sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Ainda resta uma grande vitória a Tom Boonen?

Depois de Sagan, continuo com Tom Boonen esta série de notas dedicadas a ciclistas que me motivam especial interesse para esta temporada e sobretudo os próximos meses, os de clássicas. Mas se enquanto a Sagan o interesse passa por saber até onde pode subir, no caso de Tom Boonen o interessante será saber se ainda consegue manter um nível suficientemente alto para mais uma grande vitória, tendo a última sido em 2012.

Tom Boonen é - e não é segredo - um dos ciclistas que mais aprecio. Na estrada, é dos poucos que não se contenta com o segundo lugar e por isso corre para o primeiro, sem medo dos adversários, como fazem Cancellara, Contador ou Nibali. Fora da estrada, é dos poucos que não cria desculpas para os seus desaires.

Se Sagan tem a possibilidade de dez ricos anos pela frente, Tom Boonen tem para trás dez anos recheados de vitórias, muito sucesso mas também momentos negros, seja por quedas, seja pela cocaína. Falar dos piores sem falar dos melhores (a maioria) seria absurdo; mas falar do melhor sem mencionar o pior seria enganador e tornaria impossível entender uma carreira que teve várias fases e bem distintas.

A primeira, até ao final de 2008, é recheada de êxito. Com dois Paris-Roubaix, duas Voltas a Flandres, um título mundial, seis etapas no Tour, uma camisola verde e dezenas de outras conquistas. Então Boonen entrou numa das fases escuras da sua carreira e da sua vida, acusando cocaína num controlo anti-doping fora de competição. Foi naturalmente estigmatizado pela opinião pública e afastada da Volta à Suíça e do Tour pelos organizadores. Ergue-se sem tocar no fundo. Voltou a vencer o Paris-Roubaix no ano seguinte e aí sim, entrou na pior fase da sua carreira.

Um novo positivo por cocaína após esse P-R empurrou-o para os piores anos da sua carreira, mas aquele controlo foi também um golpe de sorte. Com os seus problemas expostos, assumiu ter problemas com o álcool e, ocasionalmente, quando bebia demais, com as drogas. Teve o apoio da sua equipa, diretores e patrocinadores, que não lhe viraram as costas. Se não tivesse sido exposto tão cedo, talvez apenas o tivesse sido quando fosse tarde demais para o salvar da espiral destrutiva em que mergulharam outros desportistas.

Quedas, furos, problemas físicos, Cancellara (em Flandres) e Freire (em Sanremo) afastaram-no de grandes vitórias nos anos seguintes, às quais apenas regressaria em 2012, num dos momentos de forma mais avassaladores de que tenho memória. Em duas semanas venceu Prémio E3 de Flandres, Gent-Wevelgem, Volta a Flandres e Paris-Roubaix, esta última com 50 quilómetros em solitário.

Em 2013, uma infeção no cotovelo atormentou-lhe a preparação e uma queda na Volta a Flandres deixo-o de baixa (e fora do Paris-Roubaix). No ano passado, primeiro um aborto involuntário da sua mulher e depois queda no E3 afetaram o seu rendimento físico. Vimos na Ronde um Boonen lutador mas incapaz de seguir Cancellara e Vanmarcke nos muros. Vimos no Norte de França um Boonen muito agressivo que tentou a sua sorte de (muito) longe mas não a sua melhor versão, aquela que era quase inquebrável nos muros e quase imbatível num final ao sprint (entre os classicomanos). Somadas as características, um craque recordistas em todas as grandes clássicas de pavé: Flandres, Roubaix, Gent-Wevelgem e Prémio E3.

Quanto os problemas familiares e físicos lhe afetaram as duas últimas campanhas, não sabemos. Se é a idade que já pesa demasiado, tão-pouco. Agora com 34 anos (cumpre 35 em outubro), terá, pelo menos, mais duas épocas pela frente, pensando também nos Mundiais de Richmond (EUA) este ano e Doha (Qatar) em 2016, onde quererá o seu segundo arco-íris.

Hoje terminou a Volta ao Qatar, prova talismã do belga. Foi a sua 11ª participação e pela primeira vez não obteve qualquer vitória. Não é a melhor forma de começar o ano, mas um pensamento histórico diz que a temporada apenas começa no Circuito Het Nieuwsblad (antigo Het Volk). E há quem vá mais longe, dizendo que a temporada se inicia quando Boonen ataca no Taaienberg (também conhecido como Boonenberg), mesmo que seja apenas para testar as pernas, as suas e as dos rivais.

Com Terpstra, Stybar e Vandenbergh, a Quick Step (agora Etixx) não depende do seu histórico líder. O que também significa que Tom Boonen fica mais leve, com menos peso às costas. Veremos como evolui ao longo das próximas semanas e se ainda tem um último cartucho, para um último tiro certeiro.

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Questões para a Primavera:
Até onde chega Peter Sagan?
Ainda resta uma grande vitória a Tom Boonen?
E se Alexander Kristoff for o homem desta Primavera?
O que falta para Sep Vanmarcke vencer?

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