segunda-feira, 29 de junho de 2015

Um Tour, Quatro Favoritos

Este Tour de France é aguardado com grande expetativa e pode vir a ser um dos melhores dos últimos largos anos, com a presença de quatro ciclistas que venceram grandes voltas recentemente e se apresentam em teoria com condições de lutar pela vitória ao longo das próximas semanas.

Vincenzo Nibali e Chris Froome, vencedores dos dois últimos Tours, Alberto Contador e Nairo Quintana, vencedor dos últimos Giros. Cada um com as suas características, entre os quatro venceram sete das últimas oito grandes voltas, todas com exceção da Vuelta do avô Horner. São o tema do artigo de hoje.


Vincenzo Nibali (Astana)

O vencedor da Volta a França 2014 apresenta-se à partida para a edição deste ano como aquele que, entre estes quatro favoritos, menos tem feito. 10º na Volta à Romandia e 12º no Dauphiné, com um dia de camisola amarela e um segundo lugar em etapa (batido por Rui Costa) eram até sábado os seus melhores resultados em 2015, francamente pouco para quem é um dos melhores grande-voltistas da atualidade, vencedor da Vuelta 2010, Giro 2013 e Tour 2014. Porém, até ao Tour 2014, o percurso de Nibali na temporada em questão também não era deslumbrante. E, tal como em 2014, Vincenzo Nibali sagrou-se campeão italiano uma semana antes do arranque da Grande Boucle.

Viu-se em 2014 que Nibali e o seu preparador têm a fórmula e estão a tentar repeti-la. Viu-se também no Giro que na Astana, quando um andam, andam todos, em jeito de performance coletiva. Jakob Fuglsang deverá ser o seu guarda de honra nas montanhas, mas Nibali quererá começar a ganhar tempo logo na primeira semana, sobretudo no dia de pavés, onde tão bem esteve em 2014. Ainda que seja difícil repetir as diferenças desse dia se as condições climatéricas não se apresentarem tão adversas.

Tanel Kangert estará no Tour depois do Giro (veremos em que condições), também Michele Scarponi e Lieuwe Westra, todos ciclistas que poderão ser muito importantes para Nibali na montanha.

Chris Froome (Sky)

Por falar em pavés, torna-se quase assustador imaginar Chris Froome sobre eles, sem poder olhar para o ciclista que vai à sua frente, com as suas constantes guinadas de cabeça para olhar o medidor de potência, que agora descobriram que afinal é para respirar melhor (o resto do pelotão está todo a respirar mal, vão sufocar!).

Froome, vencedor do Tour 2013, começou 2015 triunfante na Volta à Andaluzia, deixou escapar a Volta à Romandia que tinha vencido nos dois anos anteriores (foi 3º) e chega ao Tour depois de um grande triunfo no Critérium du Dauphiné, com duas etapas de brinde.

A subir, Froome, que se descobriu trepador quando o seu contrato estava a terminar em 2011, pode estar entre os melhores e inclusive ganhar tempo a toda a concorrência. Terá também uma excelente equipa, com Peter Kennaugh, Wout Poels, Geraint Thomas (também quer ser trepador), Leopold König e Richie Porte, veremos em que condição, depois de disputar o Giro no caso do checo, e meio Giro no caso do australiano. O calcanhar de Aquiles de Froome será tudo aquilo que exija um mínimo de técnica, como os já referidos pavés mas também a entrada no Mur d'Huy.

Alberto Contador (Tinkoff-Saxo)

Contador traçou como objetivo para 2015 vencer Giro d'Itália e Tour de France, tendo cumprido a primeira metade e estando agora preparado para a segunda, onde pretende repetir o feito de Marco Pantani em 1998. Aliás, para mostrar um corte com o passado (ou para mostrar que nada muda), após a etapa deste Giro de Madonna di Campiglio, estação de ski onde Pantani foi expulso do Giro 99 por abuso de EPO, Contador dizia Hoje mais do que nunca, Marco Pantani. Cada um tem as suas referências e exemplos a seguir.

A temporada de Contador não começou de forma triunfante, sendo derrotado na Andaluzia (2º), Tirreno-Adriático (5º) e Catalunha (4º), mas conseguiu ser o melhor na Volta a Itália para conquistar a sétima grande volta da sua carreira, feito impressionante, superado neste aspeto apenas por Merckx, Hinault e Anquetil (que três!).

