sexta-feira, 7 de março de 2014

Strade Bianche: a corrida das estradas brancas

Todas as corridas tem algo que as assemelha a outra. Montanhas, circuitos citadinos, muros ou setores de pavé são características comuns a várias provas e não é fácil apresentar algo único, mas a Strade Bianche é aquela que mais se aproxima disso, com os seus troços de estrada não asfaltada.

Foi em 1997 que se correu pela primeira vez l'Eroica, com 92 amantes das bicicletas dispostos a percorrer algumas das estradas brancas da Toscana. As estradas brancas mais não eram do que estradas sem alcatrão, cobertas de poeira branca que se levantava com o passar das bicicletas. Os 92 cicloturistas de 1997 deram lugar a 150 no ano seguinte e 1500 em 2006, um crescimento impressionante que mais tarde obrigou a limitar a participação a 5000 pessoas, número que tem sido alcançado.

Assistindo a este sucesso, a RCS Sports (organizadora do Giro d'Itália e de todas as principais provas do país) viram a oportunidade de criar uma prova única. Chamaram-lhe Monte Paschi Eroica. Eroica em função das origens, o tradicional passeio de cicloturismo, e Monte Paschi em função de quem metia o dinheiro, o banco Monte Paschi de Siena, o mais antigo do mundo, fundado em 1472. Alexandr Kolobnev foi o vencedor da primeira edição, disputada em outubro de 2007.

Apenas cinco meses depois seria disputada a segunda edição do Monte Paschi Eroica, que passava a ocupar o lugar da Milano-Torino em março. A l'Eroica original continua a disputar-se em outubro, com os já referidos 5000 participantes divididos pelos vários percursos (mais ou menos longos) nas suas bicicletas clássicas. Desde 2009 apenas podem alinhar bicicletas antigas, fabricadas antes de 1987, em alumínio e com encaixe de sapatos antigos (ver foto), mas ainda assim são 5000 os cicloturistas que se juntam para percorrer as strade bianche da Toscana.

Também a competição de profissionais foi ganhando cada vez mais interesse e as cinco equipas Pro Tour de 2007 deram lugar a nove no ano seguinte e doze em 2013. Pelo caminho, em 2009 deixou de chamar Eroica para ser Monte Paschi Strade Bianche e em 2012 deixou de ter o banco como principal patrocinador.

Percurso

As sete primeiras edições da Strade Bianche tiveram início na pequena localidade de Gaiole in Chianti, com menos de 3000 habitantes, sendo este ano trocada pela não muito maior San Gimignano (8000 habitantes). Mas apesar das alterações do percurso, todo ele continua a ser disputada em zona rurais, por entre os calmos campos que são uma imagem de marca da Toscana.

Ao longo dos 200 quilómetros há dez setores de estrada não alcatroada que tornam a prova diferente, totalizando 45,1 quilómetros. E apesar da trepidação recordar os setores de pavé belgas, a Strade Bianche é uma prova de características diferentes. Os setores variam entre os 800 metros e os 11,5 quilómetros de extensão.

Há ainda que contar com um constante sobe-e-desce que não permite os ciclistas descansarem por muito tempo e rampas de grandes inclinações. Curtas, mas muito inclinadas. Um desses exemplos está no último setor de sterato. A 12 quilómetros do final os ciclistas deparam-se com alguns metros a 18% de inclinação em estrada não alcatroada.

A derradeira dificuldade está já dentro do último quilómetro. São 600m a 9% de inclinação e depois 300 metros de descida. Tudo isto no Centro Histórico de Siena, Património Mundial da UNESCO. As estradas são estreitas mas é muito o público que se junta no pouco espaço que existente entre as baias e as casas antigas.

A Strade Bianche não é, contudo, a única prova a usar estradas não alcatroadas. O Tro-Bro León, criado em 1984, também o faz, mas a prova francesa nunca conseguiu atrair as grandes estrelas internacionais. Os últimos três vencedores do Tro-Bro León foram Vicent Jérôme, Ryan Roth e Francis Mourey. Os últimos três vencedores da Strade Bianche foram Philippe Gilbert, Fabian Cancellara e Moreno Moser, o que mostra a diferença entre o nível de participação das duas provas.

Os protagonistas

Esta é uma corrida para homens fortes, especialistas em clássicas mas não apenas em clássicas de pavé. Por isso vemos entre os vencedores Fabian Cancellara (2008 e 2012) mas também Philippe Gilbert (2011) ou Moreno Moser (2013).

No próximo sábado estarão presentes onze formações da primeira categoria: Astana, BMC, Cannondale, Lampre, Movistar, Omega Pharma, Giant, Katusha, Sky, Tinkoff e Trek. A estas juntam-se as italianas Androni, Bardiani e Yellow Fluo, a Colombia (que tem base em Itália) e as forasteiras IAM Cycling, MTN e UnitedHealthcare. Para evitar maiores problemas, os organizadores optam por limitar o número de equipas participantes. Menos ciclistas e menos carros de apoio reduzem os riscos de engarrafamento em estradas que estão longe de estar preparadas para grande tráfego.

Entre os inscritos para esta edição estão Fabian Cancellara (Trek), Peter Sagan e Moreno Moser (Cannondale), Cadel Evans (BMC), Roman Kreuziger e Nicolas Roche (Tinkoff), Michal Kwiatkowski e Rigoberto Uran (Omega Pharma), Alejandro Valverde e Nairo Quintana (Movistar), Damiano Cunego, Diego Ulissi e Filippo Pozzato (Lampre), Bradley Wiggins e Ian Stannard (Sky). Um bom lote de figuras de primeira linha para as clássicas da Primavera e para as provas por etapas que aí vêm, nomeadamente o Tirreno-Adriático onde depois estarão uma boa parte destes.

Sérgio Paulinho será o único português em prova.

Transmissão

A prova terá transmissão em direto no Eurosport 2 a partir das 13:30 de sábado.

Em italiano...

Regra geral, em português o plural faz-se através de um s no final das palavras. Não é sempre, mas é a regra geral. Por isso pode fazer alguma confusão o "strada" e o "strade" ou o "sterrati" e "sterrato".

Strada significa estrada, mas o plural é strade. Sterrato refere-se a uma estrada não alcatroada e o seu plural é sterrati.
Último vencedor: Moreno Moser

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