Abençoados pelo Anjo da Guarda do ciclismo português: Liberty Seguros |
Durante largos anos a João Lagos Sports (JLS) foi administrada de uma forma que visava a presença nas revistas cor-de-rosa e não nos órgãos de comunicação social desportiva. Foi administrado de uma forma ruinosa e isto pouco tem a ver com ciclismo e com a Volta a Portugal, mas sim com o topo da empresa.
A JLS foi durante muito tempo mantida não pelos seus resultados operacionais mas pela sua capacidade de endividamento. Portugal é assim e não foi só o Estado que se endividou para lá das suas possibilidades. O BES ia alimentando a JLS da mesma forma que vai alimentado clubes de futebol falidos, porque em Portugal vale mais aparecer na Caras e na VIP do que ter um bom e viável Plano de Negócios. Como se tem visto nas últimas semanas, o Grupo Espírito Santo tem também ele sido administrado de forma, no mínimo, desastrosa.
Cada vez que João Lagos tem declarações públicas, sempre muito dedicado a negar a verdade, devemos descer à realidade e perceber que neste belo país ainda são possíveis muitas situações mais condicentes com países subdesenvolvidos do que com o que se espera da União Europeia. O BES torrou na JLS muitos milhões que dariam para financiar muitos projetos de pequenas e médias empresas que teriam gerado emprego e no final teriam pago. Mas este é um espaço sobretudo desportivo e o que interessa reter é que o organizador da Volta a Portugal chegou a um estado em que era impossível continuar.
Desde o ano passado a organização está a cargo da Podi1 (Podium), com as mesmas pessoas a organizar a Volta a Portugal (e as outras provas) mas como uma nova linha orientadora no que toca à administração, procurando evitar os erros do passado, para tornar a Volta a Portugal rentável. É preciso perceber que qualquer prova pode terminar, como terminou a Volta à Alemanha em 2008 (e era Pro Tour) e como terminou o Campeonato de Zurique em 2006, depois de 91 edições, depois de ter pertencido às 16 edições da Taça do Mundo e mesmo estando no Pro Tour. Ou as prova são rentáveis, ou terminam, seja em países com economias fortes ou seja em países em colecionam pedidos de ajuda externa como Portugalistão.
Os patrocinadores não são tantos como a Podi1 gostaria, são menores do que gostariam e alguns demoram demasiado a pagar. Esse é um problema que muitas vezes se esquece. Não basta que os rendimentos sejam superiores aos gastos. É preciso receber antes de chegar a hora de pagar (desculpem isto estar a tornar-se demasiado contabilístico).
A Volta a Portugal 2014 não terá equipas World Tour e terá apenas uma continental profissional (Caja Rural). A elas juntam-se as seis portuguesas, a seleção nacional (com jovens, muito bem) e oito continentais de países tão distintos como Colômbia, Equador ou Japão. A Skydive Dubai falha à última da hora por falta de vistos de alguns ciclistas, tornando-se impossível juntar o número mínimo de ciclistas.
É o pelotão ideal? Não. É um pelotão atrativo? Não. Mas é o que é possível. E quem organiza sabe tudo isso. Gostaria de ter equipas do World Tour, o campeão do mundo, os melhores portugueses, as suas equipas, equipas continentais profissionais, equipas de melhor qualidade. É totalmente descabido pensar que o organizador da Volta a Portugal não convida equipas melhores porque não quer ou porque tem medo que um estrangeiro ganhe a Volta. O problema é que melhores equipas são mais exigentes e para maiores exigências é necessário mais dinheiro, que não há. Não há arame, não há palhaço.
Além disso, uma prova de 13 dias (11 etapas, descanso e apresentação obrigatória) não é atrativa nesta altura do ano, como tantas vezes explicado. Equipas continentais profissionais com plantéis entre 16 e 25 ciclistas não podem dar-se ao luxo de mandar nove para Portugal por duas semanas, até porque algumas delas acabaram agora o Tour, outras têm a Vuelta à porta, outras têm outras provas nos seus países.
Por outro lado, esta Volta a Portugal tem um percurso muito interessante, com vários finais que fogem ao habitual. É mais uma Volta a Portugal "distribuída" pelo Norte e sei que a Liberty Seguros queria trazê-la mais para Sul, mas tal acabou por não acontecer. A Liberty Seguros sabe que beneficiaria com uma Volta mais dispersa pelo país mas, não acontecendo isso, o patrocínio da Volta ao Algarve e da Volta ao Alentejo acabam por limitar os efeitos negativos para o patrocinador do menor interesse que a prova capta a Sul.
A chegada a Braga com a subida ao Bom Jesus e ao Sameiro e chegada à Serra do Larouco em Montalegre são novidades interessantes que obrigam a que os ciclistas tenham que estar fortes do início ao final. Mesmo a recuperação da chegada à Senhora da Assunção será um ponto de interesse. Apesar de não fazer grandes diferenças, por pouco se ganha ou se perde a Volta. Ou se fica, ou se sai do pódio.
É difícil para qualquer prova estar logo encadeada com o Tour, não evitando as comparações. A Volta não é o Tour, mas acredito que esta Volta terá muito espetáculo para quem gosta de ciclismo.
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É difícil para qualquer prova estar logo encadeada com o Tour, não evitando as comparações. A Volta não é o Tour, mas acredito que esta Volta terá muito espetáculo para quem gosta de ciclismo.
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O blog é um hobby com consome muito tempo. Tempo para ver as etapas e depois para vos apresentar algo de qualidade que faça valer o tempo que aqui despendem. Ao longo das próximas 2 ou 3 semanas não terei essa
disponibilidade de tempo para acompanhar ciclismo em direto. Não é a primeira
vez que acontece nem será a última. Por exemplo, no ano passado aconteceu
semelhante com a Vuelta e por isso apenas houve 3 crónicas dedicadas à prova
(em três semanas).
No entanto, na página do Facebook haverá tudo o que é habitual. Links para assistirem
à transmissão da RTP, resultados, fotografias e curiosidades. Eu e o Vítor
Lopes faremos lá o mesmo de sempre. No blog poderá haver crónicas sobre
qualquer assunto, mas análise às etapas (que não poderei ver), não.
Por exemplo, nos próximos dias haverá aqui algumas informações sobre o que se tem passado na OFM. Há dois meses foi aqui escrito que uma equipa portuguesa tinha vários meses de salário em atraso e, por tudo o que já tinha sido escrito aqui sobre a OFM, muitos de vocês sabiam de que equipa se tratava. Foi preciso chegar à Volta para que viesse a público um pouco do que se passa. Amanhã a OFM alinhará no prólogo de Fafe e nos próximos dias tentarei explicar-vos um pouco mais, sempre sem comprometer as pessoas honestas que são vítimas desta trapalhada. Quando o conseguirei, ainda não sei.
Por se tratar da Volta, a prova mais importante do calendário nacional, e pelo respeito e a consideração que
tenho por cada leitor, achei que vos devia esta explicação.
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Julho de 2014 (que ainda não acabou) é o mês com mais visitas de sempre deste modesto espaço. Vai até onde vocês o levam. Obrigado!
Julho de 2014 (que ainda não acabou) é o mês com mais visitas de sempre deste modesto espaço. Vai até onde vocês o levam. Obrigado!
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