A época das corridas de pavé está aí em força e aproximam-se Volta a Flandres e Paris-Roubaix. Mas se estas clássicas são tão importantes nos dias de hoje, muito se deve aos grande campeões que fizeram a sua história e esta crónica recorda cinco dos maiores. São histórias de quem foi protagonista na história da Volta a Flandres e do Paris-Roubaix.
Rik Van Steenbergen (1944-1961)
Achiel Buysse tinha vencido três das últimas quatro edições, era o recordista de triunfos da Volta a Flandres e partia como principal candidato à vitória, mas um jovem de 19 anos bateu toda a concorrência na edição de 1944, Rik Van Steenbergen. Rik I, como ficaria conhecido, era demasiado jovem mas tinha conquistado o direito a correr a Ronde quando no ano anterior venceu o campeonato nacional.
Se hoje em dia basta estar numa equipa World Tour para poder disputar as melhores corridas e existem contratos com várias temporadas de duração, naquela época era bem diferente. As equipas procuravam os melhores ciclistas e estes podiam representar várias equipas ao longo do ano. Por exemplo, podiam representar uma na Bélgica, mas se essa não ia ao Tour, poderiam representar outra na Volta a França. De Van Steenbergen diz-se que, onde estivesse o dinheiro, ele também estava. Bastava que lhe dissessem onde era a prova, a que horas começava, quanto lhe iam pagar e quanto demoravam a pagar. Talvez por isso tenha participado em tão poucas grandes voltas, preferindo provas de um dia. O resultado são mais de 1600 vitórias, sobretudo na estrada (desde o Campeonato do Mundo e o Paris-Roubaix a pequenos critérios) mas também muitas nas pistas.
Em 1946 venceu pela segunda vez a Ronde e em 1948 o Paris-Roubaix, algo que alguns grandes campeões de Flandres nunca tinham feito nem fariam, como o próprio Buysse.
Uma das suas vitórias mais marcantes aconteceu no Paris-Roubaix 1952. Consigo estava Fausto Coppi, que então já tinha vencido três Giros, um Tour e o Paris-Roubaix de 1950. Além das já citadas conquistas de Van Steenbergen, o belga tinha sido campeão mundial em 1949, impondo-se num sprint a três em que Fausto Coppi se ficou pelo bronze. Van Steenbergen bateu Coppi e venceu o seu segundo Paris-Roubaix. Meses depois, numa das suas raras participações, seria segundo no Giro atrás de Fiorenzo Magni, tricampeão do Giro e da Ronde. Tempos em que era possível o mesmo ciclista vencer provas tão distintas.
Do seu incrível palmarés constam duas Voltas a Flandres, dois Paris-Roubaix, um Milano-Sanremo, duas Flèche Wallone e três títulos mundiais, um recorde que detém com Alfredo Binda, Eddy Merckx e Oscar Freire.
Desde 1991 que se realiza o GP Rik Van Steenbergen, que depois da morte do ex-ciclista em 2003 se tornou Memorial Rik Van Steenbergen. Em 2012 foi vencido por Theo Bos, em 2013 não se realizou mas este ano volta a estar no calendário da UCI, em setembro.
Se hoje em dia basta estar numa equipa World Tour para poder disputar as melhores corridas e existem contratos com várias temporadas de duração, naquela época era bem diferente. As equipas procuravam os melhores ciclistas e estes podiam representar várias equipas ao longo do ano. Por exemplo, podiam representar uma na Bélgica, mas se essa não ia ao Tour, poderiam representar outra na Volta a França. De Van Steenbergen diz-se que, onde estivesse o dinheiro, ele também estava. Bastava que lhe dissessem onde era a prova, a que horas começava, quanto lhe iam pagar e quanto demoravam a pagar. Talvez por isso tenha participado em tão poucas grandes voltas, preferindo provas de um dia. O resultado são mais de 1600 vitórias, sobretudo na estrada (desde o Campeonato do Mundo e o Paris-Roubaix a pequenos critérios) mas também muitas nas pistas.
Em 1946 venceu pela segunda vez a Ronde e em 1948 o Paris-Roubaix, algo que alguns grandes campeões de Flandres nunca tinham feito nem fariam, como o próprio Buysse.
