quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Uma das melhores vitórias de Valverde

Numa Vuelta que não facilita a vida aos sprinters, Nacer Bouhanni, Michael Matthews e John Degenkolb não demoraram a assumir protagonismo e, apesar da juventude, nenhum deles é uma surpresa.

Bouhanni venceu a primeira etapa em linha, que juntou a três triunfos no Giro e mais seis na temporada, num total de dez. A guerra interna com Arnaud Démare e a impossibilidade de os dois coabitarem levou a que Bouhanni decidisse mudar de equipa (para a Cofidis), o que muitas vezes fecha as portas à participação na Vuelta, mas não foi o caso. Até final da temporada, Bouhanni é ciclista da FDJ e a equipa francesa conta com ele, apostou nele e saiu-lhe bem logo na primeira oportunidade.

Depois Michael Matthews, vencedor de uma etapa e líder por seis dias no Giro, que aqui também já venceu e liderou da terceira à quinta etapa. É desde já uma excelente temporada para o australiano, que poderá estar na discussão do titulo mundial daqui a um mês. Foi campeão sub-23 em 2010 com apenas vinte anos e o circuito de Ponferrada pode assentar muito bem às suas características, homem rápido mas com aptidão para o terreno irregular.

Outro que pode ter uma palavra a dizer na luta pelo arco-íris é Degenkolb, um ciclista fantástico, com muitas vitórias importante mas também com muitas derrotas amargas. Vice-campeão mundial sub-23 atrás de Matthews, terceiro dois anos antes e quarto dois anos depois, já nos elites. Este ano foi vice-campeão alemão, teve dois segundos lugares do Tour e outro no Paris-Roubaix, que festejou como uma vitória. Sabia que Terpstra tinha vencido mas sentiu aquele segundo posto como se de um triunfo se tratasse e ergueu o braço-direito ao transpor o risco de meta num ato espontâneo de felicidade. Leva sete vitórias em 2014, com destaque para estas duas na Vuelta e a Gent-Wevelgem, mas também treze segundos lugares.

Após dias de sprinters, a primeira chegada em alto chegou hoje, no alto de Cumbres Verdes, com apenas 4,6 quilómetros e 7,8% de inclinação média mas com rampas superiores a 10% que levaram os ciclistas até aos 1200m de altitude. Não era uma jornada de alta montanhas mas era o suficiente para testar pela primeira vez a forma dos favoritos e tirar algumas indicações com vista o que encontrarão no Norte. E Alejandro Valverde conseguiu uma das mais impressionantes vitórias da sua carreira.

Passou para a frente do grupo à falta de 2300m, aumentando o ritmo enquanto o grupo ia ficando cada vez mais restrito, com as primeiras desilusões de maior relevo protagonizadas por Daniel Martin e Rigoberto Urán, que perderam perto de um minuto. Foi Valverde que reduziu o grupo a vinte ciclistas e depois a quinze e a dez, com um ritmo frenético. Um excelente trabalho para Quintana, até que Purito atacou a setecentos metros do final e quem melhor respondeu foi o próprio Valverde.

Valverde aguentou na roda de Purito e aguentou, deixou que Froome, Contador e Quintana se juntassem e meteu-se ao lado de Froome quando este passou para a frente. Aguentou friamente mais um pouco, esperou até aos 150/200m e então arrancou imbatível, de forma muito semelhante ao que fez na Flèche Wallone. Venceu diante de Chris Froome e Alberto Contador.

Contador apenas confirmou a participação na Vuelta dez dias antes do arranque da prova e havia muitas incertezas sobre o seu estado de forma, mas essas dúvidas foram-se dissipando com o aproximar da corrida e com os primeiros dias, à medida que se ia queixando. Porque Contador é assim, tem um discurso pautado pelas queixas, lamentações e desculpas, nunca admitindo a derrota (lembrem-se que perdeu o Dauphiné por "situações de corrida", mas não por mérito de Talansky). Quanto mais se queixa, melhor está.

Apesar de alegadamente não ter tido preparação, está neste nível. Também Rafal Majka não fez preparação para o Tour e foi quem esteve mais próximo de Nibali nas chegadas em alto de Alpes e Pirenéus. Já sabem, é "o desporto mais duro do mundo" mas o segredo é estar lesionado e não fazer a preparação adequada.

São curtas diferenças numa subida curta, bastante distante da dureza das mais exigentes da Vuelta, mas deixa com agua na boca para as batalhas que se podem seguir entre estes que foram os cinco melhores: Valverde e Quintana, Froome, Contador e Rodríguez.

A situação entre Valverde e Quintana poderá tornar-se difícil de gerir, mas hoje Valverde surpreendeu-me duplamente pela positiva. Mais forte do que eu esperava e com uma grande entrega ao seu colega. Um equipier de excelência. Domingo haverá nova chegada em alto, com oito quilómetros a 6,6% que poderão servir para esclarecer alguma coisa... ou confundir mais ainda.

Para já, destaque também para as boas indicações dos jovens Aru, Chaves e Barguil, de quem muito se espera. Kelderman não conseguiu estar ao nível demonstrado no Giro, o que poderá ser coisa de um dia ou o seu padrão para esta Vuelta, mas Aru passou o primeiro teste.

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Em França faltam duas etapas para terminar o Tour de l'Avenir, as mais difíceis.


Para já, os portugueses estão a realizar uma grande prestação, com Joaquim Silva em 9º na geral, Ricardo Ferreira 14º e Rúben Guerreiro 16º. Coletivamente Portugal é segundo a 45 segundos da França, com a Rússia a 24s e as restantes a mais de dois minutos.

Será naturalmente tema para outro dia.

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