terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vai dar uma grande Vuelta


Somos raros. Gostamos e seguimos um desporto em que se luta pela transparência. Na televisão, vemos notícias de futebol, uma organização ao estilo de Don Vito Corleone ou qualquer outro mafioso: “não te cobro nada, ficas a dever-me um favor e pagas-me quando eu decidir”. A esse tema, já lá vamos, porque vai dar uma grande volta e antes vamos à Vuelta.
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É bem mais interessante e uma das minhas corridas favoritas. Pouco vi do contra-relógio nocturno mas quem viu na estrada diz que foi um espectáculo. De qualquer forma, primeira camisola vermelha para Cavendish, que no dia seguinte perdeu a etapa para Hutarovich. Que seja desconhecido por alguns adeptos, é normal. Que seja desconhecido de jornalistas de ciclismo, não, de forma alguma. Quando se tem 6 ou 7 dos melhores sprinters mundiais presentes e ganha o Hutarovich, pode chamar-se de surpresa, mas daí até dizer que ganhou um desconhecido vai uma boa diferença. Sendo 5º, o Manuel Cardoso mostrou que tem capacidade para estar entre os melhores sprinters, algo que nós já sabíamos.
A etapa de ontem vem no seguimento duma política que gosto na Vuelta e bem precisava de ser seguida pelo Giro: não dar muitos quilómetros a etapas que não precisam de muitos quilómetros. Se se sabe de antemão que a etapa é para uma fuga inicial ser alcançada perto do fim, qual a diferença entre ter 200-230 ou 150-185 km? A diferença é que é menos uma hora de seca para os ciclistas e adeptos e média mais alta. Os números falam por si: no Giro eram 9 etapas com mais de 200 km, na Vuelta são apenas 2 com mais de 200 e apenas 4 com mais de 190 km.
Vitória de um super Gilbert que quer ganhar o Mundial mas se calhar antecipou-se no pico de forma. Hoje, mais uma etapa com final numa colina, agora com vitória de Anton, um rapaz de 27 que em 2008 estava a lutar pelos primeiros lugares da prova e em grande forma mas caiu na etapa do Angliru. Este ano, já bateu o Contador na montanha, na Volta a Castela e Leão, o que mostra bem a sua qualidade. Olho com ele!
Nestas duas etapas, além do Antón, também o Joaquim Rodríguez e o Nibali se mostraram em forma e o Menchov, o Frank Schleck e o Mosquera estiveram dentro do esperado. O Kreuziger ficou para trás hoje a descer e o Andy Schleck perdeu uma enormidade de tempo mas, tendo em conta que já tinha dito que não estava em Espanha para disputar a geral, nada de estranho, embora eu acreditasse que ele demoraria mais tempo a mostrar a falta de forma.
No Tondo não se nota a falta de competição, enquanto o seu colega Sastre se faz notar pela falta de capacidade (pelo menos, actual) que todos já deviam esperar.
Do Vandevelde e o Intxausti esperava mais mas não estão praí virados, ao contrário de Roche, Van Garderen e Peraud, que me despertavam alguma curiosidade e têm estado bem (muito bem no caso dos 2 primeiros).
Para acabar o tema Vuelta por hoje: seguem-se três etapas para sprinters. Carrega Manel!
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Voltemos ao tema inicial. Uma marca do ciclismo é a sua luta contra o doping. Citando de cabeça um amigo meu (Daniel Sánchez, RP da Footon), “o ciclismo é mais limpo que os outros porque luta como nenhum e para mim isso é indesmentível”. Citando alguém do meio do ciclismo (não digo o nome porque não tenho a certeza), “se a GNR fizer 100 testes do balão, tem mais hipóteses de apanhar alguém do que se fizer 10”. É isto que se passa no ciclismo. Ou melhor, no ciclismo não se passa nada. Passa-se é na generalidade dos desportos, como no futebol, onde quase nada se faz contra o doping e, quando se faz, são todos amigos contra a ADoP e o Luís Horta. Por o Carlos Queiroz ter mandado a brigada anti-doping ir fazer as análises para a zona vaginal da mãe do Luís Horta em palavreado menos simpático, até o Luís Filipe Vieira e o Pinto da Costa são testemunhas de defesa. No caso do primeiro, tem o Luís Horta como inimigo desde o caso Nuno Assis e no caso do segundo… nada como alguém possuidor de honestidade, honra e outros valores semelhantes.
Quanto à SIC, que já tinha lançado o Gato Fedorento, lançou hoje o Carlos Queiroz para o mundo da comédia através de uma entrevista. Diz que 7h30/7h45, é um horário sem sentido para um controlo surpresa. Quantos ciclistas já foram controlados antes disso? Para o Queiroz, o melhor deve ser agendar uma reunião a combinar hora. Um dos argumentos de defesa que usa é que “estava no sítio errado à hora errada”. Anotem este argumento porque pode ser muito útil. Imaginem que são apanhados no radar a 160 km/h. O que dizem? “Estava no sítio errado à hora errada”.
Diz também que podiam muito bem ter esperado meia hora, uma hora ou até hora e meia. Segundo este professor licenciado e mestre em Educação Física, “não fazia diferença”. Claro que não. Era tempo suficiente para qualquer mascarante. Deve ter tirando um curso como o outro engenheiro.
Por fim, usar como argumento de defesa que o Alex Ferguson (treinador do Manchester United) disse que faria o mesmo ou pior, está ao nível de uma desculpa de escola primária.

