segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Volta a Portugal 2012, avaliação de figuras


Durante as onze etapas da Volta a Portugal, houve quem estivesse em constante destaque, houve quem entrasse na sombra e tenha conquistado o seu lugar ao sol e houve quem tenha tentado do princípio ao fim mas sem sucesso. Aqui fica a análise e avaliação às figuras desta Volta a Portugal, bem como duas menções de honra.


10

David Blanco, como habitual, no lugar central do pódio da Volta. Defendeu-se na Senhora da Graça, atacou forte e ousadamente na Torre e no contra-relógio foi o melhor dos homens da geral. Não se podia pedir mais. Volta perfeita.

9,5

Efapel-Glassdrive foi a grande dominante
Uma Volta a Portugal de altíssimo nível para Rui Sousa, que é terceiro na geral, vence na Senhora da Graça, é segundo na chegada à Torre e leva a classificação da montanha. Ao contrário do ano passado, em que fez a subida à Torre para os seus próprios interesses, este ano teve que atacar cedo para acabar com a LA Alumínios/Antarte. Se assim não fosse, talvez tivesse feito ainda melhor, mas os “se’s” não valem de nada e, estando na equipa de Blanco, já era espectável que tivesse que se sacrificar um pouco.

9

Sabido foi 2º e andou 4 dias de amarelo
Há várias notas 9 a atribuir. Uma delas é para Hugo Sabido, o segundo classificado da Volta e camisola amarela durante quatro dias. Ficou a faltar-lhe uma vitória em etapa, ele que foi segundo nos dois primeiros dias e ainda teve um terceiro posto. Tacticamente fez uma Volta perfeita mas faltou capacidade na Torre. Agora há que centrar-se na Volta de 2013, ainda com mais confiança e moral. 9 também para os corredores da Efapel-Glassdrive e para o seu director desportivo Carlos Pereira. Carlos Pereira montou a estratégia certa, poupando a equipa quando podia, atacando e assumindo as responsabilidades quando assim tinha que ser, como já vem sendo hábito nos últimos anos. Apenas tenho lido algumas (poucas) críticas quanto à etapa da Torre, por Nuno Ribeiro e Sérgio Ribeiro terem atacado quando os colegas Blanco e Rui Sousa já iam em posição adiantada. Para contrariar essas críticas, relembro que na Volta a Portugal não há auriculares e, como tal, os directores desportivos não podem dar indicações aos seus ciclistas a todo o momento. Em vez disso, a táctica para a subida à Torre teve que ser dada antes do momento das decisões. Não sei se foi pedido aos ciclistas que tentassem rebentar com a LA, se lhes foi dito para atacarem se sentissem os adversários em dificuldade ou se lhes foi dada liberdade para fazerem a sua corrida desde que não comprometessem os colegas. Independentemente das indicações que tinham, o resultado foi bastante positivo para eles, uma vez que conseguiram colocar a nu as dificuldades de Hugo Sabido.

Van Rensburg levou duas etapas e a camisola vermelha
9 também para o sul-africano Reinardt Janse Van Rensburg, que chegou a Portugal como um papa-etapas e saiu daqui com mais duas vitórias para o seu palmarés. Leva também três segundos lugares e a camisola vermelha dos pontos. Não tem a qualidade de Peter Sagan mas tem qualidade suficiente para representar uma equipa World Tour.

8

A UnitedHealthcare foi a segunda melhor equipa em prova. Sem homens para a classificação geral, dedicaram-se à luta por vitórias em etapas, marcando presença constante nas principais fugas. Muitas equipas costumam desculpar a sua falta de atitude com “nós queríamos estar em fuga mas não é fácil”, desculpa que eu nunca aceito, porque numa prova por etapas há sempre espaço. Durante as nove etapas em linha da Volta (prólogo e crono excluídos), a UnitedHealthcare marcou presença na fuga do dia por seis vezes, nalgumas delas até com mais de um homem. Nos três dias em que não esteve em fuga, apenas num esteve inactiva, pois nos outros dois esteve a comandar o pelotão na defesa da amarela de Jay Thomson, e na etapa da Senhora da Graça, sabendo que iam perder a amarela, estiveram também na fuga do dia. O resultado desta atitude? Três etapas ganhas (todas em fuga), três dias de camisola amarela e ainda um segundo lugar. A forma como defenderam a camisola amarela, também demonstrou um enorme respeito para a prova. Um exemplo para muitas equipas, incluindo algumas portuguesas.

3 etapas para a UnitedHealthcare
E nota 8 também para Sérgio Ribeiro, que este ano não venceu a classificação dos pontos e “só” venceu uma etapa mas o segundo lugar na Senhora da Graça e o quarto na Torre mostram uma grande evolução nas subidas. Está na hora de uma equipa estrangeira pegar nele e o meter a correr provas de maior nível, porque ainda tem idade para fazer duas ou três boas temporadas além-fronteiras.