Uma das suas vitórias mais marcantes aconteceu no Paris-Roubaix 1952. Consigo estava Fausto Coppi, que então já tinha vencido três Giros, um Tour e o Paris-Roubaix de 1950. Além das já citadas conquistas de Van Steenbergen, o belga tinha sido campeão mundial em 1949, impondo-se num sprint a três em que Fausto Coppi se ficou pelo bronze. Van Steenbergen bateu Coppi e venceu o seu segundo Paris-Roubaix. Meses depois, numa das suas raras participações, seria segundo no Giro atrás de Fiorenzo Magni, tricampeão do Giro e da Ronde. Tempos em que era possível o mesmo ciclista vencer provas tão distintas.
Do seu incrível palmarés constam duas Voltas a Flandres, dois Paris-Roubaix, um Milano-Sanremo, duas Flèche Wallone e três títulos mundiais, um recorde que detém com Alfredo Binda, Eddy Merckx e Oscar Freire.
Desde 1991 que se realiza o GP Rik Van Steenbergen, que depois da morte do ex-ciclista em 2003 se tornou Memorial Rik Van Steenbergen. Em 2012 foi vencido por Theo Bos, em 2013 não se realizou mas este ano volta a estar no calendário da UCI, em setembro.
Rik Van Looy (1953-1970)
Copenhaga, cidade de bicicletas, recebia os seus quartos Campeonatos Mundiais em 1956 quando Rik Van Steenbergen, Rik I, alcançou o seu segundo título. Logo atrás de si ficou Van Looy, Rik II.Em 54 disputou algumas provas com a Bianchi e com Fausto Coppi aprendeu como liderar uma equipa, o que lhe seria bastante útil quando mais tarde assumiu o comando da Faema, dirigida inicialmente por Learco Guerra, ex-vencedor do Giro e ex-campeão mundial.
Em 55 enganaram Van Looy. Convenceram-no a ir ao Giro com a promessa de que seria uma boa corrida para ele, que preferia os sprints às montanhas. Numa altura em que ainda estava a cumprir serviço militar, Van Looy não tinha a preparação necessária e desistiu na nona etapa. Voltaria em 59 para ser 4º e vencer quatro etapas. Ao longo da carreira venceu 12 no Giro, 9 no Tour e 18 na Vuelta, sendo o sexto ciclista com mais vitórias de etapas em grandes voltas.
Mas foi nas provas de um dia que se destacou. Em 58 venceu a Milão-San Remo e iniciou a caminhada para se tornar o primeiro ciclista a vencer os cinco Monumentos. A Volta a Flandres foi em 59 e 62, o Paris-Roubaix em 61, 62 e 65, a Liège-Bastogne-Liège em 61 e o Giro di Lombarida em 59. Em 60 e 61 foi campeão mundial.
Em 1967 teve a sua última oportunidade para vencer um Monumento. Pela primeira a floresta de Arenberg estava no trajeto do Paris-Roubaix, Van Looy entrou no Velódromo no grupo que comandava a corrida, composto por uma dezena de homens, e num sprint muito apertado foi segundo. Nesse grupo estava também um jovem chamado Edouard Merckx, oitavo nesse dia. Van Looy não voltaria a vencer um Monumento, mas ainda venceria novamente no Paris-Tours, a única grande clássica que o tal Edouard nunca conquistou.
Van Looy impô-se por três vezes na Gent-Wevelgem (onde é um dos cinco recordistas) e quatro no Prémios E3 de Flandres (onde apenas é superado por Tom Boonen).
| Rik Van Looy, campeão do mundo em título, vence a Volta a Flandres 1962 |
Eddy Merckx (1965-1978)
Foi na Solo-Superia de Van Looy que em 65 se tornou ciclista profissional aquele que viria a ser o melhor de todos os tempos: Eddy Merckx. Os caminhos separam-se no ano seguinte quando Merckx se mudou para a Peugeot e assim nasceu a rivalidade. Van Looy contra Merckx, o novo contra o velho. "Se Merckx é quem manda, terá que o provar", disse Rik II em 68, depois do seu compatriota perder a Milano-Sanremo e desistir do Paris-Nice (porque Merckx era humano e também falhava).Antes do Paris-Roubaix desse ano, Van Looy prometeu que ia causar dor nas pernas dos "miúdos", mas três furos não lhe deram oportunidade para nada. A vitória seria para Merckx, com a camisola arco-íris do seu primeiro título mundial. No ano seguinte estreou-se a vencer na Volta a Flandres mas no Paris-Roubaix foi derrotado por Walter Godefroot, belga que tinha vencido o Porto-Lisboa de 67.
