Pela segunda vez, o Giro d'Italia chegou hoje a Madonna di Campiglio, ponto indissociável da carreira de Marco Pantani. Ali, à falta de dois dias para o término da prova, Pantani chegou à quarta vitória de etapa no Giro de 1999, com mais de cinco minutos e meio de vantagem sobre o segundo e a Volta a Itália praticamente assegurada, depois da dobradinha Giro-Tour de 1998. Ali, de onde partia a penúltima etapa, Pantani ultrapassou o limite de hematócrito permitido (50%) e foi expulso da corrida.
Foi há 16 anos, e dizem que muita coisa mudou entretanto. Na altura, a Mercatone Uno de Marco Pantani, dirigida por Giuseppe Martinelli, iniciou a subida final com 7 ciclistas no primeiro grupo. Hoje, a Astana de Fabio Aru, dirigida por Giuseppe Martinelli, iniciou a subida final com 5 ciclistas no primeiro grupo. Bom, o grupo também era mais curto do que em 1999, e no que toca à proporção deverá ser idêntico. Apesar da ausência de Dario Cataldo pendurado na subida anterior, contavam com Fabio Aru, Mikel Landa, Tanel Kangert, Paolo Tiralongo e Diego Rosa. A Astana tem todos os ciclistas no pico das suas carreiras em simultâneo, num hino às performances coletivas. Mas dizem que muita coisa mudou entretanto.
A penúltima subida sentenciou a chance de Rigoberto Urán ou Dario Cataldo chegaram ao pódio, com 8 e 14 minutos cedidos hoje. Roman Kreuziger e Jurgen Van Den Broeck cederam depois e perderam cinco e meio. Se o objetivo da Astana era garantir o pódio de Aru e atacar o terceiro posto de Amador com Landa, a estratégia da Astana foi a melhor, aproveitando todos os homens para aumentar as distâncias. Se o objetivo da Astana ainda era chegar à vitória, a sua estratégia foi tão disparatada quanto podia ser. A Astana teria que atacar muito mais cedo com Landa para obrigar Contador a perseguir ou dar tempo ao espanhol da Astana. Em vez disso, Landa atacou já muito próximo da meta, a uma distância que permitia a Contador contra-atacar para a vitória, algo que só não fez porque não quis.
Gilberto Simoni, que lá andava em 1999 e nunca foi um grande fã do politicamente correto, questionou no final Contador se tinha oferecido a etapa por superstição, ao que Contador optou por dizer que não entendia a pergunta e a apresentadora optou por não traduzir. De qualquer forma, vendo o último quilómetro e a forma como Contador deixou sair primeiro Trofimov e depois Landa, não resta dúvida que o Pistolero não quis vencer para evitar comparações com Il Pirata. Já basta a sua ambição de vencer Giro e Tour este ano, algo que ninguém consegue desde 98, precisamente Pantani.
Mikel Landa, depois de uma mononucleose no inverno, está no topo da sua carreira na primavera, vencendo a etapa de hoje. Porque, ainda que eu não o consiga explicar, quanto mais doente, melhor. O segundo lugar foi para um surpreendente Yury Trofimov. O terceiro para Alberto Contador, o homem mais forte e que aproveitou para ganhar mais uns segundos a Aru. E Aru quarto, defendendo o seu segundo posto, já que o primeiro parece inacessível. Nada mau para quem há poucas semanas estava tão doente que não pôde competir em Trentino, Liège e Romandia. Mas bom, este desporto está repleto de incríveis coincidências entre o histórico clínico e o rendimento desportivo. Quanto mais tenebroso o primeiro, melhor o segundo.
Faltam seis etapas por cumprir, quatro delas com montanha, e três com chegada ao alto, mas comprovando os piores receios manifestados na primeira semana, o Giro chega à última já entregue. Para Contador deixar escapar este Giro seria necessário um grande azar, e esperamos sempre que não haja, ou uma grande quebra, na qual não acredito.
Outros têm que dizer que a terceira semana promete muito, mas como não ganho nada com isto, permitam-me a sinceridade: a próxima semana desperta-me muito pouco interesse. Posso estar enganado e espero que assim seja, mas a vitória parece entregue, e no top-10 temos Amador, Landa, Trofimov, Visconti e Geniez. Sem querer tirar mérito a ninguém, metade dos ciclistas que estão no top-10 nunca terminaram anteriormente uma grande volta entre os dez melhores. Pode dar-se o caso do 10º terminar a 20 minutos da liderança.
Terça-feira haverá Mortirolo e Aprica, como em 1999 teve a etapa em que Pantani não pôde alinhar. A ver se Landa tenta algo de longe para deixar Contador isolado ou se a Astana volta a controlar a corrida para Contador. De qualquer forma, pode terminar o dia com Contador a decidir se vence ou se continua a oferecer etapas. Isto lembra-me outra história, de 1999, mas no Tour, no Alpe d'Huez. Contudo, não tem nada a ver. E acho que já vos contei.
