domingo, 9 de junho de 2013

Froome: Dauphiné+Tour?

Seja o primeiro a comentar
Ensaio para a Volta a França
Chris Froome confirmou o favoritismo que tinha para o Critérium du Dauphiné e venceu com 58 segundos sobre o seu colega Richie Porte e 4'27'' sobre o maior rival Alberto Contador, 10º classificado. Será Froome capaz de fazer a dobradinha Dauphiné+Tour?

Existia uma crença generalizada de que estar no topo de forma no Critérium du Dauphiné   (ou Dauphiné Libéré, como era o seu nome) significava falhar na Volta a França. Bradley Wiggins desafiou essa crença em 2011 ao apostar por lutar pela vitória em ambas as provas, numa altura em que apenas ele e os seus diretores acreditavam que poderia vencer uma grande volta. Depois da vitória no CdD, uma queda na primeira semana de Tour enviava-o para casa e deixava por confirmar a eficácia da sua preparação.

Já depois de ser 3º na Vuelta, em 2012 Wiggins pôde relembrar que é possível vencer as duas provas consecutivamente, o que não acontecia desde 2003 (e 2002, ambos por Lance Armstrong). Antes de Armstrong, Indurain em 95, Hinault em 79 e 81, Thévenet em 75, Ocaña, Merckx, Anquetil, Bobet... gente que marcou o ciclismo nas suas épocas.

O ciclismo mudou, ou pelo menos a forma como a preparação das grandes figuras é feita. Mudou de Indurain para Armstrong, de Armstrong para Contador e de Contador para Wiggins e Froome. Indurain venceu por duas vezes Giro e Tour no mesmo ano, algo impensável para Lance Armstrong, que tinha um primeiro momento de forma em abril, saia de competição, regressava em junho, melhorava para julho, vencia o Tour e iniciava a preparação para o ano seguinte. Contador, nos anos do seu reinado, optou por uma planificação diferente, entrando em competição a top em fevereiro e colecionando vitórias até abril, onde também ele se afastava da competição para preparar o Tour, nunca conseguindo em Junho vitórias ao nível de Armstrong. Foi assim entre 2007 e 2010, exceto em 2008 porque a Astana não foi convidada para o Tour e por isso Contador virou-se para o Giro e a Vuelta.

A receita que a Sky criou em 2011 para Wiggins sofreu alguns ajustes para 2012 e é essa versão modificada que está a ser utilizada com Froome. Um bom momento de forma em fevereiro e março, a Volta à Romandia em maio, Critérium du Dauphiné em junho e depois o grande momento de forma em julho.

Pode resumir-se o caminho de Wiggins até à conquista do Tour 2012 pelas suas vitórias no Paris-Nice, Volta à Romandia e Dauphiné. Este ano Froome não venceu o Tirreno-Adriático mas foi o mais forte na montanha e no contrarrelógio (2º na geral), venceu a Romandia e agora venceu o Dauphiné. Antes, também a Volta a Omã e o Critérium Internacional, com quatro vitórias de etapa.

Desde a sua vitória em Peña Cabarga na Vuelta 2011, Froome tem-se mostrado o melhor trepador do planeta. Poderá estar em forma cedo demais? Não creio. Froome não está a inventar nada, mas sim seguir os passos trilhados por Wiggins. O que pode ser dramático para os seus adversários e para a corrida em si é que possivelmente ainda nem vimos o melhor de Froome.

*****

Quanto ao Critérium du Dauphiné em si, os principais sinais de alerta vem do contrarrelógio. Tony Martin foi Tony Martin, um degrau sobre todos os restantes, como Cancellara estava há uns anos. No que toca aos homens-Tour, Froome foi o melhor, com Valverde e Van Den Broeck a mais de 2'30'' e Contador e Joaquim Rodríguez próximos dos 3 minutos de atraso. No final, Contador queixava-se de alergia e dias depois era porque estava a 75% como queria, porque Contador é imbatível e quando é batido nunca lhe faltam desculpas, ainda que todos os dias mude de discurso. Certo é que este ano o seu melhor contrarrelógio foi o 10º lugar na Volta ao País Basco, muito diferente do Contador que chegou a bater Cancellara num crono do Tour.

Nas etapas de montanha, Contador esteve interventivo. Na primeira delas atacou e apenas foi batido por Froome, na segunda trabalhou para Michael Rogers chegar ao terceiro lugar e no último dia trabalhou para segurar o colega no pódio, mas o australiano não tinha pernas para isso.

Richie Porte foi 2º na geral, fazendo a segunda dobradinha da Sky depois de Wiggins-Rogers no ano passado e é a sexta vez que um australiano fica em segundo nos últimos sete anos (quatro vezes Evans, uma Rogers, agora Porte).

Daniel Moreno fechou o pódio, Jakob Fuglsang em 4º foi uma boa surpresa, também Daniel Navarro (5º na geral, rebocado por Boasson Hagen no contrarrelógio) e Rohan Dennis (2º no contrarrelógio e 8º na geral).

*****
Fábio Silvestre venceu a última etapa da Ronde de l'Oise, a quarta vitória da temporada para ele.

*****
Amanhã Revista da Semana, sobretudo dedicada ao ciclismo nacional, que este fim de semana teve o Grande Prémio Abimota.

Share