Fábio Silvestre e José Gonçalves, dois bons exemplos da formação portuguesa e merecedores de oportunidades |
O objectivo da União Ciclista Internacional é claro: as
equipas continentais, além da competição, devem ter como objectivo a formação.
Temos aliás duas equipas continentais a correr em Portugal que se enquadram
perfeitamente nesta filosofia, a Itera-Katusha, equipa satélite da Katusha, e a
Orbea, equipa satélite da Euskaltel. Da Orbea saíram, por exemplo, Samuel
Sánchez, Igor Antón, Mikel Nieve e Jonathan Castroviejo, entre muitos outros
que construíram ou estão a construir carreiras de sucesso. Ausente desta Volta
mas bem conhecida é a Rabobank Continental, onde começaram, por exemplo, Robert
Gesink, Bauke Mollema, Lars Boom ou Tejay Van Garderen.
Em Portugal, em vez de procurar bons jovens, as equipas
preferiram procurar formas de contornar a lei. Primeiro foi a Libery Seguros a
inscrever massagistas abaixo dos 28 anos como ciclistas, sendo depois seguida
por várias outras equipas, incluindo a Barbot de Carlos Pereira (actual Efapel)
e o Boavista de José Santos, que se diz tão defensor da aposta nos jovens. E é
sempre bom lembrar que em Loulé até o filho do presidente foi inscrito como
ciclista e que foi gasto dinheiro do Estado em controlos anti-doping a esses
falsos ciclistas. Em Tavira nunca foi necessária essa artimanha, pois a sua
aposta na formação deu resultados como Ricardo Mestre, David Livramento, Samuel
Caldeira, Henrique Casimiro, Daniel Mestre ou João Pereira, apenas para referir
alguns exemplos recentes.
Sejamos sinceros! 28
anos é um limite perfeitamente aceitável, até porque a UCI não proíbe que se
corra após essa idade. Apenas estipula que a maioria das equipas deve ser
composta por corredores abaixo dessa faixa. Nem todos os ciclistas evoluem
ao mesmo ritmo e muitos até continuam a evoluir depois de cumprirem essa idade,
mas concordará o leitor que, aos 28 anos, já se sabe se um ciclista tem lugar
no pelotão elite ou se deve dar lugar aos mais jovens. Porque, repito, há vagas
para quem tem 28 ou mais anos.
Grande consideração tenho pelo Joaquim Andrade, actual
presidente da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais (APCP). Tem,
aliás, realizado um bom trabalho na presidência da associação, mantendo-se bastante
activo, desenvolvendo e apoiando algumas iniciativas bem interessantes. No entanto,
sou contra esta iniciativa levada a cabo no dia de descanso da Volta.
A APCP organizou uma conferência de imprensa, com as
presenças de Rui Sousa, Filipe Cardoso, José Mendes, João Cabreira, Nelson
Vitorino e Ricardo Mestre a mostrarem-se contra esta lei. Claro que sim, uma
vez que todos já estão a cima dos 28 anos ou ficarão na próxima temporada.
(relembro que, do ponto de vista legal, conta a idade a 31
de Dezembro. Assim sendo, em 2012 consideram-se abaixo dos 28 anos os ciclistas
nascidos em 1985 ou depois, visto que os de 84 já completarão 28 antes de 31 de
Dezembro. Em 2013 consideram-se abaixo dos 28 anos os ciclistas nascidos em 86
ou depois.)
Porque não, ouvir os ciclistas mais jovens, aqueles que
precisam de oportunidades e que beneficiam da regra? Para ser justos, teriam
que ouvir quem é “prejudicado” mas também quem é beneficiado.
Esta iniciativa foi bastante defendida no Jornal Ciclismo, da
responsabilidade do professor José Santos, que se diz defensor dos jovens mas
que é contra o actual regulamento, que também se diz totalmente anti-doping mas
tem como chefe-de-fila João Cabreira.
Pedro Paulinho, outro bom exemplo da formação nacional e merecedor de oportunidade |
Há sete ciclistas no actual pelotão nacional que deixarão de
estar abaixo dos 28 anos na próxima temporada, o que significa que, se
continuarem quatro equipas com a actual dimensão, sete dos actuais corredores
terão que abandonar o profissionalismo para dar lugar aos mais jovens. Sete,
entre os seguintes:
Samuel Caldeira, David Livramento, Alejandro Marque, Ricardo
Mestre, Tomas Metcalfe, Luís Silva e Nelson Vitorino (Carmim-Prio); António
Amorim, David Blanco, Filipe Cardoso, Nuno Ribeiro, Sérgio Ribeiro, Rui Sousa e
Sérgio Sousa (Efapel-Glassdrive); José Mendes, Edgar Pinto, Hugo Sabido, Enrique
Salgueiro, Bruno Sancho, Hugo Sancho e Vergílio Santos (LA-Antarte); João Cabreira,
David Gutiérrez, Bruno Lima, Hélder Oliveira, Daniel Silva e Célio Sousa
(Onda-Boavista).
De entre estes, escolher sete é um grande sacrifício? Eu
diria que é fácil escolher sete e até relativamente fácil escolher mais um ou
dois se assim fosse necessário.