*****
Classificação geral aqui.
Foi há 16 anos, e dizem que muita coisa mudou entretanto. Na altura, a Mercatone Uno de Marco Pantani, dirigida por Giuseppe Martinelli, iniciou a subida final com 7 ciclistas no primeiro grupo. Hoje, a Astana de Fabio Aru, dirigida por Giuseppe Martinelli, iniciou a subida final com 5 ciclistas no primeiro grupo. Bom, o grupo também era mais curto do que em 1999, e no que toca à proporção deverá ser idêntico. Apesar da ausência de Dario Cataldo pendurado na subida anterior, contavam com Fabio Aru, Mikel Landa, Tanel Kangert, Paolo Tiralongo e Diego Rosa. A Astana tem todos os ciclistas no pico das suas carreiras em simultâneo, num hino às performances coletivas. Mas dizem que muita coisa mudou entretanto.
A penúltima subida sentenciou a chance de Rigoberto Urán ou Dario Cataldo chegaram ao pódio, com 8 e 14 minutos cedidos hoje. Roman Kreuziger e Jurgen Van Den Broeck cederam depois e perderam cinco e meio. Se o objetivo da Astana era garantir o pódio de Aru e atacar o terceiro posto de Amador com Landa, a estratégia da Astana foi a melhor, aproveitando todos os homens para aumentar as distâncias. Se o objetivo da Astana ainda era chegar à vitória, a sua estratégia foi tão disparatada quanto podia ser. A Astana teria que atacar muito mais cedo com Landa para obrigar Contador a perseguir ou dar tempo ao espanhol da Astana. Em vez disso, Landa atacou já muito próximo da meta, a uma distância que permitia a Contador contra-atacar para a vitória, algo que só não fez porque não quis.
Gilberto Simoni, que lá andava em 1999 e nunca foi um grande fã do politicamente correto, questionou no final Contador se tinha oferecido a etapa por superstição, ao que Contador optou por dizer que não entendia a pergunta e a apresentadora optou por não traduzir. De qualquer forma, vendo o último quilómetro e a forma como Contador deixou sair primeiro Trofimov e depois Landa, não resta dúvida que o Pistolero não quis vencer para evitar comparações com Il Pirata. Já basta a sua ambição de vencer Giro e Tour este ano, algo que ninguém consegue desde 98, precisamente Pantani.
Mikel Landa, depois de uma mononucleose no inverno, está no topo da sua carreira na primavera, vencendo a etapa de hoje. Porque, ainda que eu não o consiga explicar, quanto mais doente, melhor. O segundo lugar foi para um surpreendente Yury Trofimov. O terceiro para Alberto Contador, o homem mais forte e que aproveitou para ganhar mais uns segundos a Aru. E Aru quarto, defendendo o seu segundo posto, já que o primeiro parece inacessível. Nada mau para quem há poucas semanas estava tão doente que não pôde competir em Trentino, Liège e Romandia. Mas bom, este desporto está repleto de incríveis coincidências entre o histórico clínico e o rendimento desportivo. Quanto mais tenebroso o primeiro, melhor o segundo.
Faltam seis etapas por cumprir, quatro delas com montanha, e três com chegada ao alto, mas comprovando os piores receios manifestados na primeira semana, o Giro chega à última já entregue. Para Contador deixar escapar este Giro seria necessário um grande azar, e esperamos sempre que não haja, ou uma grande quebra, na qual não acredito.
Outros têm que dizer que a terceira semana promete muito, mas como não ganho nada com isto, permitam-me a sinceridade: a próxima semana desperta-me muito pouco interesse. Posso estar enganado e espero que assim seja, mas a vitória parece entregue, e no top-10 temos Amador, Landa, Trofimov, Visconti e Geniez. Sem querer tirar mérito a ninguém, metade dos ciclistas que estão no top-10 nunca terminaram anteriormente uma grande volta entre os dez melhores. Pode dar-se o caso do 10º terminar a 20 minutos da liderança.
Terça-feira haverá Mortirolo e Aprica, como em 1999 teve a etapa em que Pantani não pôde alinhar. A ver se Landa tenta algo de longe para deixar Contador isolado ou se a Astana volta a controlar a corrida para Contador. De qualquer forma, pode terminar o dia com Contador a decidir se vence ou se continua a oferecer etapas. Isto lembra-me outra história, de 1999, mas no Tour, no Alpe d'Huez. Contudo, não tem nada a ver. E acho que já vos contei.
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Classificação geral aqui.
Tranquilo |
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