André Bruno
Hernâni
Manuel Sérgio Tiago Cardoso Pires Brôco Cardoso Paulinho Machado |
Vai sábado para a estrada a 67ª edição da Volta a Espanha,
com seis portugueses presentes: Tiago Machado, Sérgio Paulinho, Manuel Cardoso
e os estreantes Hernâni Brôco, André Cardoso e Bruno Pires. A nível geral, a
grande atracção é o regresso de Alberto Contador às grandes voltas e as dez
chegadas ao alto.
Em 1997, Lisboa recebeu a partida da Volta a Espanha, numa
manobra de promoção da Expo 98. Lisboa-Estoril, Évora-Vilamoura e Loulé-Huelva
foram as três primeiras etapas, tendo eu assistindo à partida de Loulé, uma das
minhas primeiras experiências no ciclismo, então com 6 anos. Com Orlando Rodrigues
em representação da Banesto, José Azevedo, Cândido Barbosa, Joaquim Andrade, Paulo
Ferreira, Paulo Barroso, Joaquim Sampaio e João Silva pela Maia-CIN, essa
Vuelta a Espanha contou com 8 portugueses e foi a última edição que passou a
meia dezena. Apesar das posteriores presenças de Benfica (99), LA-Pecol (2000)
e Milaneza-MSS (01, 02 e 03), o máximo registado desde então foi de cinco
lusos, e porque José Azevedo corria na ONCE, pois as formações portuguesas eram
maioritariamente compostas por estrangeiros, sobretudo espanhóis. Aliás, não é
de esquecer que na Volta a Portugal 2004 apesar de existirem 9 equipas
nacionais e apenas 3 espanholas, os ciclistas portugueses estavam em
inferioridade (53 espanhóis contra 45 portugueses).
Mas o tema deste artigo é a Vuelta 2012 e os seis portugueses
que lá estão (com objectivos bem diferentes).
Tiago Machado
Começo pelo Tiago Machado porque é aquele que leva um
desafio maior. Juntamente ao Maxime Monfort, o Tiago vai liderar a Radioshack
com vista a classificação geral e uma classificação geral positiva para o Tiago
passará por um lugar nos dez primeiros.
Com o 19º lugar no Giro e 32º na Vuelta, as grandes voltas
não correram bem ao Tiago Machado na temporada passada e por isso os seus directores
alteraram o plano para este ano, tendo começado a competir mais cedo, logo em
Janeiro no Tour Down Under (3º lugar), mas sem disputar o Giro e sem nenhum
grande bloco de corridas para chegar mais fresco à Vuelta. Machado será um dos
cerca de 20 corredores a aspirar a um lugar entre os 10 melhores, lugares esses
que serão para quem melhor subir, uma vez que existem dez chegadas em alto e o
único contra-relógio existente (acidentado), assumirá menor importância para as
contas finais.
Se, por algum motivo, o Tiago ficar fora da luta pelos dez
primeiros, deverá dedicar-se à luta por etapas, já que outro 19º ou 20º lugar
nada lhe valerá para progredir, dentro da RadioShack ou noutra equipa.
André Cardoso e Hernâni Brôco e Manuel Cardoso
Agrupo os três corredores da Caja Rural porque o seu
objectivo deverá ser semelhante, ainda que por diferentes caminhos.
Manuel Cardoso será a aposta da Caja Rural para as chegadas
ao sprint e nesta Vuelta há 9 tiradas com características para isso, ainda que nalgumas
acabarão por vingar fugas. O Manuel não terá um grande comboio, mas terá ajuda
para se colocar da melhor forma na parte final, principalmente através de Aitor
Galdós. Sem a presença dos principais sprinters mundiais, as suas
possibilidades de vencer aumentam.
Para Hernâni Broco e André Cardoso a primeira semana será
decisiva para decidir até que ponto devem ser cautelosos pela classificação
geral ou arriscar na busca de vitórias em etapas. Achando eu difícil que fique
no top-10 da geral (tal como acho para o Tiago), obviamente prefiro que lutem
por uma etapa do que pelo tal 19º ou 20º posto. De qualquer forma, com chegadas
em alto logo na segunda e terça-feira, as dúvidas poderão ficar desfeitas.
Sérgio Paulinho e Bruno Pires
Com Alberto Contador na equipa, o objectivo de Paulinho e
Bruno Pires será, naturalmente, ajudar o madrileno a chegar à vitória geral.
Apenas se Contador falhar os portugueses terão liberdade para algo mais, ponto
final, parágrafo.
