terça-feira, 17 de março de 2015

Um ataque de Quintana

Alberto Contador descaiu no grupo por um instante e Nairo Quintana decidiu o Tirreno-Adriático 2015 com um ataque impossível de seguir.

Não é comum e será difícil encontrar erros táticos na carreira de Alberto Contador, que até ganhou uma Vuelta (2012) sem ser o mais forte mas por ser o melhor preparado para uma etapa que à partida se julgava irrelevante, mas na qual viria a apanhar desprevenido Joaquim Rodríguez. No entanto, no domingo Contador descuidou-se ao descair no grupo, e Nairo Quintana, que já iria a pensar no melhor momento para o fazer, não esperou mais: lançou-se ao ataque. E quando Quintana ataca, nunca é para ver no que dá, mas sim para que só o voltem a ver no pódio.
Veja quantos segundos separam o momento em que Contador descai e o ataque de Quintana: 5s

Quintana já mostrou que nasceu para subir e que o faz de uma forma como não se via há muitos anos e não se voltará a ver dentro de muitos outros. Vencer ou não um Tour dependerá de vários fatores, mas Quintana é O Trepador. É também um excelente exemplo de como o ciclismo ainda se pode correr de uma forma tão simples como há 20 ou 30 anos. Se não está forte, segue no grupo, como fez em algumas etapas do último Giro, que venceu. Se está forte, ataca. E se ataca, não há mais cálculos, não há hesitações. Como escrevi, Quintana nunca ataca para ver o que dá.

Os cálculos, as contas de somar, subtrair e somir, as hesitações, ficaram no grupo principal, que se ia fracionando com o passar dos quilómetros. Cada um dava o seu esticão, olhava por cima de um ombro e do outro e parava. Tiveram medo de gastar mais energia que a companhia e perder alguns segundos para ela nos últimos metros, e por isso foram perdendo tempo continuamente ao longo dos últimos cinco quilómetros. Se tu não puxas eu não puxo, se eu não puxo tu não puxas e assim não puxamos todos. Quintana ganhou 55 segundos ao grupo de Rodríguez, Urán, Contador, Pinot, Adam Yates e Pozzovivo. 14 segundos antes deles chegou Bauke Mollema, um ciclista que além de subir muito bem tem uma interessante ponta final (para enfrentar outros trepadores) mas tem uma grande dificuldades em passar do segundo para o primeiro lugar. Desde que chegou à Rabobank 2008, são 17 terceiros lugares, 15 segundos lugares e apenas 4 vitórias.

Por falar em segundos classificados, Peter Sagan. Mas antes dele, Adriano Malori venceu o prólogo de 5,4 quilómetros que substituiu o contrarrelógio coletivo previsto para o primeiro dia mas impedido por más condições da estrada (por consequência do mau tempo). Na primeira etapa em linha, o campeão belga Jens Debusschere venceu com Peter Sagan em segundo. E ao terceiro dia de prova, foi Greg Van Avermaet a bater Sagan.

A quarta etapa foi para Wout Poels, um ciclista que ataca muito e no sábado teve prémio, quatro anos depois de, no mesmo sítio, ter sido segundo atrás de Gilbert. No dia seguinte, da etapa rainha, deixou na meta 1'37'' para Quintana e a camisola azul de líder.

Após a vitória de etapa do colombiano, a penúltima etapa foi para Peter Sagan (é verdade! venceu mesmo). A última vitória de Sagan tinha sido no campeonato nacional do seu país, e nem foi uma vitória absoluta. É que os campeonatos da Eslováquia e da República Checa disputam-se em conjunto (ex-Checoslováquia) e num sprint a dois até foi Zdenek Stybar o primeiro na meta nesse dia, levando o título do seu país (e Sagan o da Eslováquia). Sagan não era primeiro na meta desde a terceira etapa da Volta à Suíça do ano passado, a 16 de junho. Foram exatamente, 9 meses, o que é muito para um ciclista das suas características e com a sua qualidade, que vinha de 22 vitórias em 2013.

O contrarrelógio final foi vencido por Fabian Cancellara, que havia perdido no primeiro dia por apenas um segundo. A classificação geral não sofreu alterações relevantes, com Bauke Mollema e Rigoberto Urán a acompanharem Quintana no pódio, Thibaut Pinot quarto e Alberto Contador quinto, começando a pensar na melhor desculpa para desistir da ideia de fazer Giro e Tour. Porque apesar do Tirreno-Adriático ser só o Tirreno-Adriático, para poder sequer pensar em vencer as duas é preciso uma enorme confiança, que não se alimenta sem vitórias.

Domingo haverá Milano-Sanremo, tema para abordar aqui entretanto e, como vem sendo costume antes das grandes provas, no Facebook.

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