segunda-feira, 8 de abril de 2013

Revista da Semana: Rui Costa e Fábio Silvestre a vencer

Domingo com duas vitórias portuguesas além-fronteiras, a primeira da temporada de Rui Costa e a terceira de Fábio Silvestre, respetivamente na Klasika Primavera e na última etapa do Circuito das Ardenas. Semana também marcada pela vitória de Nairo Quintana na Volta ao País Basco, surpreendendo os favoritos Alberto Contador e Richie Porte. A seleção portuguesa sub-23 inicia quarta-feira a sua participação na Taça das Nações.

Volta País Basco de Escarabajos

Entre a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix, tempo para os voltistas brilharem na Volta ao País Basco, uma prova que não tem alta montanha mas é de constante sobe-e-desce e nível de dificuldade muito alto. Sem Froome, Alberto Contador tinha aqui uma boa oportunidade para vencer a sua primeira prova por etapas desta temporada, com Richie Porte como principal adversário. Nairo Quintana, Simon Spilak, Jean-Christophe Peraud, Tejay Van Garderen e Jurgen Van Den Broeck eram outros homens com hipóteses de suceder a Samuel Sánchez, este ano a apostar no Giro e por isso fora da sua melhor forma nesta altura do ano.

A primeira etapa foi marcada por uma queda na última subida do dia, que causou alguns cortes e deixou Van Den Broeck fora da corrida. Simon Gerrans colecionou mais uma vitória World Tour e já leva 6 na máxima categoria nos últimos 16 meses. Daryl Impey deu a segunda consecutiva à Orica e os favoritos para a geral partiram quase todos muito próximos uns dos outros para a terceira etapa, a primeira com chegada ao alto, ainda que as maiores dificuldades estivessem apenas no último quilómetro. Fantástica performance dos Escarabajos, alcunha pela qual são conhecidos os ciclistas colombianos. Sergio Henao superiorizou-se ao seu compatriota Carlos Betancur (Ag2r) e Quintana foi quarto com Giampaolo Caruso (Katusha), que vinha adiantado antes do ataque de Henao, pelo meio. Diferenças muito curtas entre os primeiros e, com vista o contrarrelógio do último dia, Porte e Contador continuavam a ser os principais favoritos à vitória, mesmo tendo perdido dez segundos nesta primeira chegada ao alto.

A segunda chegada em montanha (e etapa rainha) seria logo no dia seguinte. Spilak, que tinha vencido do GP Miguel Indurain, protagonizou o ataque de maior destaque na subida final, Porte e Henao assumiram a perseguição e alcançaram o esloveno ainda antes do cume, iniciando a curta descida para a meta num grupo de apenas sete unidades: Porte, Henao, Contador, Spilak, Quintana, Peraud e Betancur. Quintana, que ao contrário da maioria dos ciclistas da América Latina, sabe descer e conquistou a vitória, com Henao segundo, Betancur quarto e Contador pelo meio. Mais uma vez, três colombianos nos quatro primeiros lugares.

Ao quinto dia, teoricamente mais acessível que os anteriores, 75 desistências, resistindo apenas 73 corredores ao mau tempo. O mais forte foi Richie Porte, que deu assim um grande abanão às esperanças dos seus adversários para o crono do dia seguinte. Depois da vitória no Paris-Nice e segundo lugar no Criterium Internacional, o australiano parecia bem encaminhado para vencer a Volta ao País Basco, partindo a apenas seis segundos do seu colega de equipa e líder Sergio Henao.

O campeão mundial da especialidade Tony Martin confirmou o favoritismo e venceu a última etapa, mas Porte (e quase toda a gente) foi surpreendido por um super Nairo Quintana, segundo no contrarrelógio e vencedor da classificação geral. Excelente trepador, muito bom descedor, bom contrarrelogista, excelente em contrarrelógios duros e muito inteligente a correr, torna-se difícil prever até onde poderá chegar este colombiano. Os seus compatriotas começam a sonhar com algo melhor que o terceiro lugar no Tour de 1988 alcançado por Fabio Parra, um dos mais notáveis Escarabajos da história. Quintana tem 23 anos e venceu a Volta a França do Futuro em 2010.

Quintana e Henao, dois colombianos no pódio
O duo da Sky Richie Porte e Sergio Henao completaram o pódio, com Spilak em 4º e Contador em 5º. Começa a ser preocupante a diferença entre este Contador e aquele que entre 2007 e 2010 ganhava quase tudo em que entrava, incluindo duas Voltas ao País Basco. Nas transmissões televisivas faltam agora os gritos orgásmicos sempre que o espanhol atacava e, apesar do grande objetivo ser o Tour, era suposto já ter vencido mais do que uma etapa no Tour de San Luis.

Primavera de Rui Costa

Enquanto a maioria das equipas World Tour se concentrava a 200% no Paris-Roubaix, três delas continuaram no País Basco para no domingo disputar a Klasika Primavera, que nos últimos anos teve vencedores como Carlos Sastre, Joaquim Rodríguez, Damiano Cunego, Alejandro Valverde  (3x) ou Samuel Sánchez.