Em 1970, já com um Giro e um Tour no bolso, voltou a mostrar quem mandava em Roubaix. Segundo os relatos da época, furou a 56 quilómetros da meta, reentrou na cabeça-de-corrida e venceu. Com cinco minutos de avanço sobre Roger De Vlaeminck. Era o primeiro pódio de De Vlaeminck, que também ele merece lugar próprio nesta crónica, mas é impossível falar de Merckx sem falar de De Vlaeminck e falar de De Vlaeminck sem falar de Merckx.
Cinco dias depois voltariam a encontrar-se no pódio, no caso de Liège, quando De Vlaeminck conquistou o seu primeiro Monumento e Merckx foi terceiro. E logo a seguir seria o pódio da Flèche Wallone o local de encontro, com De Vlaeminck 3º e Merckx vencedor.
Com a já mencionada exceção do Paris-Tours, Merckx conquistou tudo o que importava naquela época. Cinco Giros e outros tantos Tours, uma Vuelta, três Mundiais e um total de dezanove Monumentos. Entre eles, duas Voltas a Flandres e três Paris-Roubaix. Também dois Circuitos Het Volk (agora Het Nieuwsblad) e três Gent-Wevelgem (é outro dos recordistas).
| Eddy Merckx, também ele com a camisola de campeão do mundo, arranca para a vitória no Paris-Roubaix 1968 |
Roger De Vlaeminck (1969-1984)
De Vlaeminck teve o azar de pertencer à geração de Merckx e de ficar na sua sombra. O melhor resultado numa grande volta foi um quarto posto no Giro e faltou-lhe um título mundial, mas no Paris-Roubaix nunca houve ninguém melhor que ele. O Monsieur Paris-Roubaix (ou o Cigano, como também era conhecido) venceu o Inferno do Norte por quatro ocasiões e noutras tantas foi segundo.Nas catorze ocasiões em que desceu ao Inferno do Norte, apenas desistiu uma. Nas treze restantes, o pior resultado foi um sétimo posto. "Quando estás em forma, dificilmente tens um furo porque estás mais lúcido. Furei uma vez, em 1970, e nunca mais em dez anos. O outro segredo é a confiança. Eu começo sempre com a ideia que vou vencer" disse um dia.
A sua primeira conquista em Roubaix foi em 72 e a partir do ano seguinte começaria a representar a Brooklyn. Por esta altura já não era frequente os ciclistas correram por várias equipas durante a mesma temporada. Apesar do nome e do histórico equipamento inspirado na bandeira dos EUA, a Brooklyn era uma equipa italiana, patrocinada por marca de pastilhas elásticas com o mesmo nome.
Em 75 deu-se uma das suas mais emblemáticas vitórias. Entrou no Velodromo com os seus compatriotas André Dierickx, Marc Demeyer e Eddy Merckx, novamente campeão mundial. Os quatro percorreram a primeira volta a um ritmo muito baixo, evitando o lançamento do sprint. Já na última volta, Eddy Merckx arrancou, saiu da última curva na frente mas De Vlaeminck veio por fora e conseguiu bater o Canibal sobre o risco.
Em 77 tornou-se o primeiro ciclista a vencer por quatro vezer o Paris-Roubaix, mas só nesse ano conseguiu a sua primeira Volta a Flandres, tornando-se assim o terceiro da história a vencer os cinco Monumentos, depois de Van Looy e Merckx. Não deixa de ser curioso que para o melhor ciclista de sempre do Paris-Roubaix, o monumento mais difícil de conquistar tenha sido a vizinha Volta a Flandres.
Ao longo da sua rica carreira, além das já mencionadas vitórias, obteve três na Milano-Sanremo, duas na Lombardia, dois Circuitos Het Volk, um Prémio E3 de Flandres e oito títulos mundiais de ciclocrosse, entre muitos mais sucessos. Se hoje parece comum os belgas dominarem no crosse, antes de De Vlaeminck nunca nenhum tinha sido campeão mundial.
