Monte Zoncolan é sinónimo de grande sofrimento para os ciclistas e grande espectáculo para o público (o sofrimento dos atletas e a satisfação do público andam de braço dado, porque é isso que os telespectadores pedem). Assim foi em 2003, 2007, no ano passado e teria tudo para ser este ano, bastando para isso que o final fosse neste ponto que já é um marco do Giro d’Itália. No entanto, a organização decidiu complicar.
Igor Antón conquistou hoje uma excelente vitória, tanto para ele como para sua equipa e para quem gosta de ver ciclismo. Porém, a vitória não foi no percurso que estava estipulado à partida deste Giro nem no que estava estipulado à partida para a etapa de hoje, mas sim numa terceira alternativa. O que ganhou a RCS Sports com o Monte Crostis? Caos!
O Caos do Crostis
Quando definiu o percurso para este Giro, a RCS Sports decidiu colocar a prova a passar por um tal de Monte Crostis, uma duríssima subida de primeira categoria que poderia dar um final espectacular. O problema é que, depois dessa subida, haveria 40 quilómetros a percorrer até ao Monte Zoncolan, incluindo oito em caminho de cabras.
Aqui em baixo, está o vídeo da descida do Monte Crostis, já com as normas de segurança adoptadas pela organização, de modo a que diminuísse o risco dos corredores rebolarem ribanceira abaixo. As curvas mais apertadas durante a descida foram protegidas por redes e colchões, nas outras curvas e nas rectas esperava-se que todos tivessem sorte e ninguém caísse. Como não havia condições para os carros de apoio irem lá (é evidente que este caminho não está “acostumado” a muito transito automóvel), havia uma “excelente” solução: cada equipa teria as suas motas de apoio, com um motorista e um mecânico com rodas e bicicleta suplente às costas. Apesar de tantas patéticas soluções, só ontem à noite é que a UCI decidiu que não haveria subida porque não havia substitutos para as ambulâncias… a organização do Giro não tinha solução para isso. Será que já se tinham dado conta desse problema? Se houvesse qualquer problema de saúde no Monte Crostis, o auxílio aos ciclistas não poderia ser feito.
Foi ontem à noite anunciado um plano B para esta etapa, com uma outra subida mais curta e mais segura no lugar do Monte Crostis e antes de se iniciar a subida para o Monte Zoncolan, mas com medo dos protestos do púbico, a quarenta quilómetros do final, houve nova alteração e ficaram a faltar apenas 20 km!
A luta dos favoritos
Ultrapassados todos os problemas, os favoritos começam a subida para o Zoncolan e, depois de um primeiro ataque de Joaquin Rodríguez (Katusha), foi Igor Antón (Euskaltel) a desferir o ataque decisivo, ainda a mais de seis quilómetros da meta, alcançou os fugitivos e manteve a distância de segurança para os outros candidatos ao pódio. Candidatos ao pódio porque para a vitória dificilmente alguém fará frente a Alberto Contador (Saxo Bank). Por agora leva mais de 3 minutos para o segundo, Nibali (Liquigas), e tem demonstrado ser o mais forte. Só um dia maus lhe retirará a vitória.
Depois do que se tem visto nas etapas de montanha, Nibali e Antón são os mais fortes candidatos a acompanhar Contador no pódio, pois Scarponi (Lampre) não está na sua melhor forma e o normal será piorar com o passar dos dias, pois entrou nesta prova já com muitas corridas disputadas em forma. Menchov (Geox) apenas hoje mostrou o melhor de si e ainda deverá ir a tempo de um lugar dentro dos 5 melhores, mas mais do que isso parece difícil. John Gadret (Ag2r) está ao nível de 2006, quando estava a ser dos melhores nas montanhas da segunda metade da prova mas teve que desistir por queda grave. O seu colega Hubert Dupont também está a ser uma agradável surpresa para os primeiros lugares da geral e Tiago Machado, depois de alguns dias maus e de uma queda num caminho de cabras da primeira semana, está agora a lutar por um lugar nos vinte primeiros (é 25º). Apesar disso, não nos podemos esquecer das grandes prestações que teve antes do Giro e das alegrias que nos deu.
O avião dos sprinters
No que a sprinters diz respeito, esta Volta a Itália já terminou. Na quinta-feira houve a última etapa para eles e depois disso voltaram para casa Mark Cavensih e o seu lançador Mark Renshaw, Alessandro Petacchi e Danilo Hondo, Ventoso, Ciolek, Appollonio, Sacha Modolo, Manuel Belletti. Manuel Cardoso é dos poucos que continua lá… mas para quê? Não vale a pena os velocistas andarem mais de uma semana nas montanhas a desgastarem-se em vez de se pouparem para os objectivos que ainda estão para vir.
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Nos EUA está a disputar-se a Volta à Califórnia, que já é uma prova super importante e dentro de 5 anos poderá ser uma prova de referência ao nível do Giro. Os EUA são um grande mercado para muitas empresas e cada vez há mais patrocinadores interessados em ter lá grandes resultados. Para as equipas norte-americanas como Radioshack ou Garmin já nem há dúvidas: primeiro a Califórnia e só depois o Giro. Só a HTC ainda equilibra o plantel entre as duas provas. Mas fora dos EUA também já há equipas muito interessadas neste mercado, como a Leopard que envia Andy Schleck, a Liquigas-Cannondale (mais pela Cannondale do que pela Liquigas) de Sagan, a Saxo Bank de Haedo, Cooke e Larsson ou a Rabobank de Michael Matthews e o tri-campeão muncial Óscar Freire. Se o Giro continuar a tratar os ciclistas como gladiadores, não tenho qualquer dúvida de que passará a ser secundário para muitas equipas. Relembro que o Tour Down Under também não era nada há 5 anos atrás e hoje é o que é, mesmo não tendo etapas de montanha nem contra-relógio.
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