quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A oportunidade de Joaquim Rodríguez. É desta?

Joaquim Rodríguez de vermelho... até quando?
Joaquim Rodríguez conseguiu manter a liderança da Vuelta a España no único contra-relógio da prova. Isso mesmo: Joaquim Rodríguez lideram uma grande volta e já não tem nenhum contra-relógio pela frente. Será desta que o catalão vence uma grande volta? Aos 33 anos, e tendo em conta o tempo que costuma perder nos contra-relógios planos, esta deves er a melhor oportunidade de Purito para vencer uma prova de três semanas. Alberto Contador e Chris Froome são os maiores rivais. Os portugueses devem passar ao ataque!

A sua carreira mudou com a ida para a Katusha, em 2010, já com 31 anos. Pela Caisse d'Epargne de Eusebio Unzue tinha sido 6º e 7º nas duas últimas Vueltas (e bronze nos Mundiais 2009 pela selecção), mas estava na sombra de Alejandro Valverde e Luis León Sánchez. Foi no primeiro ano na equipa russa que se estreou no Tour vencendo uma etapa, sendo terceiro na etapa rainha, no Col du Tourmalet, e oitavo na geral. Apesar do péssimo contra-relógio, só perdeu uma posição nesse dia, bem diferente do que aconteceria depois na Vuelta. Rodríguez foi para o único contra-relógio da prova (46 km na 17ª etapa) na liderança e caiu para 5º, perdendo até mais de dois minutos para Frank Schleck. Chegou a ser agoniante vê-lo sobre a bicicleta, como se fosse a primeira vez que montava uma cabra.

Após aquela Vuelta, Rodríguez tomou uma decisão bem clara. A partir dali, que se lixem os top-10 no Tour,  importante é vencer uma grande volta, seja ela qual for. E se fossem o Giro e a Vuelta a terem menos contra-relógio, seria nessas que apostava. Foi uma decisão que apoio a 100%, pois oferecem mais ao ciclismo homens como Rodríguez a dar guerra no Giro e na Vuelta do que como o Andy Schleck a apostar tudo na prova-rainha e a limitar-se a passear o dorsal durante o resto do ano.

Foi assim em 2011, terminando em 5º no Giro (que poderia ter sido um posto melhor se não chegasse à prova com a forma tão atrasada) e 19ª na Vuelta (disparando muito ao lado na preparação física), e está a ser em 2012. Olhando para a enorme quilometragem dos contra-relógios do Tour, não havia outra hipótese a não ser voltar a centrar-se no Giro e na Vuelta. No Giro esteve excelente, vencendo duas etapas e liderando durante 10 dias, até ao contra-relógio final, onde caiu para segundo. Terminou a 16 segundos de Hesjedal na geral, perdendo 14 segundos para o canadiano no prólogo e 47 no contra-relógio final. A Vuelta era (e é) a oportunidade seguinte de alcançar o muito ambicionado objectivo.

Rodríguez tinha contra si o contra-relógio de hoje, com quase 40 km. Porém, ainda que o contra-relógio seja o seu calcanhar de Aquiles*, este até deixava antever que se pudesse defender, já que tinha dez quilómetros de subida e quase outros dez de descida relativamente técnica, o que lhe assenta bem pois é um dos melhores do pelotão neste campo. Perspectivava ele perder entre 2:30 e 3 minutos e acreditava eu que poderia, num bom dia, perder apenas 2 minutos e continuar na luta pelo pódio, mas perder apenas 59 segundos para Contador e 37 para Chris Froome é uma surpresa para toda a gente.

A camisola vermelha mantém-se assim no corpo de Joaquim Rodrígiez, com 1 segundo de avanço para Contador, 16 para Froome e 59 para Valverde, estando Gesink já a 2.27 na quinta posição. A seu favor tem as bonificações, onde já conquistou 36 segundos contra 6 de Contador e 12 de Froome**, a etapa de amanhã (que teoricamente lhe assenta melhor que à concorrência) e um grande gregário chamado Daniel Moreno; contra si tem o facto de Contador ser teoricamente mais forte nas subidas longas. Além disso, Contador deverá fazer uma Vuelta em crescente de forma e será cada vez mais perigoso. Já Froome, parece estar em sentido inverso.

Tugas, passemos ao ataque!


Relativamente aos portugueses, está na hora de André Cardoso, Tiago Machado e Hernâni Brôco passarem ao ataque. Agora que não têm hipóteses de chegar ao top-10 (André Cardoso perdeu muito tempo no contra-relógio, Machado e Brôco já tinham perdido condicionados por quedas), não resta outra alternativa a não ser a luta por vitórias em etapas e certamente haverá etapas de montanha vencidas por fugitivos. As de sábado, domingo e segunda oferecem grande "risco" de uma fuga vingar, bem como as de quarta e sexta-feira da próxima semana. É uma questão de tentar e ter alguma sorte.

Manuel Cardoso tem feito uma Vuelta interessante mas ainda não esteve verdadeiramente na discussão de nenhuma etapa, notando-se a falta de alguém que o coloque na melhor posição nos quilómetros finais. Terá que apanhar a roda certa e manter-se lá até ao mais próximo da meta possível.

Bruno Pires e Sérgio Paulinho continuarão no trabalho da praxe.

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Notas:

*Fica aqui a curiosidade sobre a diferença entre "calcanhar de Aquiles" e tendão de Aquiles". Segundo a mitologia grega, Aquiles era invulnerável em todo o corpo, excepto no calcanhar, e foi derrotado por uma flecha que lhe atingiu essa parte do corpo. Então, "calcanhar de Aquiles" é uma expressão que representa "a maior fraqueza" de alguém e "tendão de Aquiles" é um tendão do corpo humano. Assim sendo, é correcto dizer «o contra-relógio é o seu calcanhar de Aquiles» mas é incorrecto dizer «o contra-relógio é o seu tendão de Aquiles», é correcto dizer «lesionou-se no tendão de Aquiles» porque cada um tem o seu, mas é incorrecto dizer «lesionou-se no calcanhar de Aquiles», porque esse só poderia doar ao próprio Aquiles. Fica a curiosidade, para cultura geral.

** Relembro que nesta Vuelta as bonificações são de 12, 8 e 4 segundos na meta, 6, 4 e 2 nos sprints intermédios.

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