domingo, 17 de fevereiro de 2013

Volta ao Algarve, ai vão duas para Martin

Tony Martin, bicampeão mundial de contra-relógio, confirmou o favoritismo e sagrou-se hoje bivencedor da Volta ao Algarve, batendo por quase um minuto o seu colega Michal Kwiatkowski e Lieuwe Westra, que completaram o pódio. Rui Costa, em 5º, foi o melhor português, com Tiago Machado logo atrás.

Sobre a primeira etapa, logo no dia falei. A habitual confusão em Albufeira, sobretudo causada pelos topos no final, complicou a vida aos principais sprinters e a vitória foi para Paul Martens, da Blanco, que no dia seguinte voltaria a vencer mas através de Theo Bos. A chegada a Lagoa, como esperado foi ao sprint, mas Mark Cavendish teve um problema mecânico e ficou impossibilitado de disputar os primeiros lugares. Theo Bos, holandês que também começou na pista (como Cavendish, mas em outra especialidade), fez um sprint incrível e apenas Giacomo Nizzolo (Radioshack) lhe conseguiu seguir a roda, abrindo um fosso para os restantes. Como curiosidade, referir que a primeira vitória de Bos na estrada também foi no Algarve mas na Prova de Abertura de 2009, então ao serviço da Rabobank Continental.

Ao contrário do que se dizia num certo canal por cabo, "Blanco" não é o novo patrocinador da Rabobank. Depois das recentes polémicas em torno da modalidade e da UCI, a Rabobank quis afastar-se do ciclismo profissional e retirar o seu nome da equipa, ainda que continue a financiar para cumprir o seu contrato. A equipa ficou assim sem patrocinador principal, tornando-se uma "equipa branca", à semelhança das marcas brancas. O nome "Blanco" vem dessa lógica e da pretensão de transmitir uma ideia de ciclismo limpo, claro e transparente.

Não foi de branco mas foi de amarelo que Theo Bos saiu para a terceira etapa e foi com a camisola de líder que desistiu. O sprinter holandês teve um problema mecânico na primeira contagem do dia (ao km 30), os seus colegas tinham pretensões para a classificação geral e não aguardaram, acabando Bos por desistir pouco depois.

A terceira etapa foi também marcada pela luta das classificações das metas volantes e da montanha. Na montanha, Sérgio Paulinho foi o primeiro líder, no segundo dia perdeu a camisola para o seu colega Manuele Boaro e no terceiro dia o italiano teve que se aplicar a fundo para se defender de Alejandro Marque (OFM-Quinta da Lixa). O galego (que tal como David Blanco, todos os portugueses gostam) pontuou na primeira contagem da terceira etapa mas não o suficiente e terminou no segundo lugar desta classificação, a um ponto de Boaro. Nas metas volantes, Hugo Sabido e a LA Alumínios/Antarte fizeram de tudo para desempatar a liderança com Eduard Vorganov, mas não conseguiram pontuar. Ainda assim, Sabido levou a melhor pelos critérios de desempate e foi o vencedor desta classificação.

Voltando à terceira etapa, a Omega Pharma-Quick Step entrou no Malhão decidida a controlar. Desta vez não para Cavendish, como nos dias anterior, mas para Tony Martin e Michal Kwiatkowski. O alemão era à partida o grande favorito e o polaco, pela sua prestação no Tour de San Luís, também tinha sobre ele alguma expetativa.

Rui Costa foi o primeiro a atacar, Sergio Henao juntou-se, a seguir foi Tiago Machado, mas Henao estava realmente mais forte e venceu no Malhão, sucedendo ao seu colega Richie Porte. Se Martin era o grande favorito à geral, Henao e Rigoberto Uran eram os grandes favoritos a vencer no Malhão, como já aqui tinha sido dito. Os colombianos estão realmente numa excelente forma e são dois excelentes trepadores, principalmente neste tipo de subidas.

Martin foi "apenas" 11º mas mostrou-se em muito boa forma, impondo o ritmo durante quase toda a subida para evitar surpresas, e foi para o contra-relógio final a uma distância muito curta em relação aos portugueses, que eram 2º (Rui Costa) e 3º (Tiago Machado) na geral.

O alemão mostrou em Tavira o porquê de levar o arco-íris no corpo e bateu por mais de um minuto Michal Kwiatkowski, segundo. Este polaco tem apenas 22 anos, construiu um palmarés incrível enquanto júnior, está a dar excelentes indicações neste arranque de temporada e há que ter atenção com ele. E atenção também para Jesse Sergent (Radioshack), excelente contra-relogista que foi 18º no Malhão, 3º no contra-relógio e se conseguir realmente progredir na montanha, poderá ser um bom valor para provas por etapas.

O terceira da geral foi Lieuwe Westra (Vacansoleil), que já tinha sido 3º em 2011 (também com vitória de Martin), Denis Menchov (Katusha) 4º, Rui Costa 5º e Tiago Machado 6º. Classificações completas aqui.

Uma nota positiva também para o público, que por mais um ano mostrou que gosta mesmo de ciclismo e esteve lá com respeito para todos os ciclistas mas sobretudo para apoiar os portugueses. E por falar em portugueses, parabéns ao Rui Costa e a Tiago Machado pela classificação geral que fizeram, ao Sabido pela camisola das metas volantes, á LA-Antarte por ter assumido a sua luta e tentar controlar o pelotão para que Sabido pudesse pontuar nas últimas metas volantes da prova, ao Marque pela luta na montanha, ao Sérgio Paulinho que esteve em destaque no primeiro dia, ao Tomás Metcalfe que também esteve na fuga da segunda etapa, e ao Sérgio Sousa, Bruno Pires, Arkatiz Duran e Ricardo Mestre que estiveram escapados no terceiro dia.

