segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Ninguém teve pernas para seguir Contador

É preciso força nas canetas
A Vuelta chegou ao seu terceiro fim de semana com os nove primeiros classificados separados por menos de três minutos, o que pode ser entendido como um sinal de equilíbrio ou como um sinal de falta de história. Aqui tratava-se do segundo caso e apenas o contrarrelógio individual tinha conseguido provocar algum distanciamento entre os homens que ambicionam o topo da classificação.

Esperava-se algo diferente deste fim de semana alargado (de sábado a segunda), por englobar três das etapas mais duras desta grande volta espanhola, ainda que as duas primeiras estivessem bastante distantes da dureza encontrada no Giro e no Tour. Sobretudo pela falta de montanhas antes da subida final e porque mesmo estas eram relativamente curtas, o que resultou em magras distâncias entre os cinco que lutam pelo pódio: Contador, Valverde, Froome, Rodríguez e Aru. No sábado houve 29 segundos de diferença entre eles, no domingo apenas 12.

Ambas as etapas foram vencidas por integrantes da fuga do dia. A primeira para Ryder Hesjedal, um ciclista muito combativo que acrescenta sempre espetáculo às provas em que participa, mesmo que pertença ao clube “foi só uma vez” da Garmin. A segunda foi para Przemyslaw Niemiec, que não conseguiu igualar o nível do ano passado do Giro mas conseguiu aqui a sua primeira vitória ao serviço da Lampre, onde chegou em 2011.

A etapa de hoje esperava-se diferente. Valverde apenas precisava de resistir na roda de Contador hoje e no Puerto de Ancares (penúltima etapa) e conquistar por bonificações para anular os 31 segundos de atraso com que partia, mas Joaquim Rodríguez tinha que ganhar dois minutos a Contador nestas duas etapas para ter alguma margem antes do contrarrelógio final. Tanto para Purito como para Froome não bastava atacar na última subida, pois Contador tinha-se vindo a mostrar forte o suficiente para responder ou, no pior das hipóteses, minimizar as perdas. Não era com 10 ou 20 segundos aqui e em Ancares que iriam recuperar o minuto e vinte que tinham de atraso para o espanhol.

Purito necessitava de algo semelhante ao que Contador lhe fez há dois anos na etapa que terminava em Fuente Dé. Não no sentido de surpreender Contador, porque isso parecia fora de hipótese, mas precisava de atacar de longe e que os restantes adversários deixassem a perseguição a cargo do líder, tal como Valverde deixou que Purito se afogasse na perseguição a Contador em 2012. Para Froome a história é outra, porque Froome não parece estar a correr para bater os seus concorrentes mas sim para fazer a melhor classificação possível, o que não é exatamente o mesmo. Enquanto Contador, Purito, Valverde, Aru e toda a gente ataca e responde às mudanças de ritmo, Froome ignora tudo. Segue ao seu ritmo, de forma desligada do que o rodeia, e no fim logo se vê se o seu ritmo vale o primeiro lugar, o segundo, o quarto ou o que seja.

Joaquim Rodríguez e a Katusha optaram por levar a corrida controlada, não permitindo que os fugitivos do dia se distanciassem em demasia para no final o seu líder ir buscar bonificações. Sente-se mais confortável a atacar dentro do último quilómetro e faltou-lhe confiança ou capacidade para hoje sair da sua zona de conforto. E quando Chris Froome acelerou (após um excelente trabalho dos seus colegas), apenas Contador conseguiu responder para sentenciar a Vuelta.

Alberto Contador apenas precisava de seguir na roda de Froome, no seu ritmo constante ditado pelo ciclocomputador, enquanto Valverde e Purito viam as suas aspirações à vitória fugirem na roda de Froome. Mas no final Contador ainda arrancou para vencer isolado e mostrar que é o mais forte nesta Vuelta.

Poderiam ter optado por estratégias diferentes, mas é difícil apontar culpas a Valverde, Froome ou Rodríguez por não estarem melhor na classificação geral, sendo esta liderada pelo ciclista mais forte em prova, quase capaz de voar. E é cada vez mais difícil que alguém dê a volta ao texto. Apesar da Tinkoff presente nesta Vuelta estar distante de ser um exemplo de força, tem sido o suficiente para manter Contador tranquilo, colocando constantemente alguém em fuga para apoiar o chefe de fila numa fase mais adiantada.

No calendário falta toda a última semana de prova, mas olhando ao percurso pela frente falta pouco para a coroação e só um golpe de teatro poderia retirar a vitória a Alberto Contador.

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