Alberto Contador, favorito número 1
Apesar dos seis meses sem competir (do Tour de San Luís ao
Eneco Tour), Contador é o principal favorito à vitória. A teórica desvantagem
pela falta de competição é compensada pela frescura que ele tem e a maioria dos
seus adversários não. Froome vai para Espanha depois de um Tour desgastante
(ainda que sem ir ao limite), e Valverde, Gesink, Van Den Broeck, Mollema e Menchov
tinham a temporada centrada no Tour e só se viraram para a Vuelta depois de
terem ficado aquém do desejável na prova francesa. Joaquin Rodríguez (2º no
Giro) volta a tentar a fórmula que no ano passado falhou redondamente
Giro+Vuelta e Thomas de Gendt (3º no Giro) é uma incógnita. Igor Antón é o
único que chega a esta prova sem nenhuma outra grande disputada antes e Juanjo
Cobo é o único que, apesar de ter estado no Tour, fez toda a preparação a
apontar para a Vuelta. São muitos homens com teóricas aspirações ao pódio, mas
não me parece que nenhum deles consiga bater Contador. Espero estar enganado e que tenhamos interessantes duelos.
Dez chegadas ao alto
Não sou fã da extrema dureza em grandes voltas, mas admiro
bastante o percurso desta Vuelta e as suas dez chegadas em montanha. É que,
apesar disso, a prova tem um nível de
dificuldade dentro do que julgo aceitável e é equilibrada, mantendo nove
oportunidades para sprinters. A fórmula encontrada para ter muitas chegadas
ao alto sem prejudicar os sprinters, foi a de abdicar de todas aquelas habituais
etapas de montanha com final em descida.
Há duas chegadas em terceira categoria (6ª e 12ª etapas), uma
de segunda (17ª), quatro de primeira (3ª, 4ª, 8ª, 14ª) e três de especial (15ª,
16ª, 20ª), todas elas entre os 150 e os
190 quilómetros e a grande maioria com apenas uma ou duas contagens de montanha
antes da subida final. Importa relembrar que duas das etapas mais espectaculares
do ano passado, Alpe d’Huez (Tour) e Anglirú (Vuelta), tinham, respectivamente,
110 e 142 quilómetros
Além destas, do contra-relógio colectivo inicial e do
contra-relógio de 40 km a meio da prova, há a chegada a Barcelona, que oferece
uma pequena dificuldade nos quilómetros finais, e oito feitas por medida para
sprinter. Seis delas não têm qualquer contagem de montanha e duas têm uma
terceira categoria mas ainda na parte inicial. Fica assim descrito um percurso
que acho espectacular. Os perfis, são estes:
*****
Desviando um pouco da Vuelta: Boas notícias!
Retirado do site do Governo:
O Governo aprovou um diploma que define o regime de policiamento de espetáculos desportivos, realizados em recinto desportivo, e de satisfação dos encargos com o policiamento de espetáculos desportivos em geral. Com este diploma ficam definidas as regras relativas ao policiamento dos espetáculos desportivos, a responsabilidade dos promotores e a comparticipação do Estado nos encargos com o policiamento.
“Em geral”, incluirá o ciclismo. Passando o Estado a pagar
uma parte do policiamento das provas de ciclismo, poderá ser um grande balão de oxigénio para a modalidade, depois de
tantas e tantas provas anuladas nos últimos anos por falta de verba para o policiamento
obrigatório.
*****
Regressando à Vuelta para terminar:
A organização da Vuelta alterou o sistema de bonificações
para a edição deste ano, o que não deverá alterar nada face à habitual trapalhada
que são os comentários da Eurosport neste aspecto. Andam sempre às aranhas
nisto porque não conhecem os regulamentos, algo que o comum adepto não
necessita de ler, mas os comentadores devem faze-lo, tal como eu já fiz e faço
sempre que tenho dúvidas para poder levar até aos leitores a informação correcta.
Ora, dizem os regulamentos da UCI que, quando há
bonificações, devem ser: em grandes voltas (Giro, Tour e Vuelta), 20, 12 e 8
segundos para os três primeiros de cada etapa e as 6, 4 e 2 nas metas volantes,
podendo existir até três por etapa; nas restantes provas (como a Volta a
Portugal) é 10-6-4 na meta e 3-2-1 nas metas volantes (máximo 3). Isto, excepto
o caso de haver duas etapas no mesmo dia, mas isso é um caso muito particular
que para aqui não interessa.
Os organizadores podem decidir se há ou não bonificações,
mas quando decidem por haver, seguem o regulamento da UCI, pelo que não há
motivos de engano… excepto nesta Vuelta, pois a organização decidiu que será
12-8-4 na meta, mantendo os habituais 6-4-2 em metas volantes. Fica o leitor
informado. Quando tiver dúvidas, apenas tem que vir procurar este artigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário