Miguel Ángel López deu seguimento ao recente sucesso colombiano na Volta a França do Futuro, repetindo as vitórias de Nairo Quintana em 2010 e Esteban Chaves em 2011. Em cinco anos são três vitórias de colombianos, familiarizados com a altitude e as longas montanhas que encontram nas provas do seu país, uma clara vantagem para o percurso também ele muito montanhoso que encontram no Tour de l'Avenir.
Há dois meses e meio Miguel Ángel López estava a disputar (e vencer) a Volta da Juventude, uma espécie de Volta à Colômbia sub-23, com um prólogo e mais seis etapas, constantemente acima dos 2000m de altitude, por vezes nos 3000m, e muita montanha. Fabio Duarte, Sergio Henao e Carlos Betancur foram alguns dos últimos vencedores da Volta da Juventude, que este ano contou com 25 equipas e 200 ciclistas, 198 deles colombianos. São condições que promovem o desenvolvimento dos talentos colombianos desde cedo e quando vêm para uma prova montanhosa na Europa ninguém tem melhor preparação do que eles.
Com equipas de apenas seis elementos, não era fácil nenhuma seleção controlar a corrida e isso sentiu-se logo na primeira etapa em linha, com um trio de fugitivos a vingar por mais de dois minutos. Voltou a dar-se uma fuga vencedora na quarta etapa, a primeira com chegada em alto e triunfo do cazaque Ilya Davidenok, mas foi Miguel Ángel López quem conquistou a camisola amarela para não mais a largar.
Superman López de alcunha, venceu a penúltima etapa mas na última teve a sua vitória seriamente ameaçada. Com três montanhas em 95 quilómetros, o belga Louis Vervaeke atacou logo na primeira delas, a oitenta quilómetros da meta. Era oitavo na geral a 1'49'' de López e chegou a registar mais de três minutos de vantagem sobre o pelotão. Sozinho não conseguiu segurar a liderança virtual, mas a vitória na etapa (e a subida ao 5º lugar) foi um prémio merecido para um ciclista que deu um enorme espetáculo e demonstração de coragem.
Vervaeke é estagiário na Lotto. Caleb Ewan, Ilya Davidenok e Dylan Teuns, todos eles vencedores de etapas, são estagiários na Orica, Astana e BMC.
Os portugueses estiveram a um nível excelente, sobretudo Joaquim Silva e Ruben Guerreiro, numa prova não começou da melhor forma para a seleção nacional, com o abandono de Nuno Bico ainda antes da prova começar. Depois de uma infeção respiratória durante a Volta a Portugal, teve uma recaída quando chegou a França e, com febre, decidiram não arriscar.
Durante os primeiros dias os cinco lusos cumpriram o que se podia pedir, chegando integrados no pelotão, mas foi nas etapas de montanha que a representação nacional esteve melhor, com Joaquim Silva desde logo a mostrar-se como um dos mais fortes na montanha. Com uma grande regularidade, foi oitavo na classificação geral contra muitos dos melhores do mundo da sua idade, todos eles com maior experiência internacional, seja ao serviço das suas equipas continentais ou das seleções dos seus países. A exceção é mesmo o vencedor, com todo o seu percurso realizado na América do Sul e numa equipa amadora, a Lotería de Boyacá. Poderá vir para a Europa já no próximo ano ou continuar na formação de Boyacá se esta subir a continental.
Ruben Guerreiro também esteve excelente, quebrando apenas no último dia, em que perdeu mais de nove minutos numa etapa extraordinariamente dura para estes ciclistas, com o décimo classificado a perder quase meia dúzia de minutos. Ainda assim subiu ao 14º lugar, um feito notável aos 20 anos e que abre grandes expetativas para as possíveis participações nos próximos dois anos.
Ricardo Ferreira foi 47º, Rafael Reis 72º e Carlos Ribeiro 80º.
Mostrou-se que existe qualidade em Portugal, mas para que esta participação se repita é importante que Portugal se qualifique, o que não aconteceu este ano. A presença na Volta a França do Futuro é destinada às 20 melhores seleções da Taça das Nações e à seleção da UCI, mas a República da Irlanda e a Finlândia não tiveram condições para participar, abrindo vagas a Portugal e Eslovénia como convidadas.
Em abono da verdade se diga que foram apenas quatro provas de um dia pontuáveis para a Taça das Nações sub-23 antes do Tour de l'Avenir, portanto poucas oportunidades para alcançar pontos. Cada vez há menos provas na Taça das Nações e não devia a qualificação para o Tour do Futuro estar dela dependente.
Importa agora que estes jovens tenham condições para desenvolver o talento demonstrado internamente ao longo dos últimos anos e confirmado internacionalmente ao longo da última semana. Estão de parabéns!
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