terça-feira, 18 de agosto de 2015

Vuelta 2015: Froome em busca da dobradinha

Froome, Quintana, Valverde, Nibali, Van Garderen. Muitos dos melhores voltistas do mundo voltam a medir forças na Vuelta, notando-se apenas a ausência de Contador, mas justificando-se facilmente pelas suas participações em Giro e Tour. A estes juntam-se Aru e Landa, Purito Rodríguez e Pozzovivo. Um pelotão de excelência para enriquecer uma prova com carências no que toca ao percurso. Aqui fica a antevisão aos favoritos para esta Vuelta, também uma desculpa para recuperar destas semanas de abstinência.

Num desporto tão físico como o ciclismo, o rendimento deveria depender quase exclusivamente de talento e de trabalho. E sendo o talento individual e o trabalho numa modalidade como o ciclismo também tão individualizado, torna-se complicado explicar as performances coletivas que temos assistido. Nos últimos meses, parece que o rendimento desportivo depende também do equipamento que cada corredor enverga. Há ciclistas que melhoram monstruosamente o seu rendimento com a mudança de equipamento e - espantem-se - toda a equipa acompanha.

Daí surge a dúvida-chave desta antevisão, quem será a equipa que se vai mostrar super-afinada nesta Vuelta. Outros pontos de interesses passam por saber que corredores estão a terminar contrato e quem está mais doente.

Primeiro foi Froome no Critérium du Dauphiné 2014, a utilizar o seu inalador antes de iniciar a última subida do dia, a qual viria a vencer. Depois Alberto Contador venceu a Vuelta 2014 saído do hospital. Já este ano, Contador venceu o Giro com o ombro duas vezes deslocado, Fabio Aru foi segundo depois de sofrer com um vírus muito grave (foi inclusive obrigado a falhar Romandia, Liège e Trentino) e Mikel Landa foi terceiro apenas alguns meses após uma mononucleose. No Tour, vitória para Chris Froome que no final revelou estar doente, com grande ajuda de Richie Porte, 10 dias a antibióticos. Diz-se muitas vezes que o ciclismo é o desporto mais duro de todos, mas ultimamente tem dado grandes vitórias a muita gente doente. É como se existisse uma forte relação entre os TUEs e as vitórias em grandes voltas. Sem saber quem tem TUEs e para quê, torna-se mais complicado este exercício de tentar antever a Vuelta. Mas vamos tentar.

Chris Froome

Froome procura somar o triunfo na Vuelta ao conquistado no mês passado em França, algo que nunca ninguém alcançou desde que em 95 a ronda espanhola passou da primavera para o final do verão. E pode Froome conseguir esse feito absolutamente histórico? Depois do que vimos no Tour, acredito que sim.
O ciclismo é o desporto mais bonito e espetacular de todos, mas tem os seus esqueletos no armário. Prova disso é que no Tour, quando aqui escrevi que a Sky se estava a poupar e a gerir, os ditos fãs da equipa e do seu líder ficaram muito indignados. Mas no final, Froome e os seus companheiros confessaram que apenas não atacaram em Plateau de Beille (dois dias depois de La Pierre-Saint-Martin) porque... não precisavam. E como se não bastasse, Froome assumiu que esteve doente na última semana (e Richie Porte diz que esteve a antibióticos nos últimos 10 dias de provas). Imagine-se o que Froome pode fazer saudável...
No apoio ao vencedor do Tour, a Sky terá Sergio Henao, que levou a etapa rainha e deu boas indicações na Volta à Polónia, Nicholas Roche, Geraint Thomas, Vasil Kiryienka e Mikel Nieve.