Alberto Contador, Beñat Intxausti e Delio Fernández (OFM-Quinta da Lixa) entraram na frente nos últimos cinco quilómetros, Délio Fernández foi o primeiro a ceder e Contador e Intxausti formaram uma dupla de enorme valor que deu muita luta ao mini-pelotão que os perseguia. Rui Costa e Pablo Urtasun bateram-se ao sprint e foram os únicos a conseguir ultrapassar os dois fugitivos, com o português a levar a melhor e a conquistar o primeiro triunfo da temporada.

Depois da queda e abandono no Paris-Nice, Rui Costa fez uma Volta ao País Basco em crescente de forma e terminou no 13º posto. Com a vitória na Klasika da Primavera, consegue reforçar o seu estatuto dentro da equipa para as clássicas das Ardenas, onde deverá ser uma das principais cartas da Movistar. Com o contrato a terminar no final desta temporada, várias equipas de topo mundial estão de olho no Rui e à espera de o poderem recrutar.

De destacar também o 7º lugar de Eduard Prades, da OFM-Quinta da Lixa. Também a Rádio Popular-Onda esteve presente

Clássica das Ardenas: etapa para Fábio Silvestre

E vão três para Fábio Silvestre em 2013
Fábio Silvestre continua a dar nas vistas lá fora e desta vez foi no Circuito das Ardenas, prova francesa da categoria 2.2 (como a Volta ao Alentejo ou o Troféu Joaquim Agostinho por exemplo). Fora da discussão da vitória geral, Fábio Silvestre esteve num ataque a vinte quilómetros da meta do qual resistiram os três ciclistas que lutariam pelo primeiro lugar, com o português a levar a melhor. Foi a sua terceira vitória na temporada e foi 15º na classificação geral.


Seleção Nacional Junior e Sub-23

Sucesso diferente tiveram os portugueses presentes no Paris-Roubaix de juniores. Dos seis jovens lusos que alinharam à partida, apenas um terminou, Gaspar Gonçalves no 62º lugar.

Não vou criticar ninguém por esta prestação. Não acho que se possa exigir muito destes jovens que em Portugal têm poucas provas de grande quilometragem e que não têm qualquer experiência neste tipo de percursos, onde os azares acontecem. Além disso, a convocatória parece-me acertada. Não sei se seriam os seis mais indicados para o Paris-Roubaix mas sem dúvida que eram seis dos mais indicados. Mais e melhores provas terão eles pela frente.

Por outro lado, é inegável que o objetivo de colocar um ciclista nos 15 primeiros não foi alcançados. Espero que no final da temporada este insucesso seja uma exceção e não parte da regra como em 2012. Já agora, dizer que dos 112 ciclistas à partida, desistira 46.

Por seu turno, a seleção sub-23 iniciará a sua atividade no dia 10 na La Côte Picarde (Taça das Nações), seguirá para a Liège-Bastonge-Liège  sub-23 no dia 13, para a Toscana-Terra di Ciclismo de 16 a 20 e terminará no dia 25 no GP della Liberazione. Os escolhidos para estas provas foram António Barbio e Rafael Reis (Ceramica Flaminia), Daniel Freitas (Anicolar), David Rodrigues (Liberty Seguros/Feira/KTM), Hélder Ferreira (UC Maia/Bicicletas Andrade) e Ricardo Ferreira (Rádio Popular-Onda).

Levar os mesmos seis ciclistas às quatro provas não será a situação ideal, mas é a possível para poupança de custos. Não discutindo isso, deveriam existir dois critérios ao fazer a convocatória.

Primeiro critério: Uma vez que Portugal precisa de pontos na Taça das Nações para ir à Volta a França do Futuro, a convocatória deveria fixar-se na La Côte Picarde (talhada para sprinters) e na Toscana-Terra di Ciclismo (para trepadores). Segundo critério: uma vez que apenas os primeiros quinze lugares são pontuáveis para a Taça das Nações, devem ser escolhidos ciclistas capazes de ficar dentro dos quinze melhores de pelo menos uma dessas provas. É preferível um décimo lugar numa prova e andar pendurado em todas as outras do que ser 20º em todas as provas e não fazer qualquer ponto.

Assim sendo, se é para levar os mesmos seis ciclistas às quatro provas, cinco ciclistas parecem-me indiscutíveis: Rafael Reis, António Barbio, Leonel Coutinho, Frederico Figueiredo e Daniel Freitas. O Leonel Coutinho e o Daniel Freitas porque têm sido, desde os tempos de cadetes, os melhores sprinters da sua idade e os mais indicados à La Côte Picarde, o Frederico Figueiredo porque é o ciclista que mais se parece adaptar a uma prova montanhosa como a da Toscana, destacando-se como o melhor trepador puro do escalão sub-23 desde o ano passado e realizando um começo de 2013 muito bom, e o Rafael Reis e o António Barbio porque parecem capazes de andar bem em qualquer tipo de terreno.

