sexta-feira, 1 de julho de 2011

O que esperar dos primeiros dias de Tour?

No artigo anterior, falei naquilo que se pode esperar desta Volta a França no seu geral. Pois desta vez, venho falar das etapas que se disputarão durante a primeira semana de prova e daquilo que delas se poderá esperar. Entre elas, um contra-relógio colectivo, três chegadas para sprinters, três chegadas selectivas, uma etapa bastante acidentada e uma para enganar os sprinters mais puros. Sem dúvida, etapas para todos os gostos.

Além da habitual troca de líder da montanha, durante esta semana a classificação dos pontos e a própria classificação geral deverão mudar várias vezes de líder. Ora vejamos:

Etapa 1: Quem será o primeiro líder?

Gráfico da 1ª etapa
Tal como em 2008, este Tour começa com uma etapa em linha e, tal como em 2008, essa etapa termina numa colina, desta feita de quarta categoria. Quando as etapas são para sprinters, equipas como a HTC de Cavendish, a Garmin de Farrar e Hushovd e a Lampre de Petacchi, apenas para citar alguns, sabem que basta impor um ritmo fortíssimo, também sabem como colocar os seus homens mais rápidos nas melhores posições e por fim resta confiar neles. Numa chegada como esta, mais difícil de prever, talvez não haja tantas equipas dispostas a assumir o controlo do pelotão, pois a chegada tanto se encaixa num especialista em clássicas como Philippe Gilbert ou Damiano Cunego, como num sprinter que aguente bem as pequenas subidas como Hushovd, Matt Goss ou José Joaquin Rojas. A Omega-Lotto tudo fará para controlar a corrida e levar Gilbert à vitória, depois das três vitórias nas Ardenas e do recente título nacional, mas será fundamental que consigam impor um ritmo forte até ao ataque de Gilbert para evitar os aventureiros do costume, como Thomas Voeckler, Christophe Kern, Thomas De Gendt, Sylvain Chavanel ou outro qualquer, porque certamente serão muitos a sonhar com um dia de amarelo no Tour.

Etapa 2: O contra-relógio colectivo

Com apenas 23 km de extensão, o contra-relógio colectivo não deverá fazer grandes diferenças de tempo, mas ainda assim algumas equipas mais fracas poderão perder até um minuto. Em princípio, haverá alteração de camisola amarela, pois não há bonificações nas etapas em linha, a primeira deve criar pequenas diferenças e essas diferenças serão anuladas no segundo dia. Radioshack é a claríssima favorita à vitória, seguindo-se Leopard, Garmin, HTC, Rabobank e Sky, não necessariamente por esta ordem. A Radioshak dificilmente vencerá a primeira etapa e entre os ciclistas das outras formações mencionadas apenas Hushovd ou Goss me parecem capazes de vestir a amarela no primeiro dia e a segurar no segundo se a equipa estiver á altura.

Etapa 3: A primeira para puros sprinters

Mais tarde do que é normal, este ano apenas ao terceiro dia de prova os velocistas como Mark Cavendish, Tyler Farrar, Alessandro Petacchi ou André Greipel terão a sua primeira oportunidade de brilhar. Não há muito a dizer sobre esta etapa, da qual se espera uma chegada em pelotão compacto. Será interessante ver como as equipas dos sprinters abordam o sprint intermédio (este ano darão 20 pontos ao primeiro classificado) ou como os primeiros classificados do primeiro dia o farão. Se o vencedor de sábado for um ciclista com poucas hipóteses de vencer esta etapa, poderá ir ao sprint intermédio à procura de mais alguns pontos para segurar a camisola verde.

Etapa 4: Para os homens-Tour actuarem?

Gráfico da 4ª etapa
A quarta etapa tem um final mais selectiva que a primeira, terminando numa subida de terceira categoria com dois quilómetros de extensão e quase 7% de inclinação. Haverá mais espaço para ataques dos trepadores ou ciclistas de classificação geral e, se por um lado é verdade que vestir a camisola amarela muito cedo pode ser um presente envenenado, obrigando a ir à cerimónia de pódio todos os dias e atrasando o início da recuperação, por outro lado quem estiver forte no início do Tour terá que aproveitar essa vantagem. Uma grande volta não se decide num dia… vai-se decidindo, mas há sempre ciclistas a entrar mal em prova e os mais preparados terão que tentar aproveitar. Nomeadamente gente como Damiano Cunego ou Jurgen Van Den Broeck, que durante Junho se mostraram fortes, poderão ganhar segundos a Samuel Sánchez, que esteve apagado no Critérium du Dauphiné, ou a Alberto Contador, que apenas competiu dois dias desde o Giro e poderá sentir falta de ritmo. Cada segundo conta.

Etapas 5, 6 e 7: Sprinters ou fuga?

Final da 6ª etapa
O cenário mais provável para estas etapas é aquele a que já estamos super habituados: a equipa do líder controla, à distância, uma fuga inicial, deixando depois a cabeça do pelotão para as equipas dos sprinters. Se a camisola amarela estiver num ciclista da Leopard (o contra-relógio e a 4ª etapa poderão levar a essa situação), então as equipas dos sprinters terão que trabalhar mais cedo, pois a Leopard (ou a Saxo Bank, mas será mais difícil estes terem a liderança tão cedo) deverá preferir perder essa camisola do que estar a desgastar-se na frente do pelotão desde os primeiros dias. Independentemente disso, o mais provável será etapas a terminar ao sprint, mas não faltará gente a tentar contrariar essas previsões, principalmente nas equipas francesas.
A sexta etapa tem a particularidade de ter uma rampa, com final a 1500m da meta, que certamente se fará notar e eliminará alguns sprinters.

Etapas 8 e 9: O Maciço Central

Perfil da 8ª etapa
A chegada da oitava etapa, em Super Besse, será a mais selectiva da primeira semana, como mostra o gráfico ao lado. O final será diferente do de 2008, onde Riccardo Riccò foi primeiro, mas certamente fará diferenças entre os vários favoritos, ainda que sejam diferenças de apenas alguns segundos. 
A nona terá final numa rampa de quarta categoria e será a jornada com mais contagens de montanha ao longo da primeira semana. Por isso mesmo, espera-se uma interessante luta pela camisola da montanha, ainda que estes pontos de pouco valham quando aparecerem as chegadas em alto.

Que comece o espectáculo! Boa sorte para todos os participantes!

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As sondagens lançadas no dia 20 de Julho já foram encerradas e muito me agrada ter 45 votos. Ao que parece, as opiniões estão muito divididas quanto à proibição de ex-suspensos por doping pertencerem ao staff de equipas. 48% concorda com a proibição, 40% não concorda. Na outra sondagem não há tanta divisão: 47% concorda que sejam proibidos de representar as suas selecções e de participar nos Nacionais, 15% concorda que sejam proibidos de correr pela selecção mas entende que devem ser autorizados a correr os Campeonatos Nacionais e apenas 25% se opõe à medida.

Relativamente a este tema, em Espanha, o secretário de Estado para o Desporto pretende afastar das selecções nacionais os implicados em assuntos de doping. Não é uma medida para o ciclismo espanhol. É uma medida para todo o desporto espanhol!

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O Jornal Ciclismo, que cada vez tem mais notícias mas menos qualidade, escreveu um artigo intitulado “Apenas Bruno Pires respeitou adeptos portugueses”. Nem sei muito bem como classificar tal artigo. De mau gosto? Um disparate? Uma brincadeira? Não sei.
Eu gostaria muito de ter visto o Rui Costa e o Tiago Machado a lutarem com o Nelson Oliveira pelo título de contra-relógio, ou de ver eles, o Manuel Cardoso e o Paulinho na prova em linhas, mas sei que são profissionais, pagos por uma equipa. Como tal, têm que defender os interesses dos seus patrões e dos seus patrocinadores. O Paulinho não foi aos Nacionais? Pois não, porque está em descanso para a Volta a França, e pelo mesmo motivo não foram os seus colegas Klöden, Popovych, Zubeldia, Irizar e Muravyev. Os Campeonatos dos EUA já foram há algumas semanas e portanto Horner e Leipheimer também não correram no fim-de-semana passado, sendo a única excepção Brajkovic, que correu o contra-relógio na Eslovénia. Será que todos eles se ausentaram dos nacionais por desrespeito aos seus adeptos ou por obediência para com as suas equipas?

Já sobre o Tiago Machado e o Manuel Cardoso, não tenho a certeza, mas muito provavelmente os seus directores optaram igualmente por os deixar de fora e concentrarem-se na preparação dos próximos objectivos. É que ganhar o Campeonato Nacional de Portugal, não faz parte dos objectivos da Radioshak e os seus ciclistas não têm que se preparar para eles. Iriam participar em má forma para quê? Para depois serem criticados de igual modo?

O Rui Costa está em situação idêntica à do Sérgio Paulinho: vai ao Tour e a equipa disse-lhe para não correr. É verdade que os seus colegas correram em Espanha, mas a situação é diferente. Em primeiro lugar, porque com 17 ciclistas em prova é mais fácil montar uma estratégia e as hipóteses de vitória eram grandes. Em segundo, porque uma vitória nessa prova seria muito importante para os seus patrocinadores, como certamente terá sido a de JJ Rojas e continuará a ser até passar a camisola a outro, em Junho de 2012.

Já agora, referir que a Radioshack e a Nissan anunciaram a continuação do patrocínio à equipa até 2013, podendo assim os nossos emigrantes renovar os seus contratos por mais dois anos.

1 comentário:

  1. Olá!
    Quero falar apenas do tour.
    Como temos visto o Alberto Contador já começou a perder algum tempo por azar assim como os corredores portugueses.
    O Andy Schleck na minha opinião o grande favorito à vitória, ainda não deu para ver se está em grande esperemos mais uns dias até começarem as verdadeiras montanhas e penso seriamente que este ano será o grande vencedor.
    Aos sprinters penso que o Cavendish vai conseguir vencer algumas etapas(mas não tantas como em anos anteriores).
    E para provas de colinas e clássicas será o Philipe gilbert, que já o fez na primeira etapa.
    Cumprimentos

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