quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Acima de tudo, o ciclismo

Como foi escrito na segunda-feira, ao longo desta semana a Gazzetta dello Sport está a abordar a investigação ao negócio de Michele Ferrari, um dossier de mais de 500 páginas que envolverá 90 nomes de ciclistas. 38 deles já foram divulgados na quarta-feira. Antes que sejam divulgados mais, e antes que seja (eventualmente) ligado a Ferrari alguma das maiores figuras da atualidade, uma coisa gostaria que ficasse clara.

Para mim, o ciclismo é como a mulher mais bonita e interessante da festa. Que se conheceres melhor, vais ver que não é perfeita, não é como pensavas, tem defeitos, mas continua a ser mais bonita e mais interessante que todas as outras.

Isso não muda. Independentemente dos nomes que venham a público amanhã ou noutro dia qualquer, como clientes de Michele Ferrari ou outro artista qualquer, isso não muda.

A leveza de dois trepadores lado a lado na montanha, a potência dos classicomanos sobre o pavé, a velocidade dos sprinters, o público (civilizado), as bandeiras, as palmas, a ilusão de um juvenil que quer ser como os ídolos da televisão, a ansiedade de uma mãe que apenas quer que o filho não caia, um arranque, um ataque a 50 quilómetros da meta, uma fuga que vinga, outra que é apanhada a 200m do risco… essa é a beleza do ciclismo. E essa não se perde. Porque, para mim, o ciclismo é maior do que qualquer prova, qualquer equipa, qualquer ciclista. O todo é maior que a soma de cada parte.

Os problemas aqui abordados existem antes de cá chegarem. O problema não é que se fale do doping, o problema não é que se fale de salários em atraso ou de outras promiscuidades. O problema é que tudo seja verdade. Encarar de frente a promiscuidade, talvez não mude nada. Evita-la e escondê-la, seguramente não o mudará. Pelo contrário, serve de alimento. Aqueles que divulgam quem a pratica e depois se escondem quando começam a cair as bombas, vejo-os como parte do problema, não de qualquer solução.

E existe solução?

O desporto é feito à imagem da sociedade, nos seus vícios e virtudes. A sociedade nunca será totalmente honesta, mas pode sempre melhorar. Não temos que aceitar que um desportista se dope ou que um diretor desportivo não pague os salários acordados com os seus atletas da mesma forma que não temos (e não podemos) aceitar que um administrador de uma grande empresa fuja ao fisco ou que um político faça negócios ruinosos para as contas públicas mas proveitosos para o seu bolso. Para uns, ignorar e calar para agradar é o caminho mais fácil, para outros é o mais difícil. Cada um escolhe o seu lado. Este é o meu.

Os 38 nomes já conhecidos e os que se venham a conhecer entretanto serão aqui abordados. Talvez não amanhã, mas assim que haja disponibilidade, garantidamente. Certo é que não será ignorado. E antes disso, uma coisa deve ficar clara. O ciclismo é o desporto mais belo de todos!

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