É verdade que as etapas eram longas e que é apenas a segunda corrida da época para as equipas portugueses, mas também é verdade que há muitos estrangeiros que começam a temporada no Algarve e vêm para ganhar e há portugueses que passam o inverno a brincar ao ciclismo e que vêm para o Algarve passear ano após ano. Por outro lado, Marque, Sabido, Metcalfe, Arkaitz Duran e Ricardo Mestre, que estiveram em fuga nesta Volta ao Algarve, já na Prova de Abertura tinham mostrado ganas e tinham andado ao ataque. E parabéns ao angolano Igor Silva, que conseguiu terminar a prova.

Para que fique claro, nada tenho contra a presença de uma seleção angolana em provas portuguesas. Simplesmente acho que a Volta ao Algarve não é a prova indicada para se começar e que o único motivo que o justificaria seria a busca por novos patrocinadores. Ambos os pressupostos se comprovaram. E quando disse que são amadores, é porque não são World Tour, Continentais Profissionais nem Continentais e como tal, aos olhos dos regulamentos, são tão amadores quanto as equipas de clube portuguesas. Não quer dizer que não sejam esforçados nem que não mereçam respeito (merecem), mas por não pertenceram a nenhuma categoria profissional UCI, não podiam disputar a Volta ao Algarve como equipa e foi daí que surgiu a seleção nacional, como muito provavelmente surgirá na Volta a Portugal e noutras provas.

E para finalizar o tema da Volta ao Algarve, um esclarecimento sobre o percurso. Quando disse que o longo contra-relógio em 2009 se tinha mostrado uma experiência para não repetir, não fui suficientemente claro e acabei por deixar no ar uma crítica injusta à organização. Bem sei que não havia outra hipótese. O Algarve é uma região pequena e tem apenas 16 municípios, entre os quais alguns que têm dívidas antigas com a prova, outros que não têm capacidade para receber uma partida ou uma chegada e outros que simplesmente não têm interesse. Entre os que têm interesse e capacidade financeira, a organização tem que tentar organizar o percurso da melhor forma e aproveitar aqueles que estão dispostos a pagar mais por ter uma chegada ao fim-de-semana, como é o caso do município de Tavira. Posto isto, não era possível um contra-relógio mais curto.

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Como tema acontecido nas últimas semanas, amanhã haverá Revista da Semana. Não sobre a Volta ao Algarve, da qual já se falou, mas onde vamos falar de uma Volta a Omã que colocou frente-a-frente Alberto Contador e Chris Froome, o Tour du Haut Var onde esteve José Gonçalves e o Trofeo Laigueglia onde estiveram António Barbio, Amaro Antunes e Rafael Reis. E se tudo correr bem (e houver tempo), a meio da semana há mais artigos. Até lá.

3 comentários:

  1. Mas até que ponto não seria concebível uma prova com 5 dias? 2 etapas em linha para sprinters e roladores ( tal como já acontece), duas etapas com chegada em alto (Foia e o Malhão), e por fim o CR. Isto se o objectivo for atrair os ciclistas de renome que lutam pelas grandes voltas, esses que preferiram o Tour de Oman.
    Da forma como a prova se encontra estruturada basta aos homens do CR "aguentarem e saberem sofrer" no Malhão, para no dia seguinte fazerem aquilo que melhor sabem, e lutarem pela Algarvia. O top ten da geral é, embora por outra ordem, o top ten da etapa, os mesmos 10 homens, o que considero de certa forma injusta para com aqueles que tentaram fazer a diferença no Malhão, e cujo CR não é a sua displina de eleição.
    A solução da Algarvia pode também passar pela adopção definitiva deste tipo de percurso e aliciar principalmente os puros contra-relogistas e roladores, que podem fazer da prova um óptimo elemento de preparação para as suas épocas. Sinceramente preferia a 1ª alternativa que apresentei, mas bem sei que esta questão vai para além do ciclismo na estrada.
    Continuaçâo de um óptimo trabalho, sem dúvida já um marco na informação e opinião sobre o ciclismo.

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  2. Bom trabalho mais uma vez Rui :D
    Eu acho que esta Volta foi bastante positiva para as equipas Portuguesas. Estão em jogo pontos para se ganhar,tantos com na Volta a Portugal.
    No entanto continuo sem perceber porque é que algumas equipas portuguesa não assumem da Volta ao Algarve como um objectivo Concreto.Esperava um pouco mais da Louletano-Dunas Douradas sendo uma equipa nova e correndo no terreno deles,passaram ao lado da Volta.
    O Bruno Sancho com este 3º lugar na 2ª etapa foi a grande surpresa Portuguesa e tenho de destacar também a prestação do Daniel Mestre 36º ,depois de um ano parado, ficando a frente de alguns nomes grandes.
    De resto já disseste tudo!Abraço

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  3. Obrigado pelos comentários!

    Tiago, atualmente 5 etapas é difícil, porque não há interesse suficiente nem condições por parte das Câmaras para isso, e uma chegada à Fóia também não será possível nos próximos anos. No Algarve existem algumas subidas com dificuldade semelhante ou até superior ao Malhão, mas ficam longe das capitais de município e só Loulé aceita patrocinar uma chegada fora da cidade. A Fóia é a única grande subida que fica próximo da "capital", mas Monchique não tem condições para tal.

    Este problema não se coloca em grandes montanhas que são promovidas por si mesmas como destinos de neve, o que não acontece com as subidas algarvias.

    Bento, o pior é que algumas equipas nem tentam dar nas vistas e são as mesmas que reclamam da quilometragem. Quem não dá o litro, não ganha direito a reclamar de nada.

    Cumprimentos.

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