3 comentários:

  1. Sem dúvida. Está muito bem escrito essa do futebol. Parabéns. É triste confirmar que o ciclismo faz tudo para lutar contra o doping e é quem leva com o desporto de dopados. E outros desportos que nada fazem se ficam a rir e não se passa nada.
    Quanto à Vuelta, está realmente a ser muito boa. E acho que podemos continuar a esperar grandes etapas.

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  2. Eu também sou a favor de quilometragens mais curtas nas etapas. Uma etapa com final ao sprint não tem que ter 200 quilómetros, da mesma forma que etapas duras de montanha não precisam de ter essa barbaridade de quilómetros. Uma coisa é haveram 2 ou 3 etapas com mais de 190 kms, outra é haverem meia dúzia. Para distâncias grandes há as clássicas da Primavera.

    O Gilbert já perdeu a liderança, será que é por pecar psicológicamente? Hum, não me parece. EU até acreditava que ele não perdesse muito tempo em Xorret, já que não é uma subida muito dura. De qualquer forma, o Gilbert está muito longe de ser um Voltista, portanto podemos dizer que ontem, em Xorret, houve quem estivesse pior. A luta parece ser entre Nibali e Antón, com Rodríguez ao barulho. Depois há Mosquera e Menchov. Tondo vem colocar mais reticências na pergunta "O que fariam os ciclistas que correm em Portugal lá por fora?". E, para ajudar maisà ideia de que por cá não há só vegetais, ainda está por aí o Plaza. Para o ano ainda pode ser mais engraçado, também deve haver Blanco.
    Quem pela calada vai enchendo o currículo é o Moncoutié. Desde que o vi vencer, há uns anos, no dia da Bastilha, gravei o nome dele. Um dos melhores franceses que por aí há.
    O Manuel Cardoso depois de um 5º lugar, que quase soube a vitória, tem estado em branco. Que ao menos ganhe rodagem, ele ainda há-de ter muitas vitórias na carreira.

    Quanto ao Queiróz, tu devias era ter um programa de stand-up comedy.

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  3. Obrigado aos dois pelos comentários. Porque, em artigo própria, ainda vou analisar as etapas da Vuelta entretanto disputadas, só tenho a dizer uma coisa ao Zé. Stand up comedy, em Portugal, é muito difícil. Todos os meios de comunicação optam por transmitir excertos da Assembleia da República e dos comícios partidários. É humor de excelente qualidade a baixo preço.

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