Elites portugueses na prova de fundo do Mundial 2013 |
(Existe um a ressalva. As contas apenas serão fechadas a 15 de agosto e então ainda será necessário esperar mais alguns dias até que sejam oficialmente publicadas mas meti a calculadora a funcionar e estes são os resultados. Se estiverem errados, culpa minha. Se estiverem corretos, é o seguinte.)
Em 2005 o ciclismo internacional passou a estar organizado em três categorias de equipas (Pro Tour, Continentais Profissionais e Continentais) e quatro categorias de provas (Pro Tour, .HC, .1 e .2) e Portugal estava numa situação privilegiada para levar seis ciclistas ao Campeonato do Mundo de elites.
O GP do Oeste (.2) realizou-se pela última vez em 2005 mas logo então surgiu a Volta ao Distrito de Santarém, que até era de categoria superior (.1). Em 2007 foi a vez do GP Costa Azul (.1) desaparecer mas o GP Rota dos Móveis subiu à categoria internacional (.1) e Portugal ficou com sete provas internacionais, uma por mês. Começava na Volta ao Algarve em fevereiro, seguia-se a Volta a Santarém em março, a Alentejana em abril, o GP Paredes Rota dos Móveis em maio, o GP CTT Correios de Portugal em junho e o Troféu Joaquim Agostinho em julho como preparação para a Volta a Portugal que terminava a 15 de agosto, ainda a tempo de contar para o apuramento para o Mundial. Havia ainda o GP de Portugal da Taça das Nações sub-23, onde as promessas portuguesas competiam com as promessas de outros países. Lá tiveram lugar duelos entre Vítor Rodrigues e Rein Taaramae, Ricardo Vilela e Sergio Henao ou Nelson Oliveira e Tom Dumoullin.
Com tudo isto, Portugal fazia muitos pontos. Os melhores ciclistas nacionais corriam em Portugal (exceção de Sérgio Paulinho que já estava no Pro Tour) e tinham sete provas para pontuar, além de muitas provas em Espanha. Mas então veio a crise e a torneira do dinheiro público apertou. O Troféu Joaquim Agostinho baixou de categoria em 2008, no ano seguinte já não houve Volta a Santarém e em 2010 a Volta a Portugal e a Volta ao Alentejo baixaram de categoria, enquanto o GP CTT e o GP Rota dos Móveis foram mesmo anulados. O ciclismo português ficou com menos provas internacionais, de menor categoria (valendo menos pontos) e com menos dias. Além disso, as equipas nacionais deixaram de ter condições para segurar os melhores portugueses, que partiram para pelotões mais competitivos, onde fazem menos pontos.
Espanha sofria do mesmo mal que Portugal. Também lá apertaram a torneira do dinheiro público, provas desapareceram, outras foram reduzidas (em categoria e/ou dias) e desde então os portugueses trazem menos pontos do país vizinho.
Como se costuma dizer, um mal nunca vem só, e meia dúzia deles também traz sempre mais um. Nos últimos dois anos a Volta a Portugal terminou após 15 de agosto e por isso os pontos das classificação geral ficavam fora das contas, deixando Portugal muito mal classificado e a representação lusa limitada a três ciclistas nos últimos dois Mundiais**, o que ainda assim não impediu a conquista do maior feito da história do ciclismo nacional.
Este ano a Volta a Portugal foi antecipada uma semana e essa mudança foi decisiva para o apuramento nacional. Perto de 25% dos pontos portugueses conquistados até ao momento foram obtidos na Volta a Portugal. Mais importante ainda foi Tiago Machado. São dele 37% dos pontos de Portugal no Ranking Europeu.
O atual sistema de qualificação é altamente deficiente, pois as seleções apenas se podem qualificar (hipótese 1) com base nos pontos conquistados por ciclistas World Tour em provas World Tour ou (hipótese 2) pontos conquistados por ciclistas de equipas continentais (nas duas categorias) em provas continentais. As duas hipóteses não são somadas.
Significa isto que os pontos de Rui Costa não entraram nestas contas, tal como a prestação de Leopold Konig no Tour não entrou nas contas da seleção da Republica Checa, a seleção ultrapassada por Portugal à última hora. Com o atual sistema de pontos, caso Tiago Machado corresse numa equipa World Tour os seus pontos também não teriam sido contabilizados e Portugal levaria apenas quatro ciclistas ao Mundial.
Mas mal ou bem é este o sistema de qualificação, é igual para todos os países e Portugal conquistou este ano o direito a levar seis elites ao Mundial de Ponferrada. Antes disso já estava conquistada uma vaga, desde Florença, uma vez que a seleção do campeão em título tem direito a uma vaga extra (desde que não ultrapasse as nove), perfazendo assim um total de sete elites portugueses***.
Teremos assim uma equipa muito bem representada, na qual devem ser certos o campeão do mundo Rui Costa, os seus companheiros de 2013 Tiago Machado e André Cardoso e o duplocampeão nacional Nélson Oliveira.
Os portugueses que correm além-fronteiras têm melhores condições para chegar em forma ao final de setembro, enquanto os ciclistas de equipas nacionais já praticamente terminaram a temporada no final da Volta. Nesse sentido, e também pela qualidade e experiência que têm, Sérgio Paulinho e José Mendes parecem-me fortes candidatos a ser escolhidos.
Fica a sobrar uma vaga, ou até duas se algum dos anteriormente referidos ficar de fora. A escolha poderá recair entre José Gonçalves e/ou Fábio Silvestre, considerando que são dois dos jovens mais prometedores do ciclismo português, com 25 e 24 anos. Para Edgar Pinto, Jóni Brandão, Ricardo Vilela ou António Carvalho as hipóteses são mais reduzidas. Será muito difícil repetirem em Ponferrada a forma mostrada na Volta, uma vez que até lá são muito poucos os dias de competição que terão e mesmos esses serão de reduzida quilometragem.
Já nos sub-23, Portugal estará representado por quatro ciclistas, depois de apenas um participante em 2013 e da ausência de representação em 2012. Este ano serão quatro em virtude dos pontos obtidos na Volta a Portugal do Futuro, que pertenceu ao calendário internacional. Faltando disputar-se a Volta a França do Futuro, é mais difícil antever quem formará a seleção nacional sub-23 em Ponferrada, mas o campeão nacional Joaquim Silva e o vencedor da VPF Rubén Guerreiro deverão estar entre os eleitos.
Nos juniores serão três os representantes, tal como nós últimos anos, pois é esse o número garantido para qualquer nação que queira participar.
Para concluir, o gráfico da representação portuguesa em Campeonatos do Mundo de fundo em elites nos últimos 15 anos, começando num período em que vários dos melhores corredores portugueses dispensava a seleção. De referir:
* Em 2010 Portugal tinha direito a seis representantes mas apenas levou cinco à Austrália por incapacidade financeira.
** Em 2012 Portugal apenas conquistou três vagas "por mérito próprio". Porém, uma das nações de top-10 do World Tour (e por isso com direito a 9) não cumpria todos os requisitos para levar os 9 ciclistas. Portugal foi um dos países que "herdou" uma das vagas, como o Nuno Sofio recorda e bem num comentário.
*** Serão seis elites e não sete. A justificação para o erro pode ser lida aqui.
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