A Fóia regressou hoje à Volta ao Algarve, depois de alguns anos fora do roteiro e uma ausência ainda maior enquanto local de chegada. Depois de hoje, acho que não há forma de não se repetir no próximo ano. O frio e o forte vento que se fez sentir não impediram que o dia fosse um sucesso para a prova, para Monchique e para o ciclismo.
Já ontem Albufeira demonstrou a força da Volta ao Algarve. Ainda que seja difícil fazer uma comparação séria (por não existirem números) a ideia que fica é de um aumento na quantidade de público que se deslocou para ver a chegada da primeira etapa. Nela, Marcel Kittel (Etixx) bateu o seu compatriota André Greipel (Lotto-Soudal) num sprint um pouco diferente do que tem sido habitual, com a meta a avançar 300 ou 400m, o suficiente para que deixasse de ser em descida. Continua a ser "junto" à Câmara Municipal, continua na mesma avenida, mas desportivamente melhorou muito. Entre Kittel e Greipel estão nove vitórias de etapa nas últimas edições do Tour. Entre eles (e Degenkolb) luta-se pela liderança da seleção alemã para o próximo Campeonato do Mundo.
Se ontem foi um dia para sprinters, hoje disputou-se uma jornada muito acidentada. Bom, pelo menos nos últimos 70 quilómetros porque, diga-se, não interessa a ninguém ter uma etapa de duzentos quilómetros que seja tão dura do início ao fim e a de hoje apresentava um percurso indicado para esta fase da temporada.
Como o dia não se resumia à Fóia, na última passagem por Monchique o grupo já era significativamente reduzido e não é por acaso que o 40º da etapa já surge a quase oito minutos.
Houve muito público que ficou em Monchique a ver as duas passagens pela vila e houve muito público ao longo da subida para a Fóia. Ou, pelo menos, a mim pareceu-me muito. Num dia de semana, muita gente que não pode porque está a trabalhar, muita gente não se pode deslocar para o Algarve, mas também muita gente que se deslocou. Foi pena que algumas pessoas não pudessem subir porque não contaram com a estrada cortada, mas por uma questão de segurança, tem que ser assim. E enquanto alguns organizadores e patrocinadores a lamentam a redução de público de ano para ano noutras provas, mesmo em locais emblemáticos como a Senhora da Graça, foi bom ver toda esta gente em Albufeira e na Fóia, mas também em Lagos e Lagoa. Sim, há novos adeptos que vêm de bandeira e cachecol à procura do árbitro e do fiscal de linha (ainda não vi faixas de claque, felizmente) mas há sobretudo muito público que gosta de ciclismo, que percebe de ciclismo e que está aqui pelo ciclismo. À partida houvem-se gritos de clubes. À chegada houve-se gritos de Tiago, André, Nelson.
Na parte desportiva, a Tinkoff controlou ao longo de quase todo o dia, num ritmo alto apesar do vento, Alberto Contador, que tinha experimentado as pernas na última subida de Albufeira, voltou a atacar na Pomba, mas quebrou na Fóia. Estamos em fevereiro, vitórias são moralizadoras mas tudo tem que ser colocado em perspectiva.
Geraint Thomas (Sky) comprovou ser um dos favoritos à vitória (que seria a segunda), mas foi batido nos últimos metros por um Luis León Sánchez (Astana) que já vinha muito forte da Comunidade Valencia e Múrcia. Primoz Roglic (Lotto-Jumbo) foi uma surpresa, Ion Izagirre (Movistar) vingou-se do azar que teve no ano passado, aqui e noutras provas. Tiago Machado (Katusha) está (mais uma vez) na luta, Thibaut Pinot (FDJ) confirma a excelente forma que traz de França, Amaro Antunes (LA Alumínios) foi a maior surpresa, Héctor Saez (Caja Rural) foi o melhor jovem, Tiesj Benoot (Lotto-Soudal) mostrou a boa forma da preparação para as clássicas (e este rapaz será um dos melhores no capítulo) e o décimo é o vencedor da última Vuelta, Fábio Aru.
Tudo está em aberto, até porque faltam duas das três etapas que se esperava decisivas: contrarrelógio e Malhão. Nessas contas entra um tal de Tony Martin (Etixx-Quick Step), que está apenas a 25 segundos, já foi campeão mundial de contrarrelógio uma, outra e outra vez. Já venceu a Volta ao Algarve duas vezes subindo ao Malhão com os melhores.
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