| Roger De Vlaeminck a caminho de mais uma vitória em Roubaix |
Johan Museeuw (1988-2004)
Desde De Vlaeminck até ao seguinte "histórico" houve um pequeno interregno. Johan Museeuw iniciou a sua carreira profissional em 88 na ADR, onde seria colega de Greg LeMond em 89, quando o norte-americano conquistou aquela Volta a França durante quatro dias liderada por Acácio da Silva.Ao longo da década de 90 foi um monstro das clássicas. O Leão de Flandres venceu por duas ocasiões a Taça do Mundo e foi o recordista de triunfos em provas da Taça, com onze. Também venceu Amstel Gold Race, Paris-Tours, Vattenfall Cyclassics e Campeonato de Zurique (2x), mas foi sobre pedras que se destacou, com muitas vitórias mas também muitos segundos e terceiros lugares. Na Volta a Flandres foram três vitórias num total de oito pódios e em Roubaix o mesmo número de vitórias entre seis pódios. A estas conquistas juntam-se dois Het Volk e dois Prémios E3.
Foi protagonista de alguns dos desfechos mais marcantes do Paris-Roubaix nos últimos 20 anos. Em 1996 entrou no Velódromo com os seus companheiros Gianluca Bortolami (2º) e Andrea Tafi (3º), dando à Mapei uma tripla história e deixando o quarto classificado a mais de dois minutos e meio. E em 2001 voltou a estar no pódio acompanhado por dois colegas, desta vez em segundo, atrás de Servais Knaven e seguido do então campeão mundial Romans Vainsteins, todos da Domo-Farm Frities.
Ao longo de quase toda a carreira foi fiel a Patrick Lefevere. Em 95, quando Lefevere deixou a GB-MG para a então fundada Mapei-GB, Museeuw foi com ele. Em 2001, quando Lefevere deixou a Mapei-Quick Step e rumou à Domo-Farm Frities, o Leão de Flandres esteve mais uma vez com ele. E quando a Mapei deixou o patrocínio da equipa no final de 2002, foram figuras principais da Quick Step-Davitamon, enquanto a empresa Domo Frities se juntou à Lotto.
Depois de dois graves acidentes que colocaram a sua carreira em risco, o primeiro em 98 provocado por uma queda na floresta de Arenberg que quase levou à amputação de uma perna, e o segundo no acidente de trânsito, aos 37 anos ainda tinha muito a dar à sua equipa. Uma das suas tarefas na Quick Step seria ajudar a nova estrela de Lefevere, o jovem Tom Boonen que tinha estado ao seu lado no seu último pódio de Roubaix. Museeuw venceu aos 36 anos e Boonen foi terceiro aos 21.
Museeuw escolheu retirar-se na Primavera de 2004, com uma último objetivo: igualar o recorde de quatro vitórias de Roubaix de De Vlaeminck. O veterano Johann e o jovem Tom estiveram sempre muito atentos, garantindo que a Quick Step estava presente em todas as movimentações perigosas. Mas foi Museeuw que, no setor de Carrefour de l'Arbe a 17 km da meta, lançou o ataque que deixaria consigo apenas Magnus Bäckstedt, Tristan Hoffman, Roger Hammond e Fabian Cancellara. A discussão da vitória estava limitada aos cinco, Museeuw estava perante uma oportunidade de ouro de igualar De Vlaeminck, mas um furo a sete quilómetros do final arruinou a sua corrida. Terminou no quinto lugar, de mão dada com o seu rival Peter Van Petegem, que tinha também ele furado quando Museeuw lançou o ataque decisivo. A sua última competição foi poucos dias depois, o Scheldeprijs, vencido por Tom Boonen. Estava passado o testemunho.
| Johan Museeuw conquista o Paris-Roubaix 2000 |
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Próximas clássicas de pavé:
26/03 - Através de Flandres / Dward door Vlaanderen
28/03 - Prémio E3 de Flandres / E3 Prijs Vlaanderen (World Tour) - Eurosport
30/03 - Gent-Wevelgem (Wourld Tour)
06/04 - Volta a Flandres / Ronde van Vlaanderen (World Tour) - Eurosport
13/04 - Paris-Roubaix (World Tour) - Eurosport e TVI 24
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Outros artigos sobre clássicas de pavé e a sua história:
22/02/2013: Que comecem as clássicas da Primavera
27/03/2013: Histórias das cinco clássicas Monumento
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Fabian Cancellara's last 10 Monuments finished pic.twitter.com/pGjAUa77kd
— Rui Quinta (@CarroVassoura) 23 março 2014
Últimos 10 Monumentos que Cancellara terminou (na Ronde 2012 desistiu por queda). Fenómeno!

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