quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O que oferece Vitor Gamito à Volta e ao ciclismo

Foi em 2000
Quando no final de 2013 Vitor Gamito anunciou a sua vontade de correr por mais uma vez a Volta a Portugal, aos 44 anos e 10 depois de se retirar, as reações foram as mais variadas. Uns acharam que era loucura e que não o deveria fazer, outros começaram de imediato a recordar as figuras e as Voltas de há 10-15 anos atrás. Uns perceberam que ia apenas participar, outros começaram a colocar objetivos desportivos, no top-10, numa vitória de etapa.

O Vitor Gamito foi sem dúvida uma das maiores figuras da Volta a Portugal durante a década de 90. Em 1993, com apenas 23 anos, foi segundo na Volta atrás de Joaquim Gomes. Repetiu no ano seguinte atrás de Orlando Rodrigues e em 96 atrás de Massimiliano Lelli.

A derrota mais frustrante foi a de 1999, porque foi a quarta e porque perdeu a liderança no contrarrelógio final, logo ele um especialista no contrarrelógio. Do ano seguinte ficam as imagens da sua subida à Torre e da ultrapassagem a Claus Möller no último contrarrelógio, selando uma vitória que seria de quase quatro minutos.

Em 2003 venceu uma etapa e foi sexto na classificação geral, foi convidado para integrar a Milaneza-Maia mas no começo do ano um exame médico detetou-lhe um problema cardíaco e foi-lhe retirada a licença desportiva. Exames posteriormente realizados não comprovaram os problemas e por isso continuou a praticar desporto, no caso BTT. E para 2014 colocou como objetivo fazer a Volta a Portugal.

Quando Armstrong anunciou que regressaria em 2009, anunciou também o objetivo de lutar por mais uma Volta a França. No ano passado Chris Horner venceu a Vuelta à  beira dos 42 anos. Talvez com esses exemplos em mente muitos adeptos pensaram que Gamito poderia lutar por algum objetivo desportivo, mas neste caso foram 10 anos afastado do ciclismo de elite e, perto de completar 44 anos, sempre quis deixar bem claro que não havia nenhum objeivo competitivo. Queria uma equipa que lhe permitisse correr a Volta, despedir-se da competição e do seu público, ter uma outra vista sobre a festa que é a Volta.

Regra geral, depois dos seus melhores anos os ciclistas correm mais alguns a ajudar os seus companheiros ou lutando eles mesmos por conquistas mais modestas e, com menor pressão, desfrutam de uma forma diferente do ciclismo. Gamito nunca teve esse privilégio. A última Volta a Portugal que correu foi a de 2003, como líder da Cantanhede-Marquês de Marialva. Foi sexto, venceu uma etapa e não sabia que seria a última.

Acredito que entre dois ciclistas que têm o mesmo a oferecer à equipa, mas um é jovem com doze ou treze anos de ciclismo pela frente e ao outro restam-lhe dois ou três, se deve dar a oportunidade ao jovem que pode evoluir.

Mas isso é quando os dois ciclistas têm o mesmo a oferecer, o que não acontece quando Vitor Gamito entra na equação. Aqui o caso é diferente, porque nenhum ciclista pode oferecer o que o Gamito oferece ao público, aos patrocinadores da equipa e até mesmo à Volta a Portugal e ao ciclismo.

Sempre foi um curioso pela tecnologia. Foi um dos primeiros (e dos melhores) ciclistas a utilizar as redes sociais quando estas surgiram, mesmo que na altura já não fosse profissional. Foi diretor desportivo da Riberalves-Goldnutrition e da Riberalves-Alcobaça e depois responsável pela comunicação da Riberalves-Boavista quando a empresa alimentar se juntou à equipa boavisteira. Mas mesmo não estando na estrada, Gamito continuou presente à sua maneira e através das redes sociais ganhou a simpatia dos praticantes de BTT sem perder o contacto com os amantes da estrada.


Com 311 mil seguidores no facebook, Rui Costa está num nível inigualável para qualquer ciclista português. Mas à parte do campeão mundial, quem lidera este indicador de popularidade é... Vitor Gamito, com 55 mil, quase o dobro de Tiago Machado (27 mil), terceiro. Em relação aos colegas de pelotão nacional não existe comparação.

Aos 44 anos não tem capacidade para lutar por nada na Volta além de chegar ao fim, um objetivo para o qual está devidamente preparado. Além disso, amplia consideravelmente a visibilidade dos patrocinadores da LA Alumínios-Antarte e dos seus patrocinadores pessoais. E para ele, a Volta a Portugal começou há muito tempo.

Não foi apenas a preparação física que levou meses. Foi todo o destaque conseguido nos meios de comunicação social, quer desportiva, quer generalista. As entrevistas e reportagens feitas sobre o regresso do ex-vencedor da Volta que regressa 10 anos depois, com impressionantes 44 de idade chamaram a atenção para a Volta a Portugal e para o ciclismo em geral.

Para os mais novos que nunca o viram correr, gera curiosidade. Para os mais velhos, Gamito trás recordações. Também é um exemplo para todos os quarentões (e por aí fora) que além das responsabilidades familiares e profissionais procuram tempo para praticar desporto e desafiam a sua capacidade física.

E no final, é este destaque e esta atenção que Vitor Gamito tem a oferecer à Volta a Portugal e ao ciclismo nacional.

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