Nairo Quintana + Alejandro Valverde

A Movistar foi para o Tour com Quintana de líder e Valverde de Plano B, antecipando desde logo que o principal objetivo do espanhol era a Vuelta. Tal como escrevi antes do Tour, ainda que Quintana fosse teoricamente mais forte e por isso mais candidato do que Valverde, não faria sentido queimar o murciano antes do mesmo dar parte fraca. E foi essa a estratégia que a Movistar assumiu. Quintana foi o líder, teve (bom) apoio de Valverde, mas este teve liberdade para ir lutando pela sua posição enquanto fosse possível. E foi até final, saído o conjunto espanhol de Paris com dois lugares de pódio.
Para a Vuelta, o cenário é muito semelhante... mas talvez ao contrário. Valverde será na teoria o líder, porque planeou a sua temporada de modo a estar no topo de forma aqui, mas não valerá a pena queimar Quintana antes de Valverde demonstrar estar melhor. Por isso, nas primeiras chegadas em topos e topinhos da Vuelta, ambos tentarão estar o mais na frente possível, até que um quebre. E pode Valverde vencer a Vuelta? Também aqui, depois do que vimos no Tour, acredito que sim. 6 anos após a conquista da Vuelta (e sua única grande volta) e nove após Piti, Valverde obteve a sua melhor prestação de sempre no Tour. E se o pico de forma apenas está planeado para a próxima prova... tremei, tremei.

Vincenzo Nibali + Fabio Aru (e Mikel Landa)

Fabio Aru está destacado para a Volta à Espanha há vários meses e Vincenzo Nibali apenas depois de falhar em La Pierre-Saint-Martin (2015 pode para muitos dividir-se em "antes LPSM" e "pós-LPSM"). Mas no arranque da Vuelta, a liderança da Astana deverá estar dividida em partes iguais entre os dois, à espera de ver quem está melhor e assume a liderança definitiva da equipa que arrasou o Giro, teve dois corredores no pódio e só não venceu porque no ciclismo as equipas são importantes mas geralmente vence o melhor ciclista. E no Giro a Astana foi a melhor formação mas Contador foi o melhor individualmente.
Mikel Landa deverá ser "apenas" um equipier de luxo, uma vez que está de saída da formação do Cazaquistão. Até abril era um ciclista de 25 anos estagnado, com contrato a terminar e pouco interesse, mas saiu do Giro com o terceiro lugar na geral, duas vitórias de etapas e várias propostas superiores ao milhão de euros (diz-se que tem propostas de 1,5 milhões da Movista e da Sky). Valeu a pena o empenho.
A Astana conta ainda com Dario Cataldo, Diego Rosa, Luis León Sánchez e Paolo Tiralongo, que tanto estrago fizeram no Giro.

Tejay Van Garderen

Estando na sua melhor condição, Van Garderen será um dos favoritos ao triunfo na Vuelta, mas o seu estado de forma é uma enorme incógnita, não competindo desde o abandono no Tour de France.
Tentando ressarcir a BMC pelo abandono precoce no Tour, o norte-americano alterou o seu calendário e abdicou da participação no USA Pro Challenge, de onde saiu vencedor em 2013 e 2014. Até porque a sua equipa terá um importante reforço em 2016, no caso Richie Porte, e para defender o seu estatuto seria conveniente uma boa Vuelta de Van Garderen. Teremos que esperar pelos primeiros dias para ver em que condição se apresenta.

Outsiders

Aos 36 anos, Joaquim Rodríguez esteve muito distante do seu melhor no Tour. Venceu duas etapas, o que é excelente, mas foi incapaz de ombrear com os melhores na alta montanha e esta Vuelta será importante para perceber se ainda tem condições para lutar por um pódio de grande volta ou se Purito está na ponta.
Uma queda levou ao abandono muito precoce de Domenico Pozzovivo no Giro, mas um mês depois foi quinto na Volta à Suíça. Desde então, pouco tem competido, mas poderá ser um corredor a animar esta Vuelta.
A Cannondale leva a Espanha a mesma dupla de líderes do Tour, Dan MartinAndrew Talansky procurando fazer melhor do que em julho, onde muito lutaram por uma etapa mas sem sucesso. A Tinkoff será por liderada por Rafal Majka, não se fazendo representar por nenhum trepador que possa ajudar o polaco. No Tour venceu uma etapa mas esteve a um nível inferior ao demonstrado no ano transato, tanto no Tour como no Giro. Terá, propositadamente, descurado a preparação para a Volta a França (onde teria que trabalhar para Contador), para estar em topo de forma na Vuelta? Veremos, já a partir da próxima semana.

***** Froome
**** Quintana
*** Valverde e Nibali
** Aru e Van Garderen

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Código para a liga do Carro Vassoura  para a Vuelta no Velogames: 18094656.

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