O Hélder Ferreira, David Rodrigues e Ricardo Ferreira são três grandes ciclistas e qualquer um dos três tem capacidades para singrar no ciclismo profissional e para estar na seleção. Possivelmente, o meu sexto ciclista seria escolhido entre um deles, mas para esta convocatória não abdicava de nenhum dos cinco anteriormente mencionados.

Apenas o melhor ciclista de cada seleção vale pontos e espero que Portugal consiga pontuar nas duas provas da Taça das Nações. Tem ciclistas capazes disso mas, em minha opinião, não está na sua máxima força.

E para dar ainda mais razão, o Leonel Coutinho venceu no sábado a Clássica da Páscoa de Padron na Galiza e o Frederico Figueiredo foi 4º na primeira prova do Troféu Luso-Galaico ontem, sendo o melhor sub-23 e melhor português. A convocatória foi feita antes destes resultados, mas já antes vinham a merecer uma convocatória.


Esta semana

Depois das clássicas do pavé, seguem-se agora as clássicas das Ardenas, com o campeão mundial Philippe Gilbert a assumir o papel de grande figura, ainda que longe da forma com que fez a tripla das Ardenas em 2011.

Na quarta-feira haverá Flecha de Brabante, no domingo a Amstel Gold Race e na próxima semana a Flèche Wallone (17/04) e a Liège-Bastogne-Liège (21/04). A Amstel Gold Race será tema a desenvolver na sexta-feira, na antevisão da prova.

De sexta-feira a domingo terá lugar mais uma prova espanhola por etapas, a Volta a Castela e Leão, com a presença da Efapel-Glassdrive.

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5 comentários:

  1. Caro Rui partilho bastante da tua opinião em relação à convocatória da seleção de sub 23..para mim o Rafael Reis e o António Barbio têm lugar cativo nesta convocatória, não só porque têm de facto enorme talento mas também porque têm acesso a provas com algum gabarito, correndo num nível superior aos sub 23 que correm em Portugal e beneficiando bastante em termos de experiência relativamente aos demais. Os outros 4 seriam para mim:

    Leonel Coutinho (Liberty Seguros/Feira/KTM)
    Frederico Figueiredo (Liberty Seguros/Feira/KTM)
    Samuel Magalhães(Liberty Seguros/Feira/KTM)
    Renato Avelar (Liberty Seguros/Feira/KTM)



    Não se trata de sentir simpatia pela equipa da Liberty nem pouco mais ou menos mas para mim são ciclistas que estão neste momento em boa forma e oferecem garantias de poder fazer resultados interessantes.

    O Leonel Coutinho é sem dúvidas o melhor sprinter deste escalão e o Rui disse tudo quando explicou porque poderia ser ele uma boa opção para algumas destas corridas.


    O Frederico Figueiredo não deixa margem para dúvidas que é um homem talhado para a montanha e está num grande momento de forma como atestam os seus resultados na Volta ao Alentejo (15º da geral) e neste último fim de semana nas duas corridas espanholas.


    Samuel Magalhães tem mostrado ser um todo o terreno, com bons resultados na pista que evidenciam uma óptima capacidade para o sprint a que se junta uma franca evolução que este ciclista tem tido na montanha.


    Renato Avelar, talvez seja destes 4 o que tem menos potencial mas tem mostrado neste início de época uma consistência de resultados que lhe permite entrar neste lote, a mudança para a Liberty foi benéfica para ele, tem estado bem, sobretudo na montanha.


    Óptimo artigo Rui.

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  2. Obrigado pelo comentário.

    Pengo, não se pode levar quatro ciclista da mesma equipa e deixar a equipa (que é quem os apoia durante todo o ano) sem quatro dos melhores ciclistas. Neste caso particular, seriam 4 ciclistas da formação de Santa Maria da Feira a falhar a Volta às Terras de Santa Maria, o que é inviável. No máximo, dois ciclistas por equipa, exceto nos Mundiais em que já não existe esse problema, pois a temporada nacional está terminada

    Cumprimentos

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  3. O Fábio Silvestre não pode ser convocado para as provas sub 23 e participar nos mundiais no final do ano? Isto claro se Portugal tiver algumas vagas para levar ciclistas.

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  4. Obrigado pelo comentário.

    João Silva, o Fábio já está no primeiro ano de elite e só pode competir nessa categoria.

    Cumprimentos

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  5. Tens razão Rui não me lembrei desse pormenor da Volta às Terras de Santa Maria logo uma das principais competições da época para a equipa..mas conhecendo o sr. Poeira como conheço não foi isso que o levou a deixar de fora por exemplo o Leonel Coutinho e o Frederico Figueiredo mas sim a sua falta de habilidade para convocar os ciclistas mais bem preparados.

    Sendo assim em relação aos 6 ciclistas que eu convocava e respeitando a tua ideia de 2 ciclistas por equipa, eu retiraria o Samuel Magalhães e o Renato Avelar (ambos da Liberty) e convocava o Rafael Silva (LA) e o Victor Valinho (Louletano).

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