As equipas precisam
de homens para a montanha, precisam de sprinters e precisam de experiência, mas
muitas vezes a experiência também é dada pelos homens da montanha (como
Nelson Vitorino, Mestre, Rui Sousa, Sabido ou Vergílio Santos) ou por sprinters (como o Sérgio
Ribeiro). De resto, há sempre espaços
que podem ser preenchidos por jovens. Nunca é fácil deixar partir um membro
da equipa, mas actualmente o ciclismo também não garante a grandes condições de
vida à maioria destes homens e está na altura de alguns abandonarem à
modalidade e darem lugar aos mais jovens.
Jovens sub-23 ou a passar a elites e com talento há muitos.
Afinal de contas, é assim que começam
casos como Rui Costa, Manuel Cardoso, Tiago Machado, Sérgio Paulinho, Nelson
Oliveira ou André Cardoso, todos eles conquistando um lugar World Tour ou
Continental Profissional antes dos 28 anos. Excepção são Hernâni Brôco e Bruno
Pires, que cumpriram as últimas temporadas em Portugal com 30 e 29 anos
respectivamente. Mas a UCI não é contra isto. Ao contrário do que algumas
pessoas tentam fazer parecer (para manipular a opinião pública), a UCI não se
opõe a que ciclistas com mais de 28 anos corram. Apenas pretende que a maioria
da equipa seja composta por jovens abaixo dessa idade, tal como já referi no
começo.
E da mesma forma que não
é fácil deixar partir um membro da equipa, não é fácil para jovens talentosos
abandonarem o seu sonho apenas porque as equipas portuguesas não apostam na
juventude.
De facto, considero que esta manifestação não é a coisa mais acertada.
ResponderEliminarDeixo aqui uma questão:
As equipas continentais profissionais também tem limite de idade?!
É que se não têm vejo aqui a oportunidades para eles, e quando digo para eles é evidente que não são todos, porque alguns até questiono a sua qualidade para pertencerem às equipas nacionais em detrimento de mais jovens.
Agora como eles entram nessas equipas?! Através de duas possibilidades, um projecto português (o que é quase impossível), ou indo para equipas estrangeiras.
Obrigado pelo comentário.
ResponderEliminarCaro Anónimo, as equipas continentais profissionais não têm limite de idades. Parece que está de acordo comigo: os maiores de 28 anos e que não conseguem dar o salto para equipas continentais profissionais, uns deverão continuar, mas não todos, para dar oportunidade a outros jovens que talvez consigam lá chegar.
Cumprimentos
Não posso de modo algum pactuar com esta política..o ciclismo não pode seguir o exemplo do futebol em que muitos consideram que um futebolista quando atinge os 30 anos de idade pouco tem para dar. Na minha opinião os jovens corredores se tiverem qualidade é claro que devem ter lugar nas equipas mas o mesmo serve para os veteranos que se obtém bons resultados e são úteis devem também permanecer nas equipas..há lugar para todos, esta é a minha opinião e a regra da UCI é que está errada. Não nos podemos esquecer que um ciclista só começa atingir o auge, maturidade ciclistica e o mostrar de todo o seu potencial precisamente apartir dos 28/29 anos...as Voltas a França não se ganham com 24/25 anos (salvo raras excepções) mas sim em idades mais avançadas e não é preciso recuar muito para termos exemplos desses (Cadel Evans aos 34).
ResponderEliminarPengo, mas a UCI não proíbe que se corra após os 28 anos, caramba! A UCI apenas diz que a maioria das equipas continentais deve ser composta por ciclistas abaixo dos 28 anos. Se tiverem 7 corredores abaixo dessa idade (como tem o Tavira), podem ter 6 acima e independentemente da idade (incluindo o Nelson Vitorino e os seus 37 anos).
ResponderEliminarEu sei mas acho que o critério de ter ciclistas com maior ou menor idade devia ser de cada equipa e não uma imposição da UCI! É a essa regra que me refiro..
ResponderEliminarCConcordo plenamente com esta regra da UCI. Todos fazem dela um bicho papão, quando de facto, é muito mais simples do que parece.
ResponderEliminarEsta é uma medida que foi criada para defender a formação. É certo que, as equipas continentais, nem todas tem essa visão (de "formação"). De qualquer maneira, não há forma mais simples de não ter problemas com a regra. Todos os anos substituir todos aqueles que saírem por ciclistas vindos por exemplo dos sub23. O problemqa resolve-se em 3 tempos. Criam-se talentos, ganha-se na imagem da equipa, ganha também a modalidade, pois transforma o sistema sustentável.
Abraço Rui continuação de excelentes posts ;)
Esta porra é mesmo à portuga tapadinho, vê se mesmo que desde que abriram as fronteiras ao mundo, vive-se este novo riquismo, até de mentalidades.
ResponderEliminarDesde quando é que é mais importante ter atletas já feitos! porque sai mais barato? então quem tiver mais dinheiro ganhará tudo, é como no futebol, é só comprar!
abram mais é os olhos e essas mentes pequenas, porque graças a deus que a UCI obriga a ter uma percentagem de jovens nas equipas, assim sempre haverá uma chance maior de haver formação, que é coisa ... inexistente ... por assim dizer, é pena esta regra não se estender ao btt e etc, que anda tudo a tentar agarrar os velhos do que a formar gente nova!
Pelotão profissional = a masters, isto é que é com cada um, só visto! e nem ler saber, maioria! não são todos...