terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Até onde chega Peter Sagan?

Que Peter Sagan é um dos melhores ciclistas da atualidade, parece-me indiscutível. É dos mais versáteis, é. Ainda pode ter uma década de ciclismo ao mais alto nível, pode. Mas também me parece digno de nota que nos últimos três anos não apresentou grandes sinais de evolução, e por isso a dúvida. Até onde chega?

Vencer duas etapas numa edição do Paris-Nice não é para qualquer um, muito menos para um puto que acaba de completar 20 anos, mas cedo se percebeu que Peter Sagan tinha condições para chegar onde poucos chegam. Porque tem características para chegar onde poucos homens rápidos chegam e capacidade para um palmarés que poucos alcançam. Cedo mostrou condições para disputar os lugares cimeiros em qualquer um dos Monumentos da Primavera, de Sanremo a Liège, mas de disputar os primeiros lugares a vencer ainda vai algo, uma distância que desde logo parecia capaz de cumprir.

Não demorou muito a confirmar parte das expetativas. Em 2012 já disputava grandes clássicas (4º em Sanremo, 2º na Gent-Wevelgem, 5º em Flandres, 3º na Amstel) e vencia no Tour... três etapas... mais camisola verde. Nesse ano, entre a Volta à Califórnia e a primeira semana do Tour, com Volta à Suíça e campeonato nacional pelo meio, conquistou em 25 dias de competição incrível marca de 13 vitórias, com finais ao sprint, chegadas em rampa e até um prólogo. Impressionante. E assim tem sido carreira de Sagan - impressionante.

Os dois anos que se seguiram foram igualmente de excelência. Já com vitória na Gent-Wevelgem (2013) e no Prémio E3 de Flandres (2014), pódios em Sanremo e Flandres, o seu rendimento tem sido pautado num nível muito alto, tanto na Primavera como no Tour. Repetindo o que escrevi no começo, que Peter Sagan é um dos melhores ciclistas da atualidade, parece-me indiscutível. A questão é que, olhando ao Sagan do final de 2014, parece-me capaz do mesmo que no início de 2012.

Como sprinter, não está, nem pode estar, ao nível de Kittel e Cavendish. Em Flandres, não está ao nível de Cancellara (e em 2014 vimos vários ao nível de Sagan) e nas Ardenas não está ao nível de Valverde ou Gerrans. Sendo muito bom em todos estes terrenos, inclusive como rolador, ainda não o vimos impor-se em nenhum Monumento nem exibir-se num nível em que já vimos todos os anteriormente citados, ou Gilbert, ou Boonen, nas suas melhores versões.

Pedir que brilhe nos pavés como Cancellara (ou Vanmarcke, ou o melhor Boonen) ou nas Ardenas como Valverde e Gerrans (ou o melhor Gilbert) é demasiado para alguém que acaba de cumprir 25 anos? Talvez. Mas para alguém que está há quatro anos entre a elite da elite, parece-me justo.

Em 2014 vimos algumas vezes Sagan prejudicado pela debilidade da sua equipa. Em 2015 dá-se uma mudança de paradigma. A mudança da Cannondale (a antiga) para a Tinkoff, um conjunto bastante mais forte, retira-lhe (de um modo geral) importância dentro da equipa na Volta a França, deixando de ser o centro de todas as atenções. Mas poderá ter um maior apoio nas clássicas da primavera, e até mesmo em algumas jornadas do Tour mais ao seu jeito.

No princípio de cada temporada, não faltam pontos de interesse. Este não será dos principais, mas desperta-me particular curiosidade ver até onde vai a progressão do eslovaco, para a qual 2015 pode ser decisivo. É que, em condições normais, ainda teremos quase uma década de Sagan. Se consegue dar o salto que esperam as previsões mais otimistas, não há barreiras para as suas conquistas.

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Questões para a Primavera:
Até onde chega Peter Sagan?
Ainda resta uma grande vitória a Tom Boonen?
E se Alexander Kristoff for o homem desta Primavera?
O que falta para Sep Vanmarcke vencer?

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