sexta-feira, 12 de julho de 2013

A rolar também vale!

Era uma daquelas etapas que se perspetivam chatas e das quais basta ver a repetição do último quilómetro, mas acabou com Mollema e Contador a ganharem um minuto a Froome, Valverde a cair para o 16º lugar da geral e Rui Costa para o 18º. Como em todas as grandes voltas, houve o Momento Valverde, em que o espanhol sofre de um qualquer azar e sai seriamente prejudicado.

A mais de 100 km da meta, a Omega Pharma entrou a puxar e deixou alguns ciclistas importantes cortados, principalmente Marcel Kittel, que já leva três vitórias neste Tour e está a ser um rival muito mais duro do que Mark Cavendish gostaria. A Belkin juntou-se à cabeça de corrida e então deu-se o Momento Valverde. Não há nenhuma grande volta que tenha a participação do espanhol sem o Momento Valverde, quando este fura, cai ou simplesmente fica num abanico por estar mal colocado. É o único ciclista que pode rivalizar (e até superar) Gesink como o mais azarado do pelotão.

No caso foi a roda traseira que rebentou e o segundo da classificação geral ficou numa situação muito complicada: atrasado e com a corrida lançada lá na frente. A Belkin não parou, porque tinha Bauke Mollema a espreitar o posto de Valverde. É sempre uma situação que gera muito debate. Deve esperar-se ou não por um adversário azarado? Em minha opinião, se a equipa apenas acelerar depois do azar adversário, como a Movistar no Paris-Nice 2012 para eliminar Leipheimer, é errado, mas se a equipa já estava na frente e com a corrida lançada, tem o direito de seguir. De qualquer forma, não há regra sobre estas situações e fica ao critério de cada um.

E, ao que parece, a Movistar tentou aproveitar-se de um furo de Bauke Mollema na Volta à Suíça 2011, quando o holandês estava na luta com Juan Mauricio Soler (que mais adiante terminaria carreira por uma queda nessa prova).

Perante o azar de Valverde, a Movistar fez o que tinha a fazer. Quintana ficou na frente e todos os outros a tentar levar Valverde de volta para o grupo principal, todos incluindo Rui Costa. Aqui nem se trata de uma decisão, mas quase de uma obrigação, porque quando uma equipa tem o segundo classificado do Tour atrasado tem que dar tudo para o recolar o mais rapidamente possível, antes que o desgaste comece a pesar ou que a distância se torne irrecuperável. Claro que é muito frustrante para todos os portugueses ver o Rui Costa perder assim uma oportunidade de lutar pelo top-10 e ainda mais para ele, que trabalhou para estar ali e que sabe que um top-10 seria importante na altura de assinar o seu novo contrato. Mas para a Movistar enquanto equipa um hipotético 10º lugar é irrelevante quando se tem alguém a lutar pelo pódio do Tour.

Nairo Quintana foi a única exceção por três motivos: 1) está a lutar pela classificação da juventude; 2) tinha/tem hipóteses de chegar ao pódio (estava a 1'24'' de Contador e agora está a 2'33''); 3) não ajudaria em nada na recuperação Valverde porque não tem capacidade para rolar ao ritmo desejado.

Já com Valverde arredado das contas da geral e aproveitando que muita gente estava desgastada, a Saxo-Tinkoff juntou-se à frente para aumentar os estragos, resistindo menos de vinte unidades na dianteira. Entre esses, toda a Saxo, com exceção de Noval que já abandonou, Hernández que não tem peso para isso e Sérgio Paulinho. Todos os outros, a tirar à morte.

Mark Cavendish também estava na frente e tinha Sylvain Chavanel e Terpstra, mas optaram por não trabalhar porque lhes faltava Kwiatkowski, sétimo na geral. O jovem polaco e a Omega Pharma não se querem meter em bicos de pés nem elevar demasiado a fasquia, mas correm com ambição por uma boa classificação geral. 

1'09'' foi o tempo que Froome perdeu para Mollema, Contador, Kreuziger, Ten Dam e Fuglsang, agora os seus rivais mais próimos. Mollema está a 2'28'' da liderança e Contador a 2'45''.

A chegada ao Mont Ventoux no domingo parece propícia a que Froome ganhe tempo à concorrência, pois etapas mono-montanha são mais fáceis de controlar do que tiradas como a do último domingo. Ainda assim, Froome está numa situação muito mais delicada do que desejaria e do que se esperava, já sem Kiriyenka e Boasson Hagen, com outros colegas condicionados e outros com rendimento inferior ao habitual. Muitos dos adeptos que no sábado acusavam contudentemente a Sky de estar toda dopada (devido à prestação de Froome, Porte, em parte Kennaugh e um Kiriyenka que era melhor ciclista na Movistar), agora engolem em seco. Afinal são humanos. Como nas clássicas, em que foram massacrados, ou como no Giro, em que Rigoberto Urán foi o único a estar na sua melhor forma.

Contador não tem estado no seu melhor, mas no ano passado mostrou-nos que pode ganhar uma grande volta sem ser o mais forte. As etapas que faltam deverão ser muito atacadas, incluindo por Rui Costa e Valverde, que a partir de agora buscarão uma vitória de etapa.

*****
E nos Campeonatos da Europa de pista, o júnior Rui Oliveira conquistou a medalha de prata na prova de Scratch. Excelente! Parabéns!

8 comentários:

  1. Foi impressão minha ou hoje o froome não teve pernas e abriu no momento em que se cortou o pelotão da frente?! Se assim fosse significa que ele anda a acusar os esforços e teremos uma terceira semana épica.
    Cumprimentos

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  2. O Froome é quase imbatível nas montanhas, só o Quintana consegue andar ao ritmo dele. Mas o Quintana é muito inferior no CR logo não tem hipotese de ganhar a amarela, mas ainda vai acabar no pódio.
    Fui uma pena o que aconteceu hoje ao Rui Costa... espero que consiga ganhar uma etapa.

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  3. O Tour está em aberto, mas o Froome continua favorito, podendo já no Monte Ventoux tentar arrumar a corrida. Efectivamente Contador estará em crescendo até ao final, mas falta saber se terá hipóteses para discutir o Tour.

    Quanto ao director da Movistar mostra que os directores no Ciclismo, sabem muito, muito pouco de gestão. Que burros!!!

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  4. Uma coisa a dizer: Unzué estiveste mal, porque se querias reentrar o Valverde tinhas de ter o Castroviejo e o Rui pelo menos para rolar, o que não aconteceu, pois só teve o Rui destes 2. Depois houve uma parte em que o Valverde está quase a reentrar e vinha com o Amador na sua roda e os colegas de equipa dizem lhe para abrandar e ele fá-lo. Em terceiro foi o modo como vão perder a classificação por equipas. Eles podiam ter deixado mais 2 com o Quintana (Erviti e Rojas por exemplo) e assim mantinham essa classificação, agora só há a Juventude.

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  5. Concordo com cada parágrafo aqui escrito. O blog está a crescer a olhos vistos, e isso deve-se certamente à clarividência das análises, numa altura em que aparecem os adeptos de ocasião...

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  6. a movistar ontem fez 3 erros:
    - quando fura o valverde devia ter trocado de bicicleta, não havia carro de apoio...
    - se é para deixar tudo para trás eram todos ao mesmo tempo, e não só depois de ver a coisa apertada manda o rojas e depois o Rui...
    - QUando o rui lá chega apenas puxa um pouco e fala imediatamente ao rádio dizendo que seria impossível só eles chegarem a frente, deveriam ter esperado pelo grupo do kittel e terem forçado logo.

    Discordo de ti na questão da Omega, a omega não tirou mais porque também já não tinha muito para tirar, até o sagan e o cavendish lá andaram, a questão é que já tinha mesmo toda a gente pouco para dar.

    Se Cadel Evans tem entrado neste grupo a corrida tinha ficado muito interessante, a Sky estava morta e não fossem os interesses do top 10/pódio e teria deixado os primeiros a portinha de froome, perderia o tempo que ganhará no CR de certeza.

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  7. Eu acrescentaria ainda um quarto erro que foi ter sido o Castroviejo a dar a roda, provavelmente o melhor contra-relogista da equipa e que era fundamental para aquele tipo de trabalho.

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  8. Obrigado pelos comentários.

    Relembro que as decisões de corrida são feitas no momento, sem futurologia e com o pulso a mais de 160 bpm. Foi um erro trocar de roda em vez de bicicleta, mas foi um erro do Valverde, não da equipa. O Diretor Desportivo tinha dado instruções para, em caso de problemas mecânicos, trocar de bicicleta com um colega sem hesitar. Na pressão do momento, Valverde optou por trocar de roda com qualquer colega. O próprio Castroviejo apenas se preocupou em ajudar o mais rapidamente possível. Naquela altura ninguém tem tempo (nem calma) para pensar em quem o ciclista menos útil.

    Relembro também que o Diretor Desportivo da equipa no Tour é o José Luis Arrieta, que correu 9 Tours, 5 Giros e 9 Vueltas. As funções do Unzué na equipa são outras. A indicação dele era a certa: trocar de bicicleta.

    Cumprimentos a todos!

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