7

Daniel Silva foi quarto e, com a evolução que mostrou no contra-relógio, assume-se como um candidato à vitória em 2013. Com apenas 27 anos, poderá ter uma boa carreira pela frente. 7 para o trabalho da LA Alumínios/Antarte na defesa da camisola amarela de Sabido, desde os estagiários Luís Afonso e João Correia, que se fartaram de carregar bidões para os seus colegas, a Vergílio Santos com o trabalho que todos vimos na Torre. Quem também deu excelentes indicações para o futuro foi o espanhol David de la Cruz, quinto no final, acusando o desgaste no último contra-relógio.

6

Ao contrário do ano passado, em que tinha André Cardoso, este ano Ricardo Mestre era a única arma da Carmin-Prio (no ano passado não era “Carmim”, eu sei) para a classificação geral. Com três quedas nas quatro primeiras etapas, incluindo na jornada da Senhora da Graça, e uma quarta queda que chegou a assustar, a desistência de Mestre passou uma pesada factura. A presença em fugas acabou por não ter o resultado pretendido mas a vitória de Alejandro Marque no contra-relógio torna o balanço positivo. Balanço positivo com 6 também para a Caja Rural, que venceu uma etapa com Francesco Lasca, a camisola laranja com De la Cruz, um segundo lugar e mais algum destaque vindo de fugas. Brice Feillu também marcou uma boa presença na Volta, não só pelo sexto lugar na geral mas também pela sua atitude atacante. Igualmente nas vistas deu José Gonçalves, dando seguimento à boa temporada que vem fazendo. Terceiro no prólogo e no último contra-relógio, faltou-lhe melhor sorte.

5

Desde 2006 que o Boavista não vencia uma etapa na Volta e também não foi este ano. Valeu o esforço dos homens da Onda-Boavista, constantemente em fuga, com atitude atacante, mas sem êxito. A falta de sucesso é, em grande parte, consequência dos erros feitos em Dezembro/Janeiro na construção do plantel. É inaceitável que, apenas com quatro equipas elite em Portugal, uma delas não tenha nenhum sprinter capaz de discutir etapas em provas importantes. António Carvalho e Pedro Paulinho estão no pelotão amador e seriam muito uteis à equipa do José Santos.

3

Depois do insucesso da Senhora da Graça, ainda esteve ao ataque no dia seguinte e foi essa atitude que impediu o João Cabreira de ter nota mais baixa. Volta muito fraca, como o resto da temporada.

0

Bruno Lima fez apenas 100 quilómetros nesta Volta a Portugal. Na RTP, o Marco Chagas disse tudo: é hora do Bruno procurar o seu futuro noutra área. Perde-se um sprinter de grande talento mas constantemente acima do peso recomendável e incapaz de disputar vitórias nas provas de maior destaque. O talento não chega. É para isso que se querem os sprinters.

Menções de Honra

Menção a Vergílio Santos, não só pela etapa da Torre, mas pela sua carreira. Excelente trepador e sempre com grande entrega para os seus líderes (melhores contra-relogistas), já no ano passado tinha feito um bom trabalho para Hernâni Brôco. A certa altura da carreira ainda pensei que se tornaria um líder, mas não foi assim. Penso até que não tem vitórias enquanto profissional (se alguém souber de alguma, que me diga sff) e com apenas duas chegadas em alto na Volta será difícil que consiga um triunfo na prova maior do ciclismo português. Merecia.

E Menção para Alejandro Marque. Outro homem de equipa mas muito talentoso, no seu caso, um grande rolador e contra-relogista. Só em Outubro cumprirá 31 anos, esta época já tinha vencido uma etapa na Volta às Astúrias (5º na geral), conquistou o bronze nos Nacionais de contra-relógio e com esta vitória acredito que haja propostas para ir para uma equipa de categorias superior em Espanha. Bem merece.

Selecção Nacional

Não posso colocar a selecção nacional na mesma escala que as outras equipas, pois esta deve servir como formação, sem exigência de resultados. Porém, a quem já nem conta para a classificação da juventude e a quem está no último ano antes de passar a veterano A, a esses sim, exige-se mais e melhor. De resto, sobre as opções e a desorientação técnica desta selecção, já escrevi anteriormente (Paraque serve esta selecção nacional?).

1 comentário:

  1. O Alejandro Marque é daqueles ciclistas que se fosse um pouco mais trabalhado e lapidado podia lutar pela Geral de uma Volta a Portugal.

    ResponderEliminar

Share