão Ou Antes Ou depois Das Grandes Competições................Mas Sérgio a Luta Continua................

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  6. Sabem acho que o passaporte começa a ditar as regras, estamos no bom caminho. É mais um aviso para os incompetentes que recorrem ao doping.

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  7. antes de mais acho que o Jorge Piedade e o Carlos Pereira amostraram ser uns cobardes nas suas declarações acerca do caso "Serginho".
    omitem aquilo que sabem sobre este caso...
    são directores desportivos e não sabem aquilo que se passa com os seus ciclistas?????
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    é muito triste a data escolhida para a divulgação da suspensão do Sérgio. a menos da uma semana do inicio da volta é triste!
    se fosse 2 a 3 meses a trás, o impacto na imagem do ciclismo português seria muito menor...
    as pessoas menor ligados a modalidade (adeptos de circunstancia, ou seja, adeptos do ciclismo durante o Tour e Volta a Portugal)nem se apercebiam do caso
    mais uma vez os agentes envolvidos (uvp-fpc; adop, etc) a arranjarem lenha para a fogueira que está a queimar aos poucos o ciclismo.
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    enquanto um ciclista for suspenso por fazer uma transfusão de sangue para melhorar o seu desempenho e nada a acontecer a jogador da "bola",(ou de outros desporto) que usa o mesmo método para melhorar o seu rendimento o NOSSO CICLISMO vai continuar a ser o "patinho" feio dos desportos no que ao doping diz respeito. ISTO PARA A IMAGEM DA MODALIDADE PERANTE A SOCIEDADE É HORRÍVEL.
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    ontem ouvia o Sr delmino Pereira a dizer que estas situações são boas e ajudam a caminhar para um desporto limpo de doping. este senhor deve ser maluco... :)
    Infelizmente, o doping no desporto pode diminuir de intensidade mas nunca vai acabar.

    um aparte, este senhor não tem "nível para ser presidente de uma federação.

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