O espanhol, que no Giro não contou com grande apoio por parte da sua equipa na altura das decisões, terá novamente Roman Kreuziger (o presidente da UCI decidiu retirar a queixa contra o checo, ciclista de Tinkoff, que o presidente da UCI trata carinhosamente por My friend Oleg), Michael Rogers e Ivan Basso. Não tenho muitas dúvidas de que Contador se apresentará recuperado, mas tenho sobre os seus colegas, porque obviamente não têm a capacidade do espanhol.

Quem está fresco é Rafal Majka, que no ano passado, sem preparação, fez tão bom Tour. Este ano, com preparação, tem tudo para voltar a voar ou para passar totalmente incógnito, porque o que umas vezes assenta muito bem, outras muito mal. É uma equipa muito boa por parte da Tinkoff-Saxo, mas falta ver como será a divisão de recursos entre Contador e Sagan.

Estará Contador recuperado do Giro? Acredito que sim. Para não ter demasiada carga, optou (e bem, parece-me) por saltar o Dauphiné e a Volta à Suíça e passar pela Route du Sud, apenas com quatro dias de duração. Apesar da concorrência não ser tão intensa nesta prova francesa, seria algo absolutamente monstruoso alguém vencer Giro e Tour na mesma temporada e pelo meio, em período de recuperação, ainda levar outra prova. Mas Contador sabe bem as armas que têm ao seu dispor.

Nairo Quintana (Movistar)

O colombiano é, dos quatro, o único que ainda não venceu o Tour, mas se o segundo posto de 2013 não bastasse, o triunfo no Giro d'Itália do ano passado colocam-no como um homem capaz de vencer uma prova de três semanas.

Em março obteve uma importantíssima e moralizante vitória no Tirreno-Adriático, vencendo com significativa margem a etapa rainha, depois afrouxou a sua forma e recentemente foi segundo na Route du Sud, parecendo incrivelmente confortável a subir, mas perdendo tempo para Contador numa da última descida da etapa mais dura (a única de montanha).

Com muita montanha e apenas um contrarrelógio individual, Nairo Quintana não terá ao longo da sua carreira muitas Voltas a França com um percurso mais ao seu jeito. Mas veremos como passa os pavés da quarta etapa.

E Alejandro Valverde? Dependerá muito do que se passar na primeira semana. Em teoria, Valverde andará melhor que Quintana no contrarrelógio inaugural, será um dos melhores na chegada ao Mur d'Huy e nos pavés faltam referências do colombiano. Se Quintana sair da primeira chegada em alto na frente do seu companheiro, será ele o líder absoluto. Mas se Valverde conseguir resistir melhor que Quintana, então será mais complicado montar a estratégia da Movistar, mesmo que digam que vão focados em Quintana.

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Quarta-feira haverá novo artigo com uma maior quantidade de figuras a acompanhar nesta Volta a França, incluindo os portugueses.

Relembrando que ali de lado está sempre o mapa do Tour e, clicando nele, vão diretamente para o artigo Volta a França 2015: perfis e antevisão de todas as etapas.

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Durante as próximas três semanas estarei na África do Sul, em Joanesburgo, para comentar a Volta a França para a cadeia SuperSport, a número 1 no continente africano, emitindo em diversos idiomas para toda a África. Estarei diariamente no SuperSport Máximo, canal em língua portuguesa, para todos aqueles que estejam em África e queiram acompanhar a prova rainha do ciclismo mundial na nossa língua.

Sei que mais de 95% dos leitores habituais do Carro Vassoura não poderão acompanhar as transmissões, mas sei também que quem gosta de acompanhar o Carro Vassoura se alegrará pela notícia, e, tão frequentemente quanto possível, haverá crónicas aqui no blog Vassoura. Na página do Facebook, graças ao enorme e preciosismo contributo do Vítor Lopes, haverá diariamente link oficial para assistirem à transmissão da RTP - e ficam muito bem entregues com o João Pedro Mendonça e o Marco Chagas - para os seguidores de fora de Portugal haverá algum link internacional (RTP apenas tem os direitos para Portugal), haverá classificações após a etapa e mais alguma história que vá surgindo.

Faltam 5 dias!

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