quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Quem é o melhor sprinter do mundo?

Chegada a Paris do Tour 2013
A resposta é demasiado subjetiva. O que é necessário para ser o melhor sprinter? Conquistar mais vitórias ao longo do ano, vencer mais nas provas importantes ou bater mais vezes os seus adversários diretos? De qualquer forma, até há pouco tempo Mark Cavendish parecia ser resposta consensual, um consenso que terminou na última Volta a França quando Marcel Kittel venceu quatro etapas contra apenas duas de Cav. Cavendish venceu mais ao longo do ano, mas Kittel levou a melhor quando se enfrentaram e Greipel não esteve longe.

Cavendish tinha acabado de cumprir 23 anos quando venceu pela primeira vez no Tour, com a camisola azul da Team Columbia. Em maio, antes da Columbia assumir o patrocínio da equipa, tinha conquistado duas no Giro com a camisola branca da High Road e oferecido uma a André Greipel, então seu lançador. Nos anos que se seguiram assumiu o trono dos sprinters.

O Super Mário Cipollini estava fora de cena, Erik Zabel retirar-se-ia no final dessa temporada, Robbie McEwen começou a perder fulgor e Alessandro Petacchi enfrentou nesse ano uma suspensão, à qual se juntava o avançar da idade. Tom Boonen começaria a colocar os sprints em segundo plano para priorizar as clássicas. A Daniele Bennati e Tyler Farrar, de quem muito se esperava, faltou aquele fator X que diferencia os sprinters que se destacam num par de temporadas dos sprinters que marcam gerações.

Cavendish cimentou a sua posição como o número 1. Em 2008 foram 17 vitórias e em 2009 foram 23, duas vezes sendo o mais vitorioso do mundo, primeiro com Greipel em terceiro e depois em segundo nesse ranking. 2010 foi o ano do desentendimento com o germânico. Ambos vinham de duas temporadas excecionais, mas o alemão ficou de fora da equipa para Sanremo, onde Cavendish tinha o título a defender. Tinha o título a defender mas também vários quilos a mais. Greipel, que vinha de uma fantástica prestação no Tour Down Under, não gostou de ficar de fora e daí surgiu uma troca azeda de palavras através da comunicação social, que terminou com a saída de Greipel para a Lotto (então ainda OmegaPharma-Lotto).
Primeira vitória de Cavendish no Tour, em 2008
Esperava-se ansiosamente o duelo entre os ex-colegas, mas em 2011 o germânico ficou aquém das expectativas. Levou do Tour um triunfo, mas ainda assim bem distante do nível de Cavendish, que somou uma mão cheia e a camisola verde, a única da sua carreira até agora.

Em 2012, na Sky de Bradley Wiggins, Cavendish teve menos apoio, mas ainda assim terminou com três vitórias no Giro e outras tantas no Tour, num total de 15 na temporada. Já Greipel, depois de afinar o comboio na Lotto, igualaria o número do rival no Tour, ainda que no confronto direto a balança continuasse a cair para o mesmo lado. Entretanto formava-se um outro monstrinho alemão, com 1,89 metros de tamanho e 86 quilos: Marcel Kittel.

Kittel representava a modesta Skil-Shimano mas tinha apenas 23 anos quando venceu pela primeira vez numa grande. Foi na Vuelta 2011, à frente de Peter Sagan, com quem já tinha medido forças na Polónia. Em 2012 estreou-se no Tour mas ao segundo dia foi afetado por uma infeção viral e desistiu ainda na primeira semana. Em 2013 houve finalmente o confronto entre os três. Uma para Greipel, duas para Cavendish, quatro para Kittel.
Quando Greipel e Cavendish eram (bons) colegas
Aos 28 anos de idade, Mark Cavendish já possui um palmarés sem par. Venceu tudo o que um sprinter ambiciona, com exceção dos Jogos Olímpicos de fundo, uma prova demasiado imprevisível e aberta para fazer valer o favoritismo que lhe atribuíam em 2012. Já Greipel tem 31 anos anos, faltou-lhe sempre algo para chegar ao nível de Cav e dificilmente lá chegará. Kittel, três anos mais jovem que o homem da Ilha de Man, poderá lá chegar.

São ciclistas com algumas diferenças nas características físicas mas sobretudo na forma como encaram o ciclismo.

Da carreira do ex-campeão mundial fazem parte várias birras, vários problemas com a imprensa e várias palavras azedas dirigidas àqueles que o rodeiam. Nesse aspeto é o oposto de Greipel, que sempre primou pela relação que conseguia criar com a maioria dos seus colegas (Cavendish foi uma das poucas exceções, se não a única). Greipel é o tipo de colega que lamenta por não conseguir colocar a cereja no topo do bolo dos colegas. Cavendish é o tipo que não sorri para o público mas sorri para todos os colegas, os mecânicos, os massagistas, toda a gente que o rodeia à partida. Mas se algo não correr como queria, saiam da frente.

Uma das últimas histórias que o demonstram aconteceu no último Giro. Cavendish já tinha vencido três etapas e quando olhou para a 13ª (ver perfil aqui) achou que não era para si. Tinha 254 quilómetros de extensão, uma subida de terceira categoria a 35 da meta e continuava algo acidentada até ao final. Tinha vencido na véspera e achava-se no direito de abdicar desta. Os seus diretores tinham opinião contrária e terá havido choque de opiniões antes da partida quando se discutiu a estratégia para esse dia. Cav não queria, mas o diretor desportivo mandou a sua equipa para a frente do pelotão ainda a meio da etapa. os fugitivos chegaram a ter 13 minutos de vantagem mas os responsáveis da Omega Pharma-Quick Step queriam um final ao sprint para Cavendish, que por sua vez queria descansar. Quando chegaram as dificuldades, Cavendish foi moralmente obrigado a esforçar-se para aguentar o ritmo para não deitar por terra o esforço dos seus companheiros. Foram muitos os sprinters que cederam, mas Cavendish aguentou e no final levou a vitória.

Tudo ficou bem? Não. Segundo quem lá estava, o sprinter só voltou a falar com seus diretores no dia seguinte.

Kittel parece mais próximo do seu compatriota, capaz de unir a equipa à sua volta e mantê-la altamente motivada para os seus objetivos (que são os da equipa). Apenas quer sprinters e vencer.

À parte deste trio, Peter Sagan parece cada vez mais focado nas clássicas. Continuará a disputar o Tour, os sprints e a camisola verde, mas os seus principais objetivos passam pelas grandes clássicas. Sobretudo Sanremo e Flandres. Talvez Bouhanni, Demaré ou Viviani cheguem lá, mas para já Cavendish, Kittel e Greipel estão noutro nível.

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Votação na coluna do lado direito.

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Num programa de rádio, Óscar Pereiro conta a compra e venda de uma etapa do Tour 2005. A história dessa etapa já tinha sido aqui contada, mas agora Pereiro revela o que estava por trás. O espanhol descarregou 12 dos seus colegas de fuga, mas não George Hincapie. O norte-americano nunca ajudou porque tinha o líder Lance Armstrong lá atrás e Pereiro correu como um idiota, puxando toda a subida sem tentar desfazer-se de Hincapie. Agora Pereiro conta que Hincapie se aproximou dele e lhe disse o valor pelo qual estava disposto a comprar a vitória. Hincapie vivia em Girona (Espanha), onde a US Postal tinha o seu quartel-general (agora é a Garmin), mas parece que não se entenderam bem e Pereiro pensou que Hincapie lhe estava a oferecer a etapa a troco daquele montante. Pereiro aceitou. Tinha que pagar mas ficava com a etapa assegurada e a sua equipa também lhe daria um bónus pela conquista. A 200/300m da meta, meteu-se na frente e acelerou pensado que não teria resposta, mas era cedo demais e Hincapie (mais fresco) disparou para a vitória. Pereiro recebeu o pagamento pela etapa cedida e no dia seguinte arrancou ele para o triunfo.

Na entrevista, Pereiro conta que se arranjou para a foto final, meteu os óculos de sol e fechou o equipamento porque pensava que tinha comprado a etapa, o que não é verdade (como se pode ver nesta foto nos metros finais). Não custa pensar que há mais algumas mentiras na história e que Pereiro simplesmente vendeu o triunfo porque é assim que a coisa por vezes funciona. Até porque os dois já iam falando muito antes da entrada no último quilómetro, como conta o espanhol.

Esse é o nível.


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Segundo um estudo, as pessoas acham os ciclistas mais inteligentes, cool  e caridosos  que a maioria das pessoas. Talvez tenha algo a ver com a história anterior.

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