quinta-feira, 26 de março de 2015

O que falta para Sep Vanmarcke vencer?

Tudo na red line
Em 2014, Vanmarcke esteve entre os cinco primeiros de todas as clássicas de pavé. Já foi ao pódio de Roubaix e da Volta a Flandres. Falta vencer.

Foi Sep Vanmarcke quem lançou o ataque decisivo no Circuito Het Nieuwsblad de 2012, ao nível do qual apenas (e com sofrimento) Tom Boonen e Juan Antonio Flecha foram capazes de dar resposta. Com os três a colaborarem, o favoritismo estava do lado de Boonen, teoricamente o mais veloz no trio e bastante mais experiente que Vanmarcke, então com 23 anos. Já tinha alguns resultados muito interessantes, sobretudo atendendo à sua juventude, mas bater um dos ciclistas que tinha aprendido a admirar desde o começo da sua carreira parecia demasiado para Vanmarcke. A um quilómetro da meta, tentou a sua sorte, sem sucesso. Flecha foi quem tomou a rédea da corrida a partir de então, no jogo do gato e do rato. Boonen lançou o sprint, Vanmarcke conseguiu responder, soube aguentar, e a 25 metros da meta ultrapassou para a vitória. Colocou-se debaixo dos holofotes como o grande sucessor ao Rei de Flandres. "Não posso acreditar. Eu bati Tom Boonen, o meu herói."

Mas esse despertar para a ribalta, contrariando o favoritismo de outros, forma uma antítese com o que tem sido a sua carreia desde então, sendo superado mesmo quando é o mais forte fisicamente.

Na continuação dessa campanha de clássicas, esteve na frente da Através de Flandres (7º) e E3 Harelbeke (5º), mas fora da discussão da Volta a Flandres e do Paris-Roubaix (com problemas de saúde pelo meio). Mudou-se da Garmin para a Blanco e em 2013 fez o oposto, aparecendo na parte final da campanha de pavés. Uma queda no Tirreno-Adriático comprometeu-lhe a condição física e então decidiu apontar para a última das suas clássicas a de Roubaix. Já sem ser um desconhecido, mas longe de ser um dos principais favoritos, foi o único a resistir com Fabian Cancellara nos pavés. Mais do que isso, foi Vanmarcke quem mais tempo passou pela frente, talvez por ingenuidade, talvez por ganas ou por ambas. Batido por Cancellara no Velódromo, não estava satisfeito pelo pódio, mas desolado pela derrota. Mostrou a fibra de que é feito.

No ano passado teve pela primeira vez uma época de clássica sem problemas físicos e foi capaz de um nível elevadíssimo e uma regularidade impressionantes, nunca baixando do quinto posto nas clássicas de pavé disputadas. 4º no Het Nieuwsblad, 3º na Kuurne-Bruxelas-Kuurne, 5º no E3 Harelbeke, 4º na Gent-Wevelgem, 3º na Volta a Flandres, 4º em Roubaix. Cada uma com as suas características, cada uma com a sua importância, mas em todas as de pavé Vanmarcke esteve entre os melhores. Digo por isso que foi o melhor sobre as pedras. Mas faltou-lhe algo.

Atacou muito, atacou muito forte, atacou nas maiores dificuldades, mas faltou-lhe sempre algo. De certa forma, provou o mesmo veneno que Fabian Cancellara em 2011, quando era o mais forte mas também o alvo de todas as atenções, e responder a um ataque é mais fácil do que livrar-se dos adversários para quem ataca. A poupança de energia possibilitada pelo "seguir na roda" é maior quanto maior for a velocidade, fator que torna a resposta a um ataque em plano (maior velocidade) mais fácil que a um ataque em subida (menor velocidade). Isto é, torna mais difícil fazer a diferença com um ataque em plano do que em montanha. E para vencer uma prova como o Paris-Roubaix, Vanmarcke precisa de fazer diferença em terreno plano, porque planos (mas duríssimos) são os seus setores de pavé.

É um ciclista rápido e disso tem dado várias demonstrações. Nas clássicas já disputadas, estando na discussão dos primeiros postos, acaba por ser constantemente um dos primeiros do grupo em que se encontra integrado. Mas ser rápido não lhe basta quando à partida tem, entre os concorrente Kristoff, Degenkolb, Sagan, Cancellara ou Démare. Apesar de já ter superado alguns destes em alguma ocasião, num sprint entre eles, o favoritismo estará do outro lado.

A Vanmarcke não lhe resta outra solução se não tornar a corrida dura e eliminar sobre as pedras os que são mais rápidos num hipotético sprint. Por isso ataca, e ataca muito, e puxa, e deixa a pele na estrada. E por isso é fácil gostar de Vanmacke. Quando chega à meta, seja qual for o resultado, sabemos que fisicamente está esgotado e não pôde fazer mais do que fez.

Já este ano, voltou a parecer o mais, no Omloop Het Nieuwsblad, mas dois furos impediram-no de lutar pela vitórias e foi apenas quinto no final (o primeiro dos outros). Na Strade Bianche, uma prova diferente dos pavés (por mais que queiram comparar, basta ver as classificações) foi quarto, evidenciando mais uma vez uma grande capacidade física. Agora falta vencer. E uma coisa podemos ter como certo. Quando Sep Vanmarcke vencer uma das grandes clássicas, terá que ser um enorme espetáculo.

*****
Questões para a Primavera:
Até onde chega Peter Sagan?
Ainda resta uma grande vitória a Tom Boonen?
E se Alexander Kristoff for o homem desta Primavera?
O que falta para Sep Vanmarcke vencer?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Share