Durante as onze etapas da Volta a Portugal, houve quem
estivesse em constante destaque, houve quem entrasse na sombra e tenha
conquistado o seu lugar ao sol e houve quem tenha tentado do princípio ao fim
mas sem sucesso. Aqui fica a análise e avaliação às figuras desta Volta a
Portugal, bem como duas menções de honra.
10
David Blanco,
como habitual, no lugar central do pódio da Volta. Defendeu-se na Senhora da Graça,
atacou forte e ousadamente na Torre e no contra-relógio foi o melhor dos homens
da geral. Não se podia pedir mais. Volta perfeita.
9,5
Efapel-Glassdrive foi a grande dominante |
Uma Volta a Portugal de altíssimo nível para Rui Sousa, que é terceiro na geral,
vence na Senhora da Graça, é segundo na chegada à Torre e leva a classificação
da montanha. Ao contrário do ano passado, em que fez a subida à Torre para os
seus próprios interesses, este ano teve que atacar cedo para acabar com a LA Alumínios/Antarte.
Se assim não fosse, talvez tivesse feito ainda melhor, mas os “se’s” não valem
de nada e, estando na equipa de Blanco, já era espectável que tivesse que se
sacrificar um pouco.
9
Sabido foi 2º e andou 4 dias de amarelo |
Há várias notas 9 a atribuir. Uma delas é para Hugo Sabido, o segundo classificado da
Volta e camisola amarela durante quatro dias. Ficou a faltar-lhe uma vitória em
etapa, ele que foi segundo nos dois primeiros dias e ainda teve um terceiro
posto. Tacticamente fez uma Volta perfeita mas faltou capacidade na Torre.
Agora há que centrar-se na Volta de 2013, ainda com mais confiança e moral. 9
também para os corredores da Efapel-Glassdrive
e para o seu director desportivo Carlos
Pereira. Carlos Pereira montou a estratégia certa, poupando a equipa quando
podia, atacando e assumindo as responsabilidades quando assim tinha que ser,
como já vem sendo hábito nos últimos anos. Apenas tenho lido algumas (poucas)
críticas quanto à etapa da Torre, por Nuno Ribeiro e Sérgio Ribeiro terem
atacado quando os colegas Blanco e Rui Sousa já iam em posição adiantada. Para
contrariar essas críticas, relembro que na Volta a Portugal não há auriculares
e, como tal, os directores desportivos não podem dar indicações aos seus ciclistas
a todo o momento. Em vez disso, a táctica para a subida à Torre teve que ser
dada antes do momento das decisões. Não sei se foi pedido aos ciclistas que
tentassem rebentar com a LA, se lhes foi dito para atacarem se sentissem os
adversários em dificuldade ou se lhes foi dada liberdade para fazerem a sua
corrida desde que não comprometessem os colegas. Independentemente das indicações
que tinham, o resultado foi bastante positivo para eles, uma vez que
conseguiram colocar a nu as dificuldades de Hugo Sabido.
Van Rensburg levou duas etapas e a camisola vermelha |
9 também para o sul-africano Reinardt Janse Van Rensburg, que chegou a Portugal como um
papa-etapas e saiu daqui com mais duas vitórias para o seu palmarés. Leva
também três segundos lugares e a camisola vermelha dos pontos. Não tem a
qualidade de Peter Sagan mas tem qualidade suficiente para representar uma
equipa World Tour.
8
A UnitedHealthcare
foi a segunda melhor equipa em prova. Sem homens para a classificação geral, dedicaram-se
à luta por vitórias em etapas, marcando presença constante nas principais fugas.
Muitas equipas costumam desculpar a sua falta de atitude com “nós queríamos estar
em fuga mas não é fácil”, desculpa que eu nunca aceito, porque numa prova por
etapas há sempre espaço. Durante as nove etapas em linha da Volta (prólogo e
crono excluídos), a UnitedHealthcare marcou presença na fuga do dia por seis
vezes, nalgumas delas até com mais de um homem. Nos três dias em que não esteve
em fuga, apenas num esteve inactiva, pois nos outros dois esteve a comandar o
pelotão na defesa da amarela de Jay Thomson, e na etapa da Senhora da Graça,
sabendo que iam perder a amarela, estiveram também na fuga do dia. O resultado
desta atitude? Três etapas ganhas (todas em fuga), três dias de camisola
amarela e ainda um segundo lugar. A forma como defenderam a camisola amarela,
também demonstrou um enorme respeito para a prova. Um exemplo para muitas
equipas, incluindo algumas portuguesas.
3 etapas para a UnitedHealthcare |
E nota 8 também para Sérgio
Ribeiro, que este ano não venceu a classificação dos pontos e “só” venceu
uma etapa mas o segundo lugar na Senhora da Graça e o quarto na Torre mostram
uma grande evolução nas subidas. Está na hora de uma equipa estrangeira pegar
nele e o meter a correr provas de maior nível, porque ainda tem idade para
fazer duas ou três boas temporadas além-fronteiras.
7
Daniel Silva foi
quarto e, com a evolução que mostrou no contra-relógio, assume-se como um
candidato à vitória em 2013. Com apenas 27 anos, poderá ter uma boa carreira pela
frente. 7 para o trabalho da LA Alumínios/Antarte
na defesa da camisola amarela de Sabido, desde os estagiários Luís Afonso e
João Correia, que se fartaram de carregar bidões para os seus colegas, a
Vergílio Santos com o trabalho que todos vimos na Torre. Quem também deu
excelentes indicações para o futuro foi o espanhol David de la Cruz, quinto no final, acusando o desgaste no último
contra-relógio.
6
Ao contrário do ano passado, em que tinha André Cardoso,
este ano Ricardo Mestre era a única arma da Carmin-Prio (no ano passado não era “Carmim”, eu sei) para a classificação
geral. Com três quedas nas quatro primeiras etapas, incluindo na jornada da
Senhora da Graça, e uma quarta queda que chegou a assustar, a desistência de
Mestre passou uma pesada factura. A presença em fugas acabou por não ter o
resultado pretendido mas a vitória de Alejandro Marque no contra-relógio torna
o balanço positivo. Balanço positivo com 6 também para a Caja Rural, que venceu uma etapa com Francesco Lasca, a camisola
laranja com De la Cruz, um segundo lugar e mais algum destaque vindo de fugas. Brice Feillu também marcou uma boa
presença na Volta, não só pelo sexto lugar na geral mas também pela sua atitude
atacante. Igualmente nas vistas deu José
Gonçalves, dando seguimento à boa temporada que vem fazendo. Terceiro no
prólogo e no último contra-relógio, faltou-lhe melhor sorte.
5
Desde 2006 que o Boavista não vencia uma etapa na Volta e
também não foi este ano. Valeu o esforço dos homens da Onda-Boavista, constantemente em fuga, com atitude atacante, mas
sem êxito. A falta de sucesso é, em grande parte, consequência dos erros feitos
em Dezembro/Janeiro na construção do plantel. É inaceitável que, apenas com
quatro equipas elite em Portugal, uma delas não tenha nenhum sprinter capaz de
discutir etapas em provas importantes. António Carvalho e Pedro Paulinho estão
no pelotão amador e seriam muito uteis à equipa do José Santos.
3
Depois do insucesso da Senhora da Graça, ainda esteve ao
ataque no dia seguinte e foi essa atitude que impediu o João Cabreira de ter nota mais baixa. Volta muito fraca, como o
resto da temporada.
0
Bruno Lima fez
apenas 100 quilómetros nesta Volta a Portugal. Na RTP, o Marco Chagas disse
tudo: é hora do Bruno procurar o seu futuro noutra área. Perde-se um sprinter
de grande talento mas constantemente acima do peso recomendável e incapaz de
disputar vitórias nas provas de maior destaque. O talento não chega. É para
isso que se querem os sprinters.
Menções
de Honra
Menção a Vergílio
Santos, não só pela etapa da Torre, mas pela sua carreira. Excelente
trepador e sempre com grande entrega para os seus líderes (melhores
contra-relogistas), já no ano passado tinha feito um bom trabalho para Hernâni
Brôco. A certa altura da carreira ainda pensei que se tornaria um líder, mas
não foi assim. Penso até que não tem vitórias enquanto profissional (se alguém
souber de alguma, que me diga sff) e com apenas duas chegadas em alto na Volta
será difícil que consiga um triunfo na prova maior do ciclismo português.
Merecia.
E Menção para Alejandro
Marque. Outro homem de equipa mas muito talentoso, no seu caso, um grande
rolador e contra-relogista. Só em Outubro cumprirá 31 anos, esta época já tinha
vencido uma etapa na Volta às Astúrias (5º na geral), conquistou o bronze nos
Nacionais de contra-relógio e com esta vitória acredito que haja propostas para
ir para uma equipa de categorias superior em Espanha. Bem merece.
Selecção
Nacional
Não posso colocar a selecção nacional na mesma escala que as
outras equipas, pois esta deve servir como formação, sem exigência de
resultados. Porém, a quem já nem conta para a classificação da juventude e a
quem está no último ano antes de passar a veterano A, a esses sim, exige-se
mais e melhor. De resto, sobre as opções e a desorientação técnica desta selecção, já escrevi anteriormente (Paraque serve esta selecção nacional?).
O Alejandro Marque é daqueles ciclistas que se fosse um pouco mais trabalhado e lapidado podia lutar pela Geral de uma Volta a Portugal.